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A grandeza dos velhos tawnies provada nos Taylor’s com meio século

Por Manuel Carvalho e Pedro Garcias

A Taylor’s lançou a sua quarta edição de um Colheita com 50 anos. Como os seus antecessores, este Single Harvest de 1967 é um Porto magnífico. Para beber e celebrar um estilo de Porto cada vez mais na moda.

A Taylor’s, uma das grandes marcas do Porto Vintage, está cada vez mais seduzida pelos vinhos em tom de cobre. O Scion, uma das grandes descobertas do sector desde a filoxera, abriu uma porta que nos últimos anos se escancarou com o lançamento de quatro Colheita, cada qual com meio século de vida nos cascos das caves de Gaia. Numa área na qual a Taylor’s tem pouca tradição, o desafio era à partida de risco — os pergaminhos dos Vintage tinham de ser defendidos. Mas uma prova dos vinhos de 1964, 1965, 1966 e 1967 é garantia de que a aposta foi ganha: com as suas diferenças marcadas pelo ano de origem ou pelos caprichos da evolução, são todos e cada um à seu maneira vinhos de grande classe. O vinho do Porto tem aqui novos trunfos para sublinhar a grandeza dos Colheita.

A aposta da Taylor’s tem por base um conceito de marketing facilmente compreensível. Entre as suas mil e uma facetas, o vinho do Porto tem uma especial apetência para ser um vinho cerimonial — entre nós, é o vinho que se oferece a alguém especial, ou que se bebe em momentos especiais. E a empresa preocupou-se em explorar esse filão lançando vinhos com 50 anos. Sem criar uma nova categoria de vinho do Porto, a Taylor’s “inventou” uma nova data para o Porto Tawny. Já havia o Tawny datado de 10, 20, 30 e 40 anos e o Tawny Colheita, vinho de um só ano. Pegando nas duas categorias (em ambas, os vinhos envelhecem em cascos de carvalho), a empresa do grupo Fladgate Partnership decidiu começar a lançar todos os anos um Tawny Colheita com a idade redonda de 50 anos. A data que surge no rótulo é a do ano de produção. Assim, em 2014 lançou o 1964, em 2015 o 1965, em 2016 o 1966 e este ano o 1967. A ideia é ter todos os anos um vinho com 50 anos, ideal para prendas de aniversário ou, quem possa, para serem bebidos nos dias de aniversário. Cada um destes tawnies custam 280 euros.

A Taylor’s não é a única empresa a explorar a este tipo de filão: por exemplo, a Messias lançou em 2013 um extraordinário 1963 e a Sogevinus (das marcas Barros, Calém, Burmester…) também tem recorrido à mesma estratégia, para rentabilizar os seus vinhos velhos de (enorme) qualidade. A Taylor’s, por si só, jamais disporia de recursos nas suas caves para esta aventura. Mas a compra da Wiese & Krohn, em 2013, resolveu essa carência. “O meu pai [Bruce Guimaraens, que faleceu em 2002] já me dizia que a Krohn era a casa com os melhores stocks de vinhos velhos”, diz David Guimaraens, o enólogo do grupo Fladgate Partnership, que para lá da Taylor’s reúne a Croft e a Fonseca. Os 50 anos da Taylor’s “incorporaram” por isso alguns dos vinhos da Krohn para garantirem a sua qualidade.

Estes Colheita da Taylor’s não usam a designação portuguesa, mas a expressão inglesa “Single Harvest”. Uma vez que a maior parte da produção destes vinhos vai para os mercados externos, “era importante usar uma designação que pudesse ser mais facilmente percebida”, explica David Guimaraens. O resultado da experiência é positivo. “Estes vinhos têm sido muito bem recebidos no mercado e não afectaram as nossas vendas de tawnies com 30 ou 40 anos de idade”, sublinha o enólogo. Até porque, acrescenta, os consumidores do vinho do Porto das gamas superiores estão hoje menos concentrados no estilo Vintage e começam a descobrir a grandeza dos velhos Colheita ou Tawny.

No caso dos “Single Harvest”, ou, na designação original, dos Colheita, há um factor crucial para explicar o seu sucesso comercial: no vinho, a data conta. E no vinho do Porto conta ainda mais. Poucos vinhos do mundo têm um registo tão longo sobre a qualidade das vindimas e se apenas alguns privilegiados podem discutir os méritos do 1863 ou do 1912, é bem mais fácil dissertar sobre os méritos dos anos mais recentes. Para o sector, porém, nem todos os vinhos podem aspirar a este tipo de discussões. Os tawnies são regra geral vinhos de lote, em cuja composição entram vinhos jovens, vinhos de meia-idade e vinhos velhos ou muito velhos. E estes vinhos de lote são ainda a alma do vinho do Porto — representam a grande maioria da produção do sector.

Colocar no mercado vinhos com 50 anos era meio caminho andado para que os consumidores se sentissem atraídos. O resto, dependia da qualidade do vinho. Que é magnífica e mostra o extraordinário poder do vinho do Porto para conservar frescura e ganhar complexidade com a passagem do tempo.

 

Os vinhos

Taylor’s Single Harvest Port 1964 

Elegância e fineza puras. Muito limpo de aroma, ressuma a frutos secos, em especial amêndoa algo torrada, a iodo e também a casca de laranja, que dá ao vinho um agradável toque agridoce. Não é um portento de concentração, mas também não tinha acidez suficiente para mais doçura. É um Tawny mais fino e mais seco (ou menos doce), fazendo lembrar alguns Porto branco, e que impressiona pela sua textura aveludada e pelo seu sabor refinado.
Nota: 95

 

Taylor’s Single Harvest Port 1965

Um vinho cheio de carácter e muito impressivo, que atrai logo no aroma, bastante picante e especiado. Possui grande espessura e profundidade. Está povoado de notas tostadas e de outras igualmente quentes tipo café e tabaco, mas o que sobressai é a sua extraordinária frescura, a sua vivacidade e intensidade gustativa. Magnífico.
Nota: 97

 

Taylor’s Single Harvest Port 1966 

O mais concentrado e doce dos quatros. É também o que tem mais acidez, embora não pareça. Está mais melado e tufado. É essência engarrafada que, depois de libertada, deixa um perfume intenso e agradabilíssmo no ar. Não é tão vivo e explosivo como o 1995, mas tem uma enorme riqueza.
Nota: 96

 

Taylor’s Single Harvest Port 1967

Ao primeiro gole, parece um avatar do 1966, tanto na cor como na concentração. Mas é de outra estirpe. Junta o melhor do 1965 e do 1966. Tem a densidade e a riqueza do segundo e a tensão e a vivacidade do primeiro. Está lá tudo o que se espera encontrar num Tawny velho: aromas e sabores químicos de evolução, tipo iodo, madeiras nobres, verniz, cola (esta nota mais ligada a um nível de acidez volátil elevado, que provoca o famoso vinagrinho), tufados e sugestões de frutos secos, doçura especiada, potência, volúpia, fogosidade e explosão gustativa. Há vários tipos de Porto e todos são bons, mas são os Tawny os que melhor representam a verdadeira essência dos vinhos fortificados do Douro (incluindo a particularidade de envelhecerem na fresquidão granítica de Gaia). E é em vinhos como este 1967 que se vê a excepcionalidade do grande vinho fortificado português.
Nota: 98

 

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