Fugas - Vinhos

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A nova vida da histórica e panorâmica Quinta dos Lagares

Por Pedro Garcias

Chegar ao nível dos seus vizinhos Jorge Serôdio Borges, Dirk Niepoort ou Quinta do Passadouro é o grande desafio da Quinta dos Lagares. Uma propriedade histórica do vale do Pinhão que só agora está a lançar os seus melhores vinhos.

Quando se sai dos limites do planalto de Favaios e se encara com o vale do rio Pinhão, na sub-região do Cima Corgo, parece que se cruzou uma fronteira qualquer. Num ápice, a terra abre-se num precipício amplo, deixando à vista uma das mais belas panorâmicas do Douro, um imenso e geométrico reticulado de vinhas subindo nas duas encostas e pequenas povoações penduradas na linha do horizonte. É uma paisagem impressionante que mostra bem o carácter montanhoso da região e a sua diversidade. Em menos de dez quilómetros, descemos dos 600 metros aos 100 metros de altitude, passamos da terra do Moscatel para o vale dos grandes tintos do Douro: é ali, na freguesia de Vale Mendiz, que se situam as vinhas de onde saem o Pintas, o Quinta da Manoella, o Passadouro, o Charme, o Noval, entre outros.

Pairando sobre todas essas vinhas, a Quinta dos Lagares é uma espécie de torre de vigia do vale, o seu melhor miradouro. Com os seus 70 hectares ( 27 hectares de vinha, uma parte dos quais com mais de 70 anos, 12 de olival e 31 de floresta), estende-se desde a extremidade sul do planalto de Favaios até junto das quintas do Passadouro e do Fojo, a caminho do rio Pinhão. Já constava da primeira demarcação pombalina, na segunda metade do século XVIII, como o atesta a presença do marco 86 na propriedade (a quinta está classificada quase integralmente com a letra A, a mais alta para a produção de vinho do Porto). Chegou à posse da família Lencart, a actual proprietária, em 1920. Mas, apesar de todo o potencial e historial, os vinhos da Quinta dos Lagares ainda não se podem equiparar em qualidade e notoriedade aos dos seu vizinhos mais ilustres.

Não seria fácil, na verdade. Com marca própria, os vinhos da Quinta dos Lagares só começaram a ser produzidos em 2011, cinco anos depois de o casal Pedro Lencart e Isabel Sarmento ter arrendado a quinta à família. A prioridade inicial foi para a recuperação de algumas vinhas e para a renovação e modernização da adega tradicional (com lagares de granito) existente no rés-do-chão da casa principal, um edifício do século XVIII. O momento de viragem pode ter acontecido na colheita de 2014, com o novo Quinta dos Lagares VV44, um tinto feito de forma tradicional, com pisa a pé, a partir da vinha mais velha da quinta, plantada em 1944. Em relação aos primeiros vinhos, o VV44 representa um salto qualitativo enorme. Ainda não tem a dimensão do Pintas, do Quinta do Fojo ou do Quinta do Passadouro, e muito menos do Quinta da Manoella, mas já anda lá perto. É um Douro ainda novo, embora com uma riqueza e uma profundidade assinaláveis. Tal como os anteriores, vai necessitar do tribunal do tempo para se poder afirmar entre os melhores. Talvez precise de um trabalho enológico ainda mais refinado e de um melhor critério na selecção das melhores parcelas. Porém, já revela um enorme potencial. Para chegar a ser realmente um grande vinho, é só uma questão de tempo e paciência. Uma marca forte e reputada não se faz de um ano para outro. 

Os vinhos

Quinta dos Lagares Rosé Mourisco 2015
Este rosado surgiu por uma necessidade, o que nem sempre é bom princípio. Algumas das vinhas velhas destinadas aos DOC Douro têm uma quantidade assinalável de Mourisco, casta magnífica como uva de mesa mas com pouco valor enológico. A solução era reenxertar essas videiras ou fazer um vinho autónomo com essas uvas. A opção recaiu na segunda hipótese e foi assim que surgiu o Rosé Mourisco, um verdadeiro achado. Pouco frutado, surpreende pela sua originalidade e frescura e pelo seu carácter levemente reduzido, induzido pelo trabalho de batimento das borras. Merece ser conhecido. 6,70€.
Nota: 86 pontos

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