Pé ante pé, lá vamos avançando pelo cabo de aço bem esticado entre os dois postes. As mãos vão tacteando os cabos de apoio onde se prende a rede verde que nos serve de protecção, como os malabaristas do circo. Mais à frente, é preciso coordenação entre o pé e a mão oposta para, ao mesmo tempo, pisar o tronco de madeira e agarrar a corda que o segura aos cabos suspensos. O balançar do corpo também faz abanar a estrutura e aos 40 anos ficamos com o medo que tínhamos aos oito e subíamos alto de mais nas árvores. Estamos a alguns metros do chão, sobre árvores e arbustos. Ouvem-se as cigarras e os pássaros e o calor aperta. É quase meio-dia no Alentejo. Os monitores vão dando instruções, tentam pôr-nos à vontade, incentivam quem se ri nervosamente.
Os pequenos são os mais destemidos no arvorismo. De tal forma que, apesar de não terem idade para cumprir a dezena de pontes e dois slides do circuito completo, ficam de queixo murcho por serem obrigados a sair a meio do percurso (12€ por adulto; 8€ criança). Mas não sem antes fazer slide entre dois montes, deslizando uns 10 segundos sobre a copa das árvores numa sensação de liberdade que deixa vontade de repetir uma e outra vez.
O arvorismo é apenas uma das quase duas dezenas de actividades que o ecocampo Zmar, junto à Zambujeira do Mar, em plena costa vicentina disponibiliza para os campistas — umas pagas, outras incluídas no preço —, sejam os da tenda no chão, da caravana ou das simpáticas casas de madeira. Todas são pensadas para se fazerem em família — mas também é possível encontrar sossego a dois.
Quem percorre as rectas da nacional 393, entre Milfontes e a Zambujeira, encontra o Zmar à esquerda. Vimo-lo ano após ano da estrada, com um aspecto de vila do velho Oeste, no meio do deserto, as casas de madeira a precisarem de uma pintura ou de uma demão de verniz. O ar árido dos campos secos não ajuda e a quase ausência de árvores também não. É verdade, as expectativas não eram altas e a chegada, já a noite se instalara há horas, foi feita com um espírito de pé atrás. Mas amanheceu e tudo mudou.
Cheira a campo. Melhor, cheira a Alentejo. E cheira a madeira nas casas construídas mais recentemente, como o ZMonte onde a Fugas ficou instalada. De janelões virados a nascente, apenas com cortinas brancas a cortar o calor — mas não a luz. Porque o dia, aqui, é para ser bem aproveitado. E ninguém se pode queixar que não tem o que fazer. O que é óptimo quando é preciso entreter duas crianças com interesses tão diferentes como os de um rapaz de 11 anos e os de uma menina de quatro. Mas primeiro corramos para o pequeno-almoço no restaurante Frezco (o alojamento pode ser escolhido com ou sem refeições, e o seu pagamento à parte é feito somente através de um cartão específico do Zmar, carregado no início da estadia. Não há transacções em dinheiro nem no minimercado.).
Tanto para fazer
Corremos pela relva aparadinha, encosta acima, até ao edifício principal, onde está também a esguia piscina de 100 metros de comprimento. Mas corremos só porque nos apetece. Porque é sábado e o sol conforta-nos a pele. Porque por aqui não é preciso correr por mais nenhuma razão a não ser uma simples vontade.
Depois do pequeno-almoço há muito para fazer: alugamos (5€/dia; 2€ a cadeira para criança) bicicletas (há um circuito de BTT) e karts a pedais e vamos dar uma volta pelos caminhos de terra batida da herdade. E voltamos à infância, ao volante dos karts, com piões e ultrapassagens levantando poeira. Os miúdos podem ir até ao clube Kidz (gratuito), onde têm ateliers para aprender a reciclar a utilizar materiais como folhas, ramos e pedras que vão à rua apanhar para fazer trabalhos manuais. Sempre sob o mote da ecologia, que é aqui conceito omnipresente — até o mobiliário das esplanadas é feito com material reciclado — e o espaço já recebeu uma longa lista de prémios pela sua sustentabilidade ambiental.
Pequenos e graúdos também podem ir alimentar os animais que vivem na herdade, como os burros, as cabras, as ovelhas, os patos e os gansos que nadam pacientemente no lago e as araras que vivem numa gaiola gigante com vista para a piscina. Os monitores vão explicar os hábitos alimentares de cada espécie, o seu habitat e até pormenores como o tempo de gestação. Ou então, aproveitem o parque de diversões.
Alguém falou em piscina? Sim! Alegria geral. E no Zmar a piscina exterior estende-se por uns simpáticos 100 metros de comprimento (a profundidade máxima é de 1,6m). A que se soma outro espelho de água decorado com peixinhos para bebés, mesmo em frente a umas apetecíveis camas com dossel no espaço Nikki Pool (9€ meio dia; 15€ dia inteiro, com direito a toalhas). A alegria é ainda maior quando, de hora a hora, se ouve um apito vindo do enorme edifício de madeira onde está a piscina de ondas interior. Significa que a maré vai subir e as ondas vão rebentar durante 10 minutos.
No mesmo edifício da piscina funciona o Zpa, com piscina de hidromassagem, banho turco, sauna, jacuzzi, várias salas de massagens e um centro de estética. O ginásio fica afastado, ao lado do restaurante e suficientemente perto da salinha de cinema, onde as crianças se podem instalar em confortáveis almofadões no chão.
Sim, criticamos a falta de árvores num parque de campismo. Por isso, há que aproveitar a meia dúzia de sobreiros frondosos na encosta que vai da piscina para uma das zonas de casas de madeira (as Zvillas e os Zmontes, para famílias maiores), a mesma que já subimos a correr. Estenda-se a manta no chão e faça-se um piquenique. Ou, simplesmente, durma-se uma reconfortante sesta. Para os desportistas, há campos de ténis e padel (5€/hora, 3€ por 2 raquetes), campo polidesportivo e de matraquilhos humanos (gratuitos), tiro com arco (10 setas 5€). Este Verão haverá passeios de buggy, mas ainda não há preços disponíveis. Mas já há programas para os campos de férias de sete dias, a partir de 21 de Junho para crianças dos seis aos 11 anos (215€, com alojamento em tendas, alimentação e actividades) e dos 12 aos 16 anos (235€).
Cansados mas satisfeitos, os miúdos (e os graúdos) enfrentam agora um dilema. O que preferem no Verão: alugar casa na Zambujeira do Mar ou vir para o Zmar? “Não podemos fazer as duas coisas?”
A Fugas esteve alojada a convite do Zmar
- Nome
- Zmar - Eco Campo
- Local
- Odemira, São Salvador, Herdade A-de-Mateus, EN 393
- Telefone
- 707200626
- Website
- http://www.zmar.eu/