Nessa viagem, houve um jantar oficial na Casa Grande da roça Rio do Ouro, a mais famosa de todas as roças de São Tomé. Na altura, Rio do Ouro não passava de uma imponente ruína, como quase todas as outras roças. O momento tinha uma enorme simbologia. Os anfitriões da Casa Grande eram agora os descendentes dos antigos escravos negros, aqueles que viviam na sanzala, e foi chocante ver como repetiam os mesmos tiques dos “senhores” brancos de antigamente. Tal como no tempo da escravatura, os negros pobres da sanzala voltaram a ficar à porta, agora por ordem de outros negros. A festa e a fartura da Casa Grande eram demasiado insolentes face à pobreza da sanzala. Deixei o jantar, tirei a garrafa de Madeira da mochila e, sob um céu cheio de estrelas, bebia-a deliciado com companheiros de viagem e alguns negros da roça. Nenhum outro Madeira me emocionou tanto como esse. Foi o melhor? Respondo com outra pergunta: e isso é importante?
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