Para acabar a ronda dos vintage, veio o Dow’s de 1945. O ano que marca o final da II Guerra é icónico para o sector. No seu 72.º ano de vida, este Dow’s está aí para o provar. Absolutamente admirável no aroma, com notas balsâmicas, mentoladas, e sugestões de esteva, tabaco e café. Na boca, está ainda cheio de volume e vigor, com estrutura para durar muitas mais décadas. O seu final de boca é sublime, com a doçura da fruta original a temperar-se com uma rugosidade fresca de tanino e acidez, que persiste na boca. Memorável.
No segundo capítulo da sessão, os Colheita, todos com a marca Graham’s. O desafio era imenso, depois da série de vintage magníficos que tinham estado em prova. Não desiludiram. Pelo contrário. A nova geração dos Graham’s seleccionada pelo enólogo Charles Symington é muito boa. O 1994, que está para chegar ao mercado, é de uma frescura notável. O 1982 distingue-se por uma original nota de açúcar torrado no aroma. E o Colheita de 1972 confirma-se como um dos grandes colheitas no mercado. O ano de 1963 mereceu uma repetição. Depois do vintage, este vinho mostra o outro lado dos atributos do 1972. Em vez da intensidade, o que destaca este vinho é a delicadeza e a harmonia. Pura classe para os sentidos.
Uma boa introdução para o que vinha a seguir: o único blend da prova, o 90 anos — categoria que não existe no vinho do Porto e que resulta de uma autorização especial para a comemoração dos 90 anos da rainha Isabel. No lote, entraram vinhos de 1912, de 1924 e 1935. O resultado deixa dúvidas aos que fazem a apologia dos vinhos de uma única vindima — caso dos colheita ou dos vintage. Porque este vinho é muito melhor que a soma das partes.
Para acabar, o Ne Oublie, uma espécie de homenagem dos Symington ao seu bisavô. É difícil de descrever o que o tempo pode fazer a um vinho. Os seus aromas e sabores não têm paralelo em tudo aquilo que um ser humano normal pode cheirar ou saborear. Percebemos um vestígio de vinagrinho da idade, notas de casca de laranja cristalizada no aroma, e podemos aproximar-nos dos seus segredos pela complexidade, pela volúpia, pela intensidade, pela duração na boca. Mas um vinho assim, as sensações que provoca, remetem-nos para a dimensão do mistério. Como notou Paul Symington, “o vinho é muito mais do que está no copo”.