Fugas - Vinhos

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Entrevista a Ricardo Diogo: “Hoje, a casta Boal é a menos interessante para mim”

Por Pedro Garcias

Ricardo Diogo é o administrador-enólogo da Barbeito, a companhia que está rejuvenescer a imagem dos vinhos Madeira. Entrevistámo-lo no Douro, a terra do vinho do Porto.

O que é que um homem do vinho Madeira bebe?

No meu caso, bebe mais vinhos tintos do que vinho Madeira. Douro, Dão, mas o Douro é a minha praia.

E vinho do Porto também bebe?

Sim, claro. Quando andava na faculdade, em Lisboa, começávamos quase sempre as noites de sábado com uma visitinha ao solar do vinho do Porto. Enquanto estudante, bebi mais Porto do que Madeira.

No Natal tem só Madeira ou bebe também outros fortificados?

No almoço de Natal levo sempre uma garrafa de vinho Madeira e outra de vinho do Porto. No ano passado levei o Barbeito Mãe Manuela e um Quinta do Passadouro Porto Vintage 1997, que estava espectacular. Foi uma das garrafas que recuperei dos temporais de 2010 [que destruíram a garrafeira da família, a Diogos, no centro do Funchal]

Faz sentido dizer “gosto mais de Madeira “ ou “gosto mais de Porto”?

Não acho piada nenhuma. São vinhos completamente diferentes e cada um tem a sua ocasião. Quem gosta de licorosos, aprecia tão bem um como o outro. Sempre tive essa abertura. Em certas ocasiões, sei que o vinho do Porto vai ser melhor do que um Madeira. E vice-versa.

Qual foi o vinho Madeira mais velho que já bebeu?

Foi um Terrantez de 1795, um vinho que a minha mãe tinha.

E foi o melhor?

Não. O melhor que já bebi, se falarmos por castas, foi um Terrantez Acciaoly 1802 [cada garrafa, se ainda existirem, custa mais de cinco mil euros]; depois um Malvasia Quinta do Serrado 1830, simplesmente fabuloso. De Boal, foi um outro Acciaoly, de 1837; de Verdelho, não me lembro de nenhuma que me tenha enchido as medidas; e de Sercial foi um 1870, dos Vasconcelos, que era maravilhoso.

Qual o estilo Madeira que mais gosta?

Inicialmente, era o Boal. Mas a cabeça muda e a forma de fazer o vinho também. Hoje, é a casta menos interessante para mim. As que mais gostam são a Sercial e a Verdelho. A Verdelho dá vinhos espectaculares. 

E a Terrantez?

Há pouco. Toda a gente do vinho Madeira está tão concentrada na Terrantez que, em 2007, resolvi começar trabalhar a Bastardo, uma casta que estava completamente extinta na Madeira. Comecei a trabalhá-la com um viticultor, o actual presidente da Câmara de Santana. Quase não tenho Terrantez, mas já tenho 15 mil litros de Bastardo e em breve espero mostrar algum. Acho que vai ser um vinho fora da caixa. Tenho uns 300 e tal litros de Bastardo velhos e posso fazer uns lotes interessantes.

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