Um reinado que poucos têm conseguido beliscar na estratégia e, sobretudo, na qualidade dos vinhos do segmento superior da pirâmide hierárquica qualitativa. Tal como o Vinho do Porto ou o Vinho da Madeira não conseguem ser replicados em outros locais do mundo, também o champanhe não consegue ser reproduzido de forma fiel e transcendente noutros locais do planeta. Ou pelo menos foi isso que foi sendo evidenciado ao longo dos séculos de tentativas e erro de muitos produtores em dezenas de territórios espalhados pelo globo.
Até que, de forma surpreendente, parte de Inglaterra começou a desafiar o status quo, anunciando vinhos espumantes que ameaçam a ordem do mundo do vinho. Há dez ou quinze anos, esta afirmação seria inverosímil e pouco credível. Hoje é um facto real que poucos para além dos franceses continuam a disputar de forma acalorada. São em parte consequência do tão propalado aquecimento global do planeta, que aumentou as temperaturas médias da região, permitindo maturações mínimas que se adaptam bem às necessidades dos vinhos espumantes.
Por uma coincidência matreira da natureza, os solos são iguais aos de Champagne, o clima começa a assemelhar-se ao clima tradicional de Champagne, as castas são as mesmas, as técnicas também e o estilo final está cada vez mais próximo. Por ora ainda é cedo para afirmar com segurança que os espumantes ingleses poderão alguma vez estar no mesmo patamar qualitativo do modelo original francês, mas nunca a região tinha estado perante um desafio tão próximo e inesperado quanto o lançado por Inglaterra. Uma afronta que não será fácil digerir pelo orgulho pátrio francês.