No caso dos críticos e das revistas, era fácil acabar com a fraude. Bastava não aceitar amostras e provar apenas o que está no mercado, pagando as garrafas ou imputando esse custo ao produtor. Comprar as garrafas é uma utopia. Nenhuma revista ou jornal, pelo menos por cá, tem dinheiro para fazer isso. Já imputar esse custo ao produtor, seria mais fácil. Em vez de enviar a garrafa ao crítico, o produtor repunha a garrafa na garrafeira ou na grande superfície onde o crítico a levantasse. Mas a logística e o controlo administrativo e financeiro que este modelo implicaria também o torna inviável.
Sendo assim, o melhor é acreditarmos que as aldrabices de que fala João Portugal Ramos são a árvore e não a floresta (eu, pelo menos, acredito) e que a desonestidade no negócio do vinho não é maior do que em qualquer outro ramo de actividade. De resto, a mentira tem sempre perna curta e, mais cedo ou mais tarde, os consumidores – os verdadeiros juízes – sabem sempre reconhecer e compensar quem trabalha de forma séria.
Nota: Na última crónica, “A história atribulada da Touriga Nacional e outras castas”, escrevi que “o que salvou a Touriga Nacional e a fez voltar a ganhar protagonismo foi o notável trabalho de estudo e selecção de castas para a produção de vinho do Porto desenvolvido por José António Rosas e o seu sobrinho João Nicolau de Almeida no Douro, na segunda metade da década de 70 do século passado”. Este sentença pode ser injusta para algumas pessoas. É verdade que aquele trabalho, de cariz mais enológico, foi o clique que fez a vitivinicultura portuguesa despertar para a Touriga Nacional, mas a sua difusão só foi possível graças ao igualmente notável trabalho de seleccção e de reprodução da casta desenvolvido por Nuno Magalhães e Antero Martins, entre outros especialistas.