Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
  • Sérgio Azenha

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As duplas de castas que fazem os melhores brancos portugueses

Outra grande dupla de castas brancas tem raiz no Dão e é formada pela  Encruzado e pela Malvasia Fina. Em tempos, a Uva Cão também chegou a ser relevante no prestígio dos vinhos brancos do Dão. A longevidade dos lendários brancos do Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas está seguramente relacionada com a grande acidez natural desta variedade, que volta a ser cobiçada, tal como a Barcelo, uma variedade quase só confinada ao Dão. Mas a Encruzado foi e continua a ser a casta mais completa, pecando apenas (ou não, depende dos gostos) pela sua relativa neutralidade aromática. A junção da Malvasia Fina, casta muita floral, ajuda a suprir essa lacuna, o que explica o sucesso desta associação. Mas, à semelhança da Alvarinho, a Encruzado também caminha cada vez mais sozinha. Em contrapartida, a Malvasia Fina- bem como a Cerceal e a Bical - não vive sem a Encruzado. Sem ela, perde toda a graça e brilho.

No Alentejo, a Antão Vaz e a Roupeiro (corresponde à Síria da Beira e à Códega do Douro) são o tandem dos brancos. A segunda continua a ser a casta mais plantada; a primeira é a que faz os melhores vinhos, em especial no seu berço e terroir, a Vidigueira. Actualmente, andam um pouco divorciadas. A Antão Vaz é uma espécie de Viognier do Alentejo. Origina vinhos gordos, estruturados e com aromas tropicais muito apelativos, embora algo escassos de acidez. Acontece que a Roupeiro também padece do mesmo mal. A seu favor só tem mesmo o facto de ser muito produtiva. Como a frescura natural é um elemento crítico dos vinhos brancos, os produtores alentejanos têm preterido a Roupeiro em favor de castas com maior acidez natural. Uma delas é a Arinto, outras são a Alvarinho e a Gouveio (rotulada muitas vezes como Verdelho).

A Arinto é uma extraordinária casta adjuvante, pela sua belíssima acidez cítrica. Rainha em Bucelas, a sua popularidade estende-se hoje a todo o país, sendo apreciada especialmente nas regiões de clima quente, como o Douro, por exemplo, onde a acidez é mais crítica. Mesmo assim,  ainda está longe de ter nesta região a popularidade da Gouveio e da Viosinho, a dupla dominante. Ambas de bago pequenos (as uvas de bagos pequenos dão sempre os melhores vinhos), completam-se muito bem: a Viosinho dá madureza e a Gouveio contribui com vigor ácido.

Mas, são poucos os brancos do Douro feitos apenas com estas duas castas. Em regra, juntam mais variedades, na boa tradição do lote herdada do vinho do Porto. Juntam, por exemplo, Malvasia Fina, Códega do Larinho, Arinto e, cada vez mais, Rabigato, uma casta em alta, sobretudo no Douro Superior, onde já começa a ter vida própria. E há ainda a Moscatel do Douro, tradicional da zona de Favaios  e muito apreciada para apimentar brancos joviais e de volume e, mais recentemente, também para fazer vinhos secos estremes.

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