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Borgonha, uma viagem pela Terra Prometida do Chardonnay e do Pinot Noir

Por Pedro Garcias

A Borgonha pode não ser a região mais bonita do mundo, mas nenhuma outra produz vinhos tão caros e disputados. Quem gosta mesmo de vinho, não pode morrer sem conhecer as suas aldeias medievais e os seus vinhedos míticos, como La Romanée-Conti (Pinot Noir) e Le Montrachet (Chardonnay).

Fevereiro. Três dias pela Borgonha, sem roteiro, nem visitas marcadas, apenas movidos pela vontade de sentir o pulsar de uma das mais extraordinárias regiões vitícolas do mundo, de conhecer as vinhas que fazem a lenda, as aldeias que transportam nomes de vinhos famosos, de pisar o solo que hierarquiza um grand cru, um premiere cru ou um village. Uma viagem fora de época, com as videiras ainda hibernadas e os vinhos da última colheita ainda imberbes, mas sem muitos turistas e só com uns quantos produtores a ultimar as podas e a fazer as primeiras lavras. Fazia frio e apenas uns pequenos rolos de fumo das braseiras que os podadores arrastam consigo desmentiam a ideia de uma paisagem petrificada, em descanso tão etéreo como os grandes tintos e brancos que ali nascem.

Beaune. Começámos em Beaune, a capital do vinho da Borgonha, belíssima cidadezinha medieval, com os seus típicos coruchéus a encimarem telhados muito inclinados, ruas estreias e esguias e um sem número de bares, restaurantes e garrafeiras a tentarem-nos a cada esquina. A grande Borgonha engloba a Côte Chalonnaise, Mâconnais, Chablis e Côte d`Or. Beaune situa-se mais ou menos no centro da Côte d`Or, a encosta mais cobiçada, cara e distinta da região.

Traduzida à letra, Côte d`Or seria “Encosta d`Ouro”. Na verdade, é apenas uma abreviatura de Côte d`Orient. Trata-se, portanto da encosta oriental da Borgonha, uma faixa com cerca de 60 quilómetros de comprimento e um a dois quilómetros de largura, no máximo. A Côte d`Or divide-se, por sua vez, em duas encostas: uma, a sul, a Côte de Baune, que engloba os lugares sagrados dos grandes brancos de Chardonnay da Borgonha (Corton-Charlemagne, Mersault, Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet); e a outra, a norte, a Côte de Nuits, onde se situam as terras dos melhores tintos da região (Nuits-St.Georges, Vosne Romanée, Vougeot, Chambole-Musigny, Gevrey-Chambertim), a terra prometida do Pinot Noir.

A região dos terroirs

Fica tudo muito perto e bem delimitado e em dois dias é possível formar uma ideia geral da Côte d`Or, da sua orografia (uma cadeia de montes calcários que se vão derramando suavemente numa imensa planície), das vinhas muito retalhadas e muradas, das aldeias e vilas que parecem saídas da Idade Média. Mas perceber as nuances que distinguem umas vinhas das outras, compreender o sistema de classificação dos vinhos e saber o que vale mesmo a pena beber já é muito mais difícil. “Borgonha, pequena região irritante, cara e complicada, que ocasionalmente oferece o paraíso numa garrafa”, sintetizou Jancis Robinson, a crítica de vinhos inglesa. Em apenas 60 quilómetros da Côte d`Or, existem cerca de de 60 apellations e mais de 1000 terroirs diferentes e reconhecidos desde há muito tempo, os climats, como lhes chamam na Borgonha, hoje consagrados Património Mundial. Um climat é uma parcela de qualidade superior, normalmente pequena, que carrega um nome e uma história seculares e com características particulares (subsolo, solo, altitude, exposição, influência dos ventos, do gelo, do sol, das águas, etc.) que a distinguem das outras.

Pensemos no Douro. A região estende-se ao longo de 250 quilómetros e toda ela é considerada uma única denominação para os vinhos DOC, não havendo, na hora de os classificar e aprovar, nenhuma discriminação entre as vinhas. O vinho melhor classificado do Douro pode vir de uma vinha qualquer. Na Borgonha, a vinha é uma imensa manta de retalhos, mas está tudo estudado e definido ao pormenor, um trabalho de minúcia iniciado há mais de mil anos pelos monges de Cister e de Cluny, os verdadeiros criadores do conceito de terroir.

Do intrincado puzzle de denominações existentes, as designações mais básicas, como Bourgogne, Bourgogne Aligoté, Bourgogne Passe-toute-grains e Bourgogne Grand Ordinaire, por exemplo, são mesmo vulgares. Não perca tempo com elas. Num patamar mais acima surgem os vinhos Village, cuja apellation corresponde à comuna onde são produzidos. São vinhos de boa qualidade e com um preço acessível. Alguns são mesmo muito bons. Nos níveis superiores situam-se o premier cru e o grand cru.
Todos os locais com potencial para produzir vinhos de qualidade superior (vinhas bem expostas, com bons solos e boa drenagem) estão classificados como premier cru desde o final do século XIX. Destes, 37 foram definidos como grand cru, por serem os melhores de entre os melhores (sete em Chablis e 30 em Côte d`Or). Dos cerca de 10 mil hectares da Côte d`Or (a grande Borgonha tem cerca de 29 mil hectares), 2090 hectares são premier cru e 450 hectares grand cru. É destes grands crus que saem os vinhos mais caros do mundo, como os lendários Domaine Leflaive (branco), na Côte de Beaune, e o Domaine Romanée-Conti (tinto), na Côte de Nuits.

Romanée-Conti, a vinha das vinhas

Por onde começar? É a pergunta que devem fazer todos os visitantes sem roteiro quando chegam à Borgonha. No caso, foi fácil: primeira noite em Beaune e no dia seguinte a correr manhã cedo para Vosne Romanée, em direcção à La Romanée-Conti, 1,814 hectares apenas, a vinha das vinhas, o nome que faz todos os amantes do vinho suspirar. De Beaune a Vosne são 18 quilómetros, seguindo a “Route des Grands Crus”, uma via panorâmica que passa pelas principais aldeias e vinhas da Côte d`Or. A sucessão de vinhedos famosos é de tal modo avassaladora que é impossível resistir à tentação de saltar muros, de percorrer alguns bardos, de fotografar os pórticos de calcário com os nomes dos domaines, de tirar uma selfie para poder dizer “eu já estive aqui”.

Vosne-Romanée surge logo a seguir a Nuits-St.Georges, onde começa a Côte de Nuits. Continuando, passa-se por Vougeot (famoso pelo Clos com o mesmo nome e pelo imponente château dos Chevaliers du Tastin, uma das várias confrarias da Borgonha), por Chambole-Musigny, Morey-Saint-Denis e Gevrey-Chambertin, a comuna com o maior número de grands crus da região - nove, no total. Todas terras de margas, argila e calhaus de calcários que origem tintos admiravelmente delicados e perfumados. Cruzando Vosne-Romanné na direcção da encosta, la Romanné-Conti é uma das primeiras vinhas que se avistam. De tão fotografada, tornou-se numa imagem familiar.

Na aparência, mesmo com o seu famoso cruzeiro, é uma vinha como muitas outras da região. Nem sequer é a mais bonita. Mas, na verdade, La Romanée-Conti é mais do que uma vinha, é um lugar mítico, uma atracção onde se vai peregrinar e fotografar. O que tem de tão especial? Uma identidade renomada e secular, um solo extraordinário de argila e calcário partido (o ideal para o Pinot Noir e para uma boa drenagem da vinha), uma excelente exposição e um longo historial de vinhos sumptuosos.

Cada uma das suas cerca de 22.500 videiras (a distância entre bardos é de apenas 1,40 metros e entre videiras é de 80 centímetros), todas de Pinot Noir,  vale ouro. Por ano, La Romanée-Conti produz, no máximo, cerca de 6 mil garrafas. O preço varia de colheita para colheita, mas chega ao mercado sempre a uns bons milhares de euros. Em 2014, num leilão em Hong Kong, a Sotheby`s vendeu uma colecção de 114 garrafas de Romanée-Conti (seis garrafas por colheita desde 1992 até 2010) por 1,62 milhões de dólares! O vinho é vendido apenas em caixas de doze garrafas, mas só uma é de Romanée-Conti. As outras 11 são de outros grands crus da mesma casa: La Romané-Saint-Vivant (2), La Tâche (3), Les Richebourg (2), Grands Échézaux (2) e Échézeaux (2).

O vinhedo original de La Romanée-Conti foi plantado no século XV pelos monges de Saint-Vivant e só ganhou o nome que tem hoje em 1794, 34 anos depois de ter sido comprado pelo príncipe Louis François de Bourbon-Conti. A vinha actual foi plantada em 1945, depois de a anterior ter sido dizimada pela filoxera. Já tem 72 anos, mas continua espantosamente viva e homogénea. Está na posse de uma sociedade detida pelas famílias de Lalou Bize-Leroy e de Aubert de Villaine, o grande poeta-filósofo da Borgonha, o monge cisterciense dos tempos actuais que dirige a sociedade. “Nós somos os guardiões de uma certa filosofia do vinho e estamos especialmente atentos à perfeição dos detalhes. Um grande vinho é produzido na vinha. (…) Somos os parteiros dos nossos grands crus, mas está tudo na natureza”, resumiu, um dia, à revista Vigneron.

Villaine não estava na vinha e chegar até si requer ter bons contactos ou ser um bom cliente dos seus vinhos, embora quem o conheça sublinhe a sua simplicidade e simpatia (ao contrário de Bordéus, na Borgonha os viticultores, mesmos os mais ricos, são verdadeiros camponeses). Mas andava um homem a lavrar, um homem e o também já famoso cavalo da Romanée-Conti, peça essencial da viticultura biodinâmica que ali se pratica. Uma mulher (encarregada?) acompanhava o homem e o cavalo.

Tentámos conversa. Quantos anos tem a vinha? Qual é densidade de plantação? Um pouco a custo, o homem foi respondendo – a mulher ouviu apenas -, mas, mal escutou a palavra “jornalista”, remeteu de imediato para os responsáveis do Domaine cuja adega e escritórios se situam mesmo no centro de Vosne-Romanée. Nem vale a pena tocar à campainha e pedir para falar com alguém ou espreitar apenas a adega. “N`est pas possible, désolé”, receberá como resposta, se não tiver visita programada. Foi o que nos aconteceu.

La Tâche e Cros Parantoux

Um pouco mais acima de Romanée-Conti, a menos de 300 metros de distância, numa encosta com uma vista prodigiosa sobre Vosne-Romanée e os lugares vizinhos, encontrámos Jean-Luc Reillart a esticar arames. A vinha, já com bastante idade e um solo pedregoso, parecia promissora. “A minha vinha são estes três bardos”, esclareceu logo, sorrindo. Três bardos apenas. Uma vinha, vários proprietários, vinhos de diferentes categorias - é assim a Borgonha.

Nos seus três bardos, Jean Luc Reillhart produz um Pinot Noir interessante (como podemos comprovar mais tarde numa prova na sua pequena adega), que vende quase só para o Japão. Leva o selo de Village, apesar de a vinha estar mesmo colada a vários grands crus. “Está a ver essa vinha mesmo aí em baixo [só há uma estrada a separá-la da sua]?”, apontou, “é La Tâche”. La Tachê, um dos oitos grands crus da comuna de Vosne-Romanée. Os outros são La Grande-Rue, La Romanée, la Romanée-Conti, Les Richebourgs, La Romanée-Saint Vivant, Échézeaux e Grands-Échézeaux. Estes dois últimos situam-se na aldeia de Flagey-Échézeaux, um pouco mais abaixo de Vosne-Romannée, mas integram esta comuna. Os restantes estão praticamente juntos: La Romanée confina com La Romanée-Conti, La Grand-Rue e Les Richebourg; La Romanée-Conti confina com Les Richebourgs, la Romanée-Saint-Vivant e La Grand-Rue ; e La Grand-Rue confina com La Tâche. Por sua vez, Les Richebourg tem como vizinho o também famosíssimo Cros Parantoux, um premier cru de menos de um hectare cuja reputação foi criada por Henri Jayer (já falecido), outro nome mítico da Borgonha, a partir de 1950, quando foi transformando pequenas parcelas antes usadas na produção de alcachofras num celeiro de vinhos fabulosos, alguns ainda mais caros do que os Romanée-Conti.

Ficávamos o dia todo a cirandar pelos premier e grands crus de Vosne-Romanée, mas uma razão maior “obrigou-nos” a regressar a Beaune: uma prova (a única marcada já durante a viagem) na adega de Phillippe Pacalet, um dos nomes mais sonantes da nova geração de produtores da Borgonha. Pacalet, que está representado em Portugal pela Niepoort Projectos, é a pessoa certa para um curso intensivo de Borgonha. Com vinhas próprias apenas em Beaujolais, faz vinhos em 30 grandes terroirs da Borgonha (a partir de uvas compradas e tratadas de forma orgânica ou biodinâmica), engarrafando tanto villages, como premiers crus e grands crus. De barrica em barrica, Pacalet levou-nos em digressão pelos Pinot Noir de Nuits-St. Georges (tintos muito angulosos e minerais), Gevrey-Chambertin (mais estruturados), Vosne-Romanée (muito perfumados e especiados), Chambole-Musigny (cheios de elegância), Clos Vougeot (mais ácidos e tânicos), Corton-Bressands (um tinto poderoso de uma vinha muito velha, um dos melhores da prova), Échézeaux (finesse e elegância) e Richote-Chambertin (um grand cru muito mineral e fresco), terminando em grande, com um Corton-Charlemagne de 2013, um Chardonnay extraordinário que vende na adega a 186 euros.

O mítico Le Montrachet

E podíamos ficar por aqui, que já seria uma bela viagem. Mas no dia seguinte, mesmo debaixo de chuva, ainda haveríamos de ir à Côte de Beaune, o santuário dos brancos (embora 75% dos vinhos que ali se produzem sejam tintos, em vinhas de argila situadas nas zonas mais baixas) que começa na fantástica colina de Corton, partilhada pelas aldeias de Ladoix, Aloxe-Corton e Pernand-Vergelesses. O branco grand cru Corton-Charlemagne, um dos melhores do mundo, sai das encostas mais altas da colina de Corton, de solos de calcário erodido, ideal para o Chardonnay. Na zona inferior da mesma colina, onde os solos são mais ricos e profundos, com mais marga e argila e pedaços de calcário oxidado, tudo o que o Pinot Noir gosta, situa-se o único grand cru tinto da Côte de Beaune, o Corton.

A Côte de Beaune continua pela própria cidade de Beaune (em cujos arredores se produzem alguns bons brancos e tintos), seguindo depois por Pommard e Volnay (terras quase só de Pinot Noir e famosas pelos seus tintos delicados), até chegar a Mersault, berços de brancos magníficos, e logo a seguir a Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet. Dois lugares construídos em torno de encantadoras igrejas e de vinhas profusamente retalhadas e muradas. Igrejas e vinhas, o céu e a terra ligados por um nome sagrado, o mesmo que une Puligny e Chassagne: Montrachet, quinta-essência da arquitectura dos terroirs da Borgonha (deve ler-se ´Mont-rachet`e não ´Mon-trachet`, porque é de um monte que se trata) e onde a casta Chardonnay atinge a sua expressão máxima.

Na encosta protegida deste pequeno monte com afloramentos calcários evidentes há cinco grands crus: Bâtard-Montrachet, Bienvenues-Bâtard-Montrachet, Chevalier-Montrachet, Criots-Bâtard-Montrachet e Le Montrachet. Ficam todos juntos. Uns separados apenas por um muro, outros pela estrada. Une-os a mesma casta, Chardonnay, o mesmo tipo de solo pobre, cheio de calcário partido, a mesma viticultura e, em alguns casos, até o mesmo proprietário. Mas cada grand cru tem a sua identidade própria e há um que, por pequenos detalhes na textura do solo, no tamanho dos calhaus de calcário, na exposição e na drenagem, se destaca dos outros: Le Montrachet, a mais cara e melhor vinha de Chardonnay do mundo. São apenas 7,92 hectares, divididos por 26 produtores e 18 proprietários (o Domaine de la Romanée-Conti, com 0,64 hectares, é um deles). Pequenas placas identificam cada um dos cinco grands crus e no Le Montrachet o que sobressai é o pórtico de calcário do Domaine Lefalive, um nome que deixa qualquer enófilo num estado de encantamento quase juvenil. Os seus brancos são os mais caros de todos.

O Domaine Leflaive tem parcelas em Chavalier-Montrachet (1,99 hectares), Bâtard-Montrachet (1,91 hectares), Bienvenues-Bâtard-Montrachet (1,15 hectares) e Le Montrachet (0,0821 hectares). Leu bem: 821 metros quadrados, os mais valiosos do planeta do vinho, granjeados de forma biodinâmica. Uma barrica apenas, não mais do que 300 garrafas nos melhores anos, pagas a milhares de euros cada. Em Le Montrachet, tudo é preciso. Cada metro vale uma fortuna. Um hectare de um premier cru de Chassagne-Montrachet custa entre quatro e cinco milhões de euros. Um hectare equivale a 24 ouvrées, a unidade de medida utilizada na Borgonha. No grand cru Le Montrachet, um ouvrée (428 metros quadrados) custa quatro milhões de euros! “E há mais compradores do que vendedores”, sublinhava Marc Colin, produtor reformado de Chassagne-Montrachet (hoje, são os filhos que estão à frente do domaine) com quem nos cruzámos na garrafeira municipal desta comuna. Com apenas 200 metros quadrados, é o proprietário mais pequeno de Le Montrachet.

Um pequeno e celestial pedaço. Na Borgonha, o céu está mesmo na terra. Na terra criada pelo mar e decifrada por monges sabedores e pacientes, nos vinhos diáfanos mas intensos e delicados que brotam dos seus extrordinários climats, um termo que se presta a grandes frases, como a que o jornalista francês Bernart Pivot criou e que serviu de mote à candidatura da região a Património Mundial: “A Borgonha é a única região do mundo que se pode orgulhar de ter um clima no céu e mais de 1240 ´climas´ sobre a terra. Na Borgonha, quando se fala de clima, não se levantam os olhos para o céu, baixam-se em direcção da terra”.

 

Curiosidades da Borgonha

A cuvée des 6
No final de Abril do ano passado, uma geada severa queimou uma boa parte da produção da Borgonha. No grand cru Le Montrachet, a quebra foi mesmo gigantesca, ao ponto de seis dos principais proprietários - Domaine Romanée-Conti, Domaine des Comtes Lafon, Domaine Leflaive, Guy Amiot, Lamy-Pillot (incluindo os 542 metros de Claudine Petijean) e René Fleurot - terem decido juntar as respectivas produções e fazer um único vinho, já conhecido como a cuvée des 6. De um total de 1,25 hectares, foram produzidas apenas 600 garrafas. Dez a 15 vezes menos do que a produção num ano normal. O vinho foi feito no Domaine Leflaive e provavelmente não irá ser vendido, uma vez que a legislação local não permite que um produtor venda com o seu nome um vinho produzido noutra adega. As 600 garrafas deverão ser divididas pelos seis vizinhos e bebidas com parentes, jornalistas e clientes especiais. Pela sua natureza e raridade, a cuvée des 6 poderá vir a tornar-se um branco lendário da Borgonha.

Brancos depois dos tintos
Na Borgonha, os brancos provam-se a seguir aos tintos. Em regiões de tintos tânicos, pode soar um pouco estranho. Mas na Borgonha, onde os tintos são elegantes e finos e os brancos são gordos e intensos, faz todo sentido.

As melhores colheitas
As melhores colheitas das últimas três décadas na Borgonha, de acordo com as avaliações oficiais, foram 1990, 2005 e 2009, nos tintos, e 2002, 2005 e 2009, nos brancos.  

Terras com nomes de vinhas
Na Borgonha, sobretudo a partir do final do século XIX, após a filoxera, muitas aldeias e vilas tomaram o nome dos seus vinhedos mais célebres, tentando com isso retirar alguma fama e proveito. Por exemplo, Gevrey, onde o vinhedo mais famoso era e é Chambertin, passou a chamar-se Gevrey-Chambertin; Vosne passou a ser Vosne-Romanée; Aloxe virou Aloxe-Corton e Chassagne e Puligny anexaram o nome de Montrachet. No Douro, seria como juntar o Noval ao Pinhão. Passava a ser Pinhão-Noval.

A evolução dos vinhos
Regra geral, os vinhos da Borgonha provenientes de solos com mais rocha calcária ganham amplitude com o tempo. Os vinhos de solos com mais argila nascem gordos e começam a estreitar ao fim de 10, 15 anos. Quem o garante é Phillippe Pacalet, que faz vinhos em 30 terroirs diferentes da região (ver texto principal).

O que é um Clos?
Em Bordéus, há châteaux, na Borgonha há Clos, termo que designa uma vinha antiga fechada e cercada por muros de pedra. O Clos Vougeot e o Clos de Tart são os mais famosos. Ambos remontam à Idade Média.

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