Chega a ser comovente o regozijo com que Sophia Bergqvist dá conta da novidade. Uma velha aspiração da proprietária, que pode até cheirar a mofo, mas que anos a fio esbarrara no peso da tradição e no status quo instalado. O grosso da força de trabalho para a temporada de vindimas é fornecido pelos chamados empreiteiros agrícolas, e isso de igualar o salário de homens e mulheres ainda é visto como prática perigosa e pouco aconselhável.
Mesmo que simbólico, este avanço de La Rosa no caminho da igualdade no Douro acaba por reforçar o espírito pioneiro e de dedicação à região que tem feito a história da quinta. Foi há mais de dois séculos, em 1815, ainda com o nome Feuerheerd, que a família começou a produzir vinho do Porto, e desde sempre mantivera a tendência de fazer vida no Douro, ao contrário do que sempre aconteceu com a generalidade dos proprietários, que se limitavam a fugazes permanências na época das vindimas.
Talvez pela beleza e localização privilegiada de La Rosa na margem do Pinhão, mas Sophia lembra a teimosia da avó Clara e os tempos de isolamento e absoluto desconforto. “Depois do Verão em Afife, passava todo o inverno na cama, com os cães para a aquecerem”, recorda.
Apesar da Feuerheerd ter sido vendida em 1935, a Quinta de La Rosa manteve-se sempre na propriedade dos Bergqvist. As uvas iam em regra para a Sandeman, até que, em 1988, Sophia e o seu pai, Tim, decidem recomeçar a produção de vinho do Porto. Nascia a marca Quinta de La Rosa e, pouco depois, o engarrafamento de vinhos de mesa.
Sophia confessa que foi muito por influência de David Baverstock, o enólogo australiano desde sempre ligado ao projecto Esporão, que se aventuraram na produção de vinhos DOC Douro. “Fomos dos primeiros na região e foi logo um enorme sucesso. As encomendas, o reconhecimento e os prémios começaram logo a chover, principalmente de França e Inglaterra.”
Foram também dos primeiros a embarcar na ousadia de engarrafar brancos no Douro, isto apesar do conselho negativo que lhes deixou um consultor da Borgonha, para quem as condições extremas da região nunca permitiriam fazer bons brancos. Pelos vistos, enganou-se rotundamente, e os brancos de La Rosa recolhem hoje aprovação e aplauso da crítica mundial.
Jorge Moreira, que desde 2002 dirige a enologia de La Rosa, confessa que a quinta o tem marcado profissionalmente, isto apesar dos seus reconhecidos sucessos com o projecto Poeira e a grandiosidade da Real Companhia Velha, onde igualmente é responsável pela enologia. “De La Rosa é um lugar incrível, marcante e único e o que procuramos é que os vinhos mostrem essas características”, acentua.
Características que se expressam em vinhos tão singulares como o TIM Grande Reserva Branco 2015, em homenagem ao pai de Sophia, ou o tinto Vale do Inferno Grande Reserva 2014, que estão prontos a sair para o mercado. Únicos e só engarrafados em anos considerados de excelência, tal como única e impressionante é a parcela do Vale do Inferno, a vinha mais antiga da propriedade, com os seus impressionantes muros de socalcos construídos ainda antes da I Guerra Mundial, pelo bisavô Albert Feuerheerd. Chegam a elevar-se a cinco metros de altura e são únicos na região.