Fugas - Vinhos

Boina, o primeiro vinho da Portugal Boutique Winery

Por Pedro Garcias

Chapéus há muitos, mas Boina, nos vinhos, só há um. É um vinho, como dizem os produtores, que “fica na cabeça”.

Por esta amostra, está-se mesmo a ver o potencial para trocadilhos do novo tinto do Douro que Nuno Aguiar (enólogo, ex-colaborador de Anselmo Mendes) e António Olazabal Ferreira (biólogo marinho em acelerada conversão para enólogo) acabam de lançar. Chama-se Boina, é de 2015 e tem uma estética muito apelativa.

Este é o primeiro de uma série de vinhos que a dupla começou a produzir no Douro e em Trás-os-Montes, no âmbito do projecto Portugal Boutique Winery. A marca Boina agrupa os vinhos sem madeira do Douro. Os vinhos durienses com barrica (usada, nesta fase) sairão com a marca Guyot. Neste caso, as uvas são provenientes da zona de Carrazeda de Ansiães, de solos maioritariamente graníticos. Os vinhos transmontanos, do planalto mirandês, irão chamar-se Goblet, que é o nome da formação típica das videiras naquela zona, também conhecida por Cabeça de Salgueiro.

Na zona de Miranda do Douro faz-se vinho desde finais do século I A.C., quando os gregos ensinaram o método às tribos celtas locais. No início da Idade Média, os vinhos desta região foram os primeiros a ser comercializados em todo o vale do Douro. A partir da segunda metade do século XVIII, com a instituição, pelo Marquês de Pombal, da Região Demarcada do Douro, as zonas limítrofes foram perdendo importância e entrando em declínio. Mas foi esse arcaísmo agrícola que permitiu a sobrevivência de vinhas velhas sem aramação, nas quais ainda é possível encontrar videiras centenárias com inúmeras castas diferentes, algumas muito pouco conhecidas. “É este o tesouro que queremos resgatar e dar a conhecer através dos vinhos elaborados na nossa pequena adega, vinhos distintos e tributários de um lugar único e especial”, prometem Nuno Aguiar e António Olazabal Ferreira.

Os primeiros Goblet, um branco, um tinto de vindima precoce, um tinto mais tardio e um palhete, são de 2016 e foram produzidas da forma mais artesanal possível numa adega tradicional de Vila Chã de Braciosa, no concelho de Miranda do Douro. O branco e o palhete vão chegar ao mercado ainda este ano, tal como o Boina branco, do Douro, feito com uvas do Douro Superior (Escalhão).

O Boina tinto junta uvas de vinhas velhas do Douro Superior e do Baixo Corgo de diferentes solos e altitudes e em que predominam as castas Touriga Franca, Tinta Amarela, Tinta Carvalha, Tinta Francisca e Sousão. O vinho fermentou (com 20% de engaço) e estagiou apenas em engaço. Seria de esperar um vinho aromaticamente exuberante, até pela sua juventude, mas no nariz até é pouco efusivo. Na boca também mostra contenção frutada. Não é, por isso, um tinto para conquistar de imediato os iniciados do vinho. Mas é um vinho muitíssimo gastronómico, sem amargos e verdes desagradáveis e com um fundo bastante fresco. Sem dar muito nas vistas, é um daqueles tintos que nos vão conquistando ao longo da refeição. Tem um PVP de 9,50 euros.

 

 

 

--%>