O “inho” pode querer dizer reconhecimento, afecto ou aquela majestade que outrora se atribuía aos filhos dos ricos lá da aldeia. Mas há quem se empenhe em aplicar ao diminutivo um sentido de escala, arriscando atribuir à casta um sentido de pequenez, de menoridade e de provincianismo.
O permanente regresso do presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, à polémica em torno do uso da casta no território do Vinho Verde é prova acabada de um desses empenhos. Porque sinaliza a persistência de atavismos na construção de uma imagem que compromete o Alvarinho. Quando os seus vinhos se afirmam cada vez mais pela sua universalidade e modernidade, há quem pareça empenhado em mantê-los num espaço fechado, o de Monção e Melgaço, que há muito deixou de fazer sentido.
Compreende-se que Manoel Batista e os seus eleitores gostassem de conservar a casta Alvarinho para seu uso exclusivo. Os produtores de Bordéus talvez gostassem de fazer o mesmo com a Cabernet Sauvignon, os da Borgonha com a Chardonnay, os do Rhone com a Syrah, os da Bairrada com a Baga ou os do Douro com a Touriga Franca. Durante muito tempo, a sua luta conseguiu a proeza de impor aos produtores de Vinho Verde uma proibição de menção da casta na denominação de origem, quando cada vez mais iam nascendo Alvarinhos no Alentejo ou noutras regiões do país. Finalmente, em 2011, chegou-se a um acordo justo patrocinado pela Comissão dos Vinhos Verdes: haveria um prazo de transição de seis anos para que pudesse haver um Alvarinho Vinho Verde produzido, por exemplo, em Felgueiras; Monção e Melgaço teriam direito a uma sub-denominação exclusiva (porque de facto a casta é originária dali e é ali que nascem os melhores Alvarinho); e haveria três milhões de euros para financiar a sua divulgação.
Mas não, o acordo não bastava. Para a autarquia de Melgaço, o que está em causa é um tudo ou nada e como o que estava subscrito no acordo é um compromisso intermédio, o seu presidente não perde uma oportunidade para criar ruído — na semana passada denunciou uma suposta violação do acordo e pediu a demissão do presidente da CVRVV, Manuel Pinheiro. O autarca não se apercebe que, ao empenhar-se isoladamente nestas lides (o grosso dos produtores de Alvarinho da região não o apoiam e Monção permanece em silêncio), está a sabotar os seus próprios interesses. Dizer que o melhor Alvarinho do mundo é o da sua terra é uma coisa; dizer que o Alvarinho deve ser dele e de mais ninguém é outra muito diferente.
Numa fase em que os preços na produção estabilizaram e em que as vendas cresceram de 1,2 milhões de litros em 2013 para 1,8 milhões em 2016, quando o reconhecimento da casta (e, principalmente, os vinhos de Monção e Melgaço) estão em alta, vir uma outra vez desenterrar uma polémica já resolvida é mais do que um erro: é um disparate.