A recuperação para a Vidigueira, o Alentejo e o país da Tinta Grossa é, de resto, um dos seus grandes méritos. Se a casta existiu, é porque chegou a ter uma utilidade (produz bastante). Se foi desaparecendo, também haverá uma razão (é um bocado difícil na vinha e, por ser muita produtiva, os vinhos que originava eram pouco interessantes). Mas quase todas as castas têm os seus caprichos. A Touriga Nacional, por exemplo, é uma dor de cabeça para os viticultores.
Paulo Laureano percebeu que, mesmo sendo difícil, a Tinta Grossa pode dar vinhos muitos interessantes e diferentes, se for bem trabalhada. O seu Selectio, o único tinto estreme desta variedade, está aí para o provar. Só pelo trabalho que tem feito com a Tinta Grossa, Paulo Laureano já seria merecedor dos maiores elogios.
Três vinhos de autor
Selectio Tinta Grossa 2013
Tinto de aroma distinto e limpo, cheio de sugestões de frutos escuros do bosque bem maduros, de madeiras exóticas e alguma especiaria. Na boca, revela duas faces: começa elegante e jovial e termina cheio de vigor tânico (taninos marcantes mas não secos, o que é bom). Sendo um vinho de 14,5% de álcool, não tem nada de maçudo. A acidez está bem equilibrada e o facto de as barricas em que o vinho estagiou serem usadas não o deixou marcado pela madeira. Um belo vinho. 23€. 92 pontos
Maria Teresa Laureano Verdelho 2015
Não é muito efusivo de aroma (uma característica da casta Verdelho, similar, nessa neutralidade, ao Encruzado), mas revela uma magnífica expressão mineral que o aproxima dos seus avatares atlânticos. Sem ser tão salino, claro (falta-lhe o mar), possui uma frescura salivante, que aviva muito bem o lado maduro da fruta, deixando uma impressão muito ampla e longa no palato e na memória. 12€. 91 Pontos
Vinhas velhas Tinto 2015
Paulo Laureano tem outros vinhos de vinhas velhas mais caros e mais complexos. Mas o que distingue este tinto é a sua magnífica relação qualidade/preço. Lote de Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, de uvas proveniente da Vinea Julieta, a melhor e mais velha vinha da propiedade da Vidigueira, impressiona pela sua jovialidade e elegância. É um tinto cheio de frescura e sapidez e perigosamente guloso. Muito bom. 8€. 90 pontos