Fugas - Vinhos

REUTERS/Pablo Sanchez

De Espanha, nem bom vento, nem bom exemplo

Por Pedro Garcias

No passado mês de Março, em Madrid, Pedro Ballesteros, o único master of wine espanhol, deu uma masterclass sobre a “Ruta de La Plata” aos jurados do concurso internacional de vinhos Bachus, alguns igualmente masters of wine. A rota cruza a Espanha vinícola de sul a norte, passando pelas principais regiões demarcadas.

Pedro começou pelo sul, com dois vinhos da serra Norte de Sevilha, um de Merlot e outro de Cabernet Franc, Tempranilho, Merlot e Syrah. Apresentou de seguida três vinhos da Extremadura, um de Petit Verdot e Malbec, outro de Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Petit Verdot e um terceiro de Trincadeira e Touriga Nacional (sim, castas portuguesas); mostrou depois um tinto de Ribera del Guadiana, lote de Garnacha Tintorera (o “nosso” Alicante Bouschet), Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon e Graciano (a “nossa” Tinta Miúda); continuou com um vinho da Sierra de Salamanca, um tinto orgânico de Rufete; e prosseguiu com um tinto estreme de Juan Garcia, proveniente de Ribera de Pelazas (também na região de Castela e Leão), antes de se demorar um pouco mais com quatro vinhos de Toro, todos de Tinta de Toro, a designação local para Tempranillo.

Da denominação Tierra del Vino de Zamora deu a conhecer mais um Tempranillo; da Tierra de León apresentou dois tintos de Prieto Picudo (magnífico o Pardevalles); e do Bierzo mostrou um branco de Godello (o fantástico Mauro, de Mariano Garcia) e dois tintos de Mencia. Para terminar, escolheu dois vinhos de Cangas, nas Astúrias, ambos de castas locais muito interessantes, um Albarín Branco e um Albarín Tinto.

Pedro Ballesteros considera Espanha a “Silicon Valley” do vinho, graças à “criatividade da indústria e à sua aposta na inovação”. Mas quem seguiu a sua viagem o que viu foi um país um pouco à deriva, “afrancesado” e sem graça no sul, tradicional e com alma no Norte. Soa-nos familiar? Sim. Em Portugal, bairrismos à parte, é quase a mesma coisa. Ou mesmo pior. Com tanta casta nacional, continuamos, sobretudo no Sul, a plantar Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir, Viognier e diabo a quatro. Nunca iremos fazer tintos de Syrah tão bons como os do Ródano, nem de Cabernet ao nível dos grandes Bordéus. Mas os franceses também nunca conseguirão fazer um Tinta Grossa, um Castelão, um Alfrocheiro ou um Touriga Nacional tão bons como os nossos. As imitações são sempre um meio caminho para a desgraça. Não nos podemos rir de Espanha.

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