Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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Chegou a hora de um Alvarinho

Desta vez, a experiência decorreu no “miocárdio do Douro”, a expressão com que o médico e escritor João de Araújo Correia designou o Pinhão. Uma sala da habitação privada da Quinta do Bonfim, com um retrato do fundador da empresa proprietária (a Symington Family Estates) a dominar o espaço, acolheu a prova e o almoço com sabores e temperos caseiros. No Bonfim nasceu no ano passado uma unidade de enoturismo que se tornou uma referência na região – foi visitada por 20 mil turistas, que para lá de poderem fazer provas à medida dos seus desejos, também ficam a conhecer um pouco da história da família que controla marcas emblemáticas do vinho do Porto como a Dow’s, a Warre ou a Graham’s.

Os vinhos foram escolhidos com base em três pressupostos: serem distribuídos no Brasil (esta prova faz parte do suplemento especial distribuído com o jornal Globo no âmbito do evento Vinhos de Portugal no Brasil); serem o mais representativos possível de todas as regiões do país; e situarem-se numa gama de preços algures entre os oito e os 12 euros. Como também é hábito, as escolhas foram feitas no El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia, com a ajuda de Jesus Caridad e da sua equipa, que tentou introduzir na fórmula fixa da escolha a conjugação entre as marcas de vinho mais conhecidas e as que podem ser capazes de surpreender.

Desta vez, e ao contrário da última edição, o painel original da Fugas reuniu todos os seus elementos. A saber: Beatriz Machado, mestre em ciências da viticultura e enologia da Universidade da Califórnia e directora do serviço de vinhos do hotel The Yeatman, em Vila Nova de Gaia; Lígia Santos, uma engenheira que trabalha na área da gastronomia (foi a primeira vencedora do concurso masterchef em Portugal), gere um estabelecimento de turismo rural na zona dos Arcos de Valdevez (as Casas da Li) e tem um programa de gastronomia no Porto Canal, o jornalista da RTP Luís Costa, Joe Álvares Ribeiro, administrador do grupo de vinhos Symington, Ivone Ribeiro, dona de uma loja de vinhos em Matosinhos, a Garage Wines, Pedro Garcias e José Augusto Moreira, jornalistas do Público e o enólogo Álvaro van Zeller.

Uma bela média

Na comparação entre os resultados da primeira e a segunda fase da prova (sem comida e com comida), houve quatro vinhos que mantiveram uma votação similar – todos situados nos primeiros cinco lugares da classificação final. Mas houve, como é hábito, vinhos que revelaram especiais aptidões gastronómicas ou escassa vocação para enriquecer a comida. No primeiro caso vale a pena notar o desempenho do Flor de São José, um duriense de 2015, que obteve na hora do almoço mais 42 pontos. Ou ainda o Colecção Privada da José Maria da Fonseca, um Verdelho de 2014 (mais 33 pontos) e o Esporão Verdelho de 2015 (mais 29 pontos). Houve apenas dois vinhos que caíram de posição do primeiro para o segundo momento da prova: o Monte da Ravasqueira Reserva de 2015 (menos 20 pontos) e o Monte Cascas (menos 15 pontos).

No final, a média obtida pelos vinhos em prova situou-se em patamares muito aceitáveis. O painel de provadores congratulou-se ao reconhecer um novo fôlego dos vinhos brancos no caminho de um perfil mais seco, com a expressão aromática mais contida, com índices de acidez mais pronunciados e um volume alcoólico menor. A média do vinho vencedor atingiu 86.8 pontos, exactamente o mesmo valor do Cortes de Cima na edição do ano passado. Mas, ainda assim, este ano a luta foi mais renhida. O vinho menos votado, o Esporão Verdelho, obteve uns honrosos 79.3 pontos (no ano passado a média mais baixa ficou nos 75 pontos). Ainda assim e face aos pergaminhos da casa produtora, esta pontuação não deixou de suscitar uma discussão: a de saber se o Verdelho é uma casta com potencial para singrar no Alentejo.

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