Com as Termas de Monfortinho a dois passos e Espanha ao virar da esquina, eis um lugar ideal para umas férias ou um fim-de-semana descontraído. Não há luxos desproporcionados no sentido mais lato do termo, mas quem não se sente um lorde com esta piscina inteira praticamente por sua conta?
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Esta história não começa da melhor maneira. Dormimos mal - mas que fique bem claro que o defeito é de fabrico, insónia é coisa que se conjuga com frequência por estes lados. Vai daí, verdade seja dita que não custa por aí além sair da cama, descer para o pequeno-almoço e começar logo a cobiçar uma das espreguiçadeiras junto à piscina. Ainda não são 9h e o termómetro andará pelos 26ºC.
Meia hora chega-nos para apreciarmos sem pressas a primeira refeição do dia. O Hotel Fonte Santa, praticamente paredes-meias com as Termas de Monfortinho, no concelho de Idanha-a-Nova, está com boa ocupação mas não há ainda muitos hóspedes na sala do restaurante Papa Figos. E por isso não nos atropelamos no buffet nem precisamos de fazer figas para que aquele pão estaladiço que acabámos de provar não tenha acabado no exacto minuto em que decidimos reabastecer-nos.
E nisto já estamos mesmo a tentar reparar a insónia da noite passada numa espreguiçadeira sem qualquer vizinhança e estrategicamente colocada a dois passos da piscina. Já lá fomos provar a água com o pé, mas parece-nos demasiado fria para esta hora da manhã. Entregamo-nos, por isso, à preguiça - e aos raios de sol que nos parecem mesmo um maná dos céus - e em breve estamos noutra dimensão. Antes, porém, ouvimos o cantar dos pássaros, o suave ondular das árvores e mais nada. Das duas, uma: ou os hóspedes do hotel estão todos ainda a dormir ou então já desceram os cerca de 200 metros que o separam das termas e foram a banhos.
É para lá que vamos também, mas já a manhã vai alta. A sesta ao relento soube-nos pela vida, o mergulho na piscina fez o que era suposto, refrescou-nos, e por isso entramos no edifício termal com um sorriso nos lábios. Recebe-nos o director, Pedro Próspero, e entrega-nos o nosso "guia de tratamento". Temos direito a hidromassagem, vaporização geral, duche escocês e duche Vichy (a quatro mãos) - tratam-nos nas palminhas, portanto. Findo o circuito de bem-estar, Pedro Próspero acompanha-nos numa breve visita às instalações e vai explicando que a água das Termas de Monfortinho (que brota da serra de Penha Garcia) é sobretudo indicada para problemas de pele, embora também apresente benefícios ao nível do tratamento de problemas digestivos e respiratórios.
De momento, os nossos problemas são outros - de consciência. O relógio bate nas 13h, o estômago dá horas, mas a piscina do hotel, para onde já regressámos, parece um íman. Este é, aliás, o grande spot do Fonte Santa, que vale sobretudo pela tranquilidade fora de portas - já o tínhamos percebido ontem, quando aqui chegámos.
O edifício onde se encontra o Hotel Fonte Santa, actualmente propriedade do grupo Ô Hotels and Resorts, data de 1945. Sempre serviu como unidade hoteleira, explica-nos a actual directora de operações, Sandra Oliveira. É, objectivamente, um hotel antigo, mas orgulha-se disso. A renovação de 2005 poderia ter-lhe dado um toque de modernidade, mas a aposta foi no sentido de manter o existente com apontamentos de (alguma) contemporaneidade.
Quem aqui vier, não espere luxos. Encontrará, sim, um hotel simples mas com tudo no sítio. Quartos confortáveis, com espaço comedido; um restaurante com boas propostas gastronómicas e boa relação qualidade/preço; recantos agradáveis dentro de portas para matar o tempo (bar com lareira onde no Inverno se servem os pequenos-almoços; terraço com vista para as serranias em volta - e Espanha aqui tão perto, que estamos mesmo na raia; uma enorme sala de fumadores, coisa cada vez mais rara nos dias que correm, com confortáveis sofás); e, já se disse, o grande spot que se chama jardim e piscina. Cheira a flores em vários pontos, barulho é coisa que não abunda (antes pelo contrário) e o tempo parece, de facto, correr mais devagar.
Aproveitamos o sol até ao último raio e só depois nos dispomos a explorar o quarto onde vamos pernoitar. Bom, na verdade é uma suite: ampla, cómoda, mas despretensiosa, como é, aliás, timbre do Fonte Santa. Abre-se a porta e estamos na sala de estar: dois sofás, uma mesa de apoio, uma televisão. À direita, uma porta leva a um pequeno terraço onde estão uma mesa e duas cadeiras de plástico - não é que tenha grande vista, mas, sobretudo em noites quentes, é um lugar a ter em conta. De volta à suite, apresenta uma casa de banho mais do que generosa e um quarto com duas camas, duas mesinhas de cabeceira e uma cómoda restaurada. E, supremo agrado para quem gosta de dormir na total escuridão (como é o caso), há estores eléctricos nas janelas. Não é que tenham servido de muito, como já se disse, mas nunca é de mais lembrar que o defeito é realmente de fabrico.
A Fugas esteve alojada a convite do Hotel Fonte Santa
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Como ir
Do Porto, são mais de 300 quilómetros e uma das opções é usar a A1 ou a A29 e depois apanhar a A25 em direcção a Viseu. Na saída 30, seguir depois para a A23/IP2 (Guarda Sul/Covilhã/Portalegre). Em seguida, sair para a EN18 Fundão Sul/EN346 Penamacor. Ao fim de 1,5Km, chega-se a uma rotunda: sair na segunda, em direcção à EN18. A partir daqui, é só seguir as indicações para a EN239, vão aparecer placas a indicar Monfortinho.
De Lisboa, são menos de 300 quilómetros e deve apanhar a A1 e depois entroncar com a A23 (Abrantes/Castelo Branco/Torres Novas). Use a saída 23 (Castelo Branco Norte/Pampilhosa/Penamacor) e em seguida tome a direcção Oleiros e Castelo Branco Norte/Espanha. Entrará entretanto na EN233 e uns 20 quilómetros depois deve tomar a EN239. As indicações para Monfortinho começarão a aparecer.
O que fazer
A forma como vai passar o tempo está, naturalmente, dependente de si. Os clientes do Hotel Fonte Santa costumam sê-lo também das termas. Mesmo que não tenha maleitas que o aconselhem a ir a banhos, aconselhamos nós que guarde pelo menos um dia para experimentar os benefícios das águas ali tão à mão de semear. Os tratamentos de bem-estar são muitos e variados, pelo que só tem que escolher aquele que mais é do seu agrado. Consulte a oferta e os preços no site.
O ambiente exterior do hotel, onde abundam os jardins, é propício ao descanso puro e duro. A piscina, já se disse, é um grande chamariz, mas quem preferir um cantinho mais recatado para, por exemplo, se deitar a ler durante um par de horas, não terá dificuldade em encontrá-lo.
De resto, a localização do Fonte Santa permite uma infinidade de actividades e visitas de carácter diverso. A poucos quilómetros (13) fica a vila de Penha Garcia, que tem muitos pontos de interesse. Desde logo, o seu Parque Icnológico, que conserva fósseis com 480 milhões de anos; os moinhos que mantém ao longo do rio Pônsul; a muralha e o castelo, que miram, altaneiros, a paisagem que se estende em redor. Vale também muito a pena fazer os 26 quilómetros até Monsanto, que ostenta, orgulhosa, o título de aldeia mais portuguesa de Portugal. A vista do topo do castelo é realmente de cortar a respiração e o passeio pelas ruas empedradas é coisa para se fazer sem pressa de qualquer espécie.
Onde comer
O restaurante do Hotel Fonte Santa, o Papa Figos, é a opção mais óbvia - e não deixa de ser boa. Já se disse que apresenta propostas interessantes a preços sensatos. No tempo das cerejas, aconselha-se a experimentar o menu que as homenageia. A sopa de cereja que abre as hostilidades ainda hoje está na memória. De resto, aconselhamos também o Petiscos & Granitos, em Monsanto, que associa uma carta com preocupações de valorizar os produtos regionais com a sua curiosa instalação: entre gigantescas pedras de granito. Em dias amenos, a esplanada é a escolha mais sensata, pelo enquadramento paisagístico que oferece.