A Taylor’s, uma das grandes marcas do Porto Vintage, está cada vez mais seduzida pelos vinhos em tom de cobre. O Scion, uma das grandes descobertas do sector desde a filoxera, abriu uma porta que nos últimos anos se escancarou com o lançamento de quatro Colheita, cada qual com meio século de vida nos cascos das caves de Gaia. Numa área na qual a Taylor’s tem pouca tradição, o desafio era à partida de risco — os pergaminhos dos Vintage tinham de ser defendidos. Mas uma prova dos vinhos de 1964, 1965, 1966 e 1967 é garantia de que a aposta foi ganha: com as suas diferenças marcadas pelo ano de origem ou pelos caprichos da evolução, são todos e cada um à seu maneira vinhos de grande classe. O vinho do Porto tem aqui novos trunfos para sublinhar a grandeza dos Colheita.
A aposta da Taylor’s tem por base um conceito de marketing facilmente compreensível. Entre as suas mil e uma facetas, o vinho do Porto tem uma especial apetência para ser um vinho cerimonial — entre nós, é o vinho que se oferece a alguém especial, ou que se bebe em momentos especiais. E a empresa preocupou-se em explorar esse filão lançando vinhos com 50 anos. Sem criar uma nova categoria de vinho do Porto, a Taylor’s “inventou” uma nova data para o Porto Tawny. Já havia o Tawny datado de 10, 20, 30 e 40 anos e o Tawny Colheita, vinho de um só ano. Pegando nas duas categorias (em ambas, os vinhos envelhecem em cascos de carvalho), a empresa do grupo Fladgate Partnership decidiu começar a lançar todos os anos um Tawny Colheita com a idade redonda de 50 anos. A data que surge no rótulo é a do ano de produção. Assim, em 2014 lançou o 1964, em 2015 o 1965, em 2016 o 1966 e este ano o 1967. A ideia é ter todos os anos um vinho com 50 anos, ideal para prendas de aniversário ou, quem possa, para serem bebidos nos dias de aniversário. Cada um destes tawnies custam 280 euros.
A Taylor’s não é a única empresa a explorar a este tipo de filão: por exemplo, a Messias lançou em 2013 um extraordinário 1963 e a Sogevinus (das marcas Barros, Calém, Burmester…) também tem recorrido à mesma estratégia, para rentabilizar os seus vinhos velhos de (enorme) qualidade. A Taylor’s, por si só, jamais disporia de recursos nas suas caves para esta aventura. Mas a compra da Wiese & Krohn, em 2013, resolveu essa carência. “O meu pai [Bruce Guimaraens, que faleceu em 2002] já me dizia que a Krohn era a casa com os melhores stocks de vinhos velhos”, diz David Guimaraens, o enólogo do grupo Fladgate Partnership, que para lá da Taylor’s reúne a Croft e a Fonseca. Os 50 anos da Taylor’s “incorporaram” por isso alguns dos vinhos da Krohn para garantirem a sua qualidade.
Estes Colheita da Taylor’s não usam a designação portuguesa, mas a expressão inglesa “Single Harvest”. Uma vez que a maior parte da produção destes vinhos vai para os mercados externos, “era importante usar uma designação que pudesse ser mais facilmente percebida”, explica David Guimaraens. O resultado da experiência é positivo. “Estes vinhos têm sido muito bem recebidos no mercado e não afectaram as nossas vendas de tawnies com 30 ou 40 anos de idade”, sublinha o enólogo. Até porque, acrescenta, os consumidores do vinho do Porto das gamas superiores estão hoje menos concentrados no estilo Vintage e começam a descobrir a grandeza dos velhos Colheita ou Tawny.