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Quatro magníficos vintages num ano que, por mistério, não é clássico

Por Manuel Carvalho

Contra muitas previsões, casas grandes do vinho do Porto como as da família Symington não consideraram 2015 ano de vintage clássico. Mas, com ou sem a declaração, os seus quatro vinhos desse ano são grandiosos e ficam na memória.

A pergunta anda no ar entre os críticos nacionais e internacionais, os apreciadores mais qualificados, os negociantes, os enólogos e até, em surdina, entre muitos donos de empresas de vinho do Porto: por que razão o ano de 2015 não mereceu uma declaração vintage? A pergunta faz sentido porque a última grande declaração foi em 2011, porque o ano no Douro correu, no geral, bem e, principalmente, porque basta provar os quatro vintage lançados pela família Symington para se suspeitar que em causa está um mistério. O Stone Terraces com a marca Graham’s, o Nossa Senhora da Ribeira da Dow’s, o Quinta do Vesúvio e o Cockburn’s são vinhos extraordinários e cabem por inteiro num ano clássico. Mas, ao não lançar Dow’s, Warre e Graham’s, a estratégia da empresa não foi por aí. Não é por isso que se vai pagar menos pelos vinhos – de há uns anos a esta parte, a diferença de preço entre os clássicos e os “single quinta” tem vindo a reduzir-se. Porque as quantidades produzidas são escassas.

Para os apreciadores dos grandes Porto a principal notícia é que em 2015 nasceram vintage grandiosos, intensos, com músculo e sofisticação, embora a secular tradição desta categoria os impeça de serem incluídos na galeria dos notáveis – não é um ano de declaração vintage. Estamos, portanto, num confronto entre a qualidade intrínseca, que é indiscutível, e a categorização que lhes é conferida. Uma vez que nomes de referência como a Quinta do Noval ou a Ramos Pinto lançaram vintages com as suas marcas principais (o Noval, por ser uma quinta, é um caso à parte), há quem defenda que a Confraria do Vinho do Porto faça a tal declaração Vintage que serve para reforçar a excelência de um ano. Mas, mesmo que se vá por aí, em 2015 não haverá Dow’s, nem Graham’s, nem Taylor’s nem Fonseca. A haver declaração, seria sempre “manca”.

Não está em causa a justeza dos enólogos destas casas em pensar que falta qualquer coisa aos vinhos de 2015 para que atinjam o máximo da reputação, até porque na memória está ainda bem viva a marca de um ano histórico, 2011. Nem a suspeita de que esteja em curso uma estratégia comercial para valorizar os grandes vintage, elevando o seu preço para valores mais próximos do que os que se pagam pelos grandes vinhos do mundo. Associar os “single quinta” a vinhos de qualidade superior, produzi-los em quantidades relativamente reduzidas e cobrar por eles 60 ou 70 euros pode representar uma forma de forçar a valorização do mais nobre estilo de vinho do Porto. Ficaria assim criada a ideia de que quando houver uma nova declaração clássica, a qualidade será estratosférica e os preços poderão subir ainda mais.

No caso da família Symington houve a preocupação, apesar de tudo, de jogar em diferentes tabuleiros. A aposta no Stone Terraces, que se tinha estreado em 2011 numa edição absolutamente extraordinária, indica que a empresa reconhece a existência de um grande ano – produziram-se 4800 garrafas, das quais apenas 720 ficarão em Portugal. E o lançamento do Cockburn’s em detrimento de um, por exemplo, Quinta dos Canais Cockburn’s, procura não apenas celebrar o bicentenário da empresa (fundada em 1815) mas também reconhecer que os lotes de Sousão, Alicante Bouschet, Touriga Franca e Touriga Nacional que estiveram na origem deste vinho eram magníficos – 42 mil garrafas produzidas, das quais 2600 ficam para o mercado nacional. De resto, nos registos da vindima que os Symington zelosamente redigem não faltam elogios ao ano: Outono chuvoso, Inverno frio e seco, chuva em Maio após uma Primavera seca, Agosto com temperaturas moderadas e uma chuva providencial em meados de Setembro.

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