Fugas - Vinhos

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Quando a Alemanha não é racional

Embora muitos acreditem que os rótulos alemães são precisos na nomenclatura das vinhas poucos, muito poucos, conseguem realmente depreender as diferenças entre Grosslagen e Einzellagen. Como o sistema foi mantido na íntegra, mesmo depois da revisão de leis de 1994, será fácil deduzir que existe um interesse real em manter o sistema confuso e passível de indisciplina quanto às nomenclaturas de qualidade.

Para cúmulo, a descrição, sistematização e rotulagem dos nomes dos vinhos secos é particularmente nebulosa e insidiosa. Se um vinho se inscrever nas categorias Kabinett, Spätlese ou Auslese então o vinho será claramente doce, excepto se no rótulo constar a designação trocken, caso em que o vinho passará automaticamente a seco. Porém, mesmo que no rótulo surjam as palavras trocken, ou halbtrocken, os vinhos poderão não ser realmente secos. Para a maioria dos seres humanos, a constatação de doçura começa com um grau de 4 gramas por litro de açúcar mas a nossa percepção de doçura depende em grande parte do grau de acidez. Níveis de acidez elevada enganam as nossas papilas gustativas, levando-nos a assumir uma secura que poderá não ter correspondência directa com a realidade. Por isso, muitos vinhos secos alemães elevam a doçura até aos 9 gramas de açúcar, enquanto os vinhos halbtrocken se podem esticar até às 18 gramas de açúcar, valores que em qualquer outro país do mundo estariam já incluídas nos vinhos doces.

Nenhuma destas considerações pretende desvalorizar os vinhos alemães de qualidade, até porque muitos deles se encontram entre os melhores do mundo. Mas não deixa de ser uma ironia que um país tão rígido e coerente como a Alemanha se deixe enredar numa das regulações vínicas mais estranhas, confusas e propositadamente pouco claras da Europa.

 

 

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