Curiosamente, têm sido as regiões com mais história, mais anos e mais personalidade a conseguir defender a sua identidade de forma mais evidente, apostando mesmo nesse peso histórico como factor diferenciador e identificador. Entre outros bons exemplos, podemos mencionar a região da Toscana, em Itália, a região do Priorato, na Catalunha, ou a região de Mosel, na Alemanha. As regiões mais jovens e com menos percurso histórico, sobretudo aquelas situadas nos países do chamado novo mundo, sentem maiores dificuldades na manifestação de autenticidade e originalidade, cedendo aos caprichos de uma paisagem que em alguns momentos e lugares ficou quase convertida numa espécie de Disneyland para adultos.
Poderá até ser motivador para um grupo de visitantes menos formal, mas dificilmente poderá sobreviver ao passar do tempo e dificilmente poderá ser motivador para quem entende o enoturismo como um destino diferenciador, genuíno e capaz de perdurar no tempo. E convém não esquecer que, no mundo do vinho, tudo se mede em décadas numa análise do tempo que pouco tem a ver com o calendário definido pelo relógio.
Em Portugal, país tradicional e antigo mas sem grande tradição no enoturismo, percebe-se uma tensão para que os investimentos sejam cada vez mais ousados e menos consoantes com a realidade da região onde estão implantados. Por vezes são importados conceitos vindos de outras paragens que nada têm a ver com a nossa realidade e que têm pouco cabimento nas nossas tradições. É fundamental que o enoturismo não seja dissociado do quadro genérico da região e que as políticas de investimento tenham em conta esta evidência.
Quem já visitou Napa Valley, na Califórnia, não pode deixar de sentir um sentimento de estar a visitar algo engraçado e soberbamente organizado mas que parece ser feito de plástico, desenhado a régua e esquadro para satisfazer os caprichos dos urbanos, pensado até ao último pormenor para parecer legítimo e genuíno. Mas, no fundo, todos percebemos que não é. Quem já visitou Stellenbosch, na África do Sul, não pode deixar de regressar com um sentimento de alegria, de cumplicidade, de paixão e entusiasmo por tudo ser verdadeiro, real, sem fantasias mas com a simplicidade, autenticidade e sinceridade de quem não tem de fingir o que não é.