Fugas - Vinhos

Paulo Ricca

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Identidade e convicção

Sim, nem todos estão dispostos a pagar pela qualidade ou pela identidade. Mas como país produtor só nos podemos valorizar precisamente por essa diferença que nos separa de um mar de vinho indistinto e padronizado que tantos países conseguem colocar com maior consistência qualitativa e a preços muito mais sociais que o que os produtores portugueses conseguem. A identidade é a forma mais fácil de valorizar a imagem dos vinhos nacionais. Mas, mais importante ainda, é a forma de fazer entender os vinhos portugueses fora de fronteiras.

Até muito recentemente, os produtores portugueses, de resto tal como as entidades encarregadas da promoção dos vinhos lusitanos, eram dos poucos a promover-se de forma activa através das palavras tradição, diferença, originalidade. Mais que as palavras, eram dos poucos em que essa mensagem aparecia sustentada pelos factos. Infelizmente, esses mesmos factos começam agora a escassear, diluindo a autenticidade e o valor efectivo da mensagem.

A modernidade convencional ou a adopção de padrões internacionais não devem ser abraçados simplesmente por uma questão de comodidade. A originalidade pode ser um fardo pesado, porque infelizmente obriga a aplicar recursos para explicar o que é diferente. Mas os benefícios a médio e longo prazo são muito mais frutuosos que meras campanhas imediatistas que nos queiram equiparar aos restantes países produtores.

Por outras palavras, vale a pensa insistir na mensagem de autenticidade e singularidade que temos adoptado. Mas depois é obrigatório que os produtores não se esqueçam de aplicar estes critérios na prática e que o país não abdique da sua identidade e das suas tradições.

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