Pode tirar o cavalinho da chuva. Se pensa que ao marcar um quarto na nova Pousada de Portugal, no Porto, vai estar a dormir no Palácio do Freixo, esqueça. Os quartos estão todos situados no edifício da antiga Fábrica de Moagens Harmonia. Dito isto, este aspecto é o que menos interessa, porque o Palácio do Freixo está mesmo lá, à disposição de todos os hóspedes da nova pousada do Grupo Pestana, e ele, mais do que o conforto dos quartos, é a verdadeira estrela da unidade hoteleira.
O palácio é branco e granítico, e a fábrica é completamente rosa. Mas, lado a lado, enquadrados pelo rio Douro que, nesta zona do Porto, parece mais largo e livre, os dois edifícios parecem ter estado sempre destinados a não viver um sem o outro. Hoje, dormir na Pousada do Porto é poder gastar horas a explorar os dois. Ou, simplesmente, voltar as costas aos edifícios e ficar a gozar o Douro. Seja como for, dormir ali é muito mais do que dormir ali. É apreciar tudo o que há para ver quando não está dentro do quarto. Pormenores não faltam.
O acesso à pousada é por um "hall" completamente pintado em tons de azul e dourado, com ombreiras de porta mouriscas. Quando ainda está a tentar absorver todos os desenhos deste espaço, já está com os sentidos despertos pela sala seguinte, com espelhos, anjos pintados no tecto, móveis antigos e uma harpa que já se fez ouvir no dia da inauguração, na sexta-feira da semana passada. Cada nova sala tem uma cor diferente, frescos de Nicolau Nasoni, que mostram cenas da vida do século XVIII, ou tectos em relevo, com plantas e animais que parecem querer saltar para o chão.
O palácio, classificado como património nacional em 1910, deu pouco trabalho ao Grupo Pestana. O edifício tinha sido completamente remodelado, com um projecto do arquitecto Fernando Távora, entre os anos de 2000 e 2003. Com excepção de algumas infiltrações, pouco foi preciso fazer por ali. É claro que, hoje, o Palácio do Freixo está recheado de mobiliário e peças decorativas, cedidas pelos museus municipais da cidade. Artigos históricos, dos séculos XVII, XVIII e XIX que estavam guardados nos armazéns dos museus e que estão disponíveis para serem vistos e usados. Um mundo que parece ficar esquecido, assim que se debruça numa janela e encara o Douro de frente.
Na frente voltada para o rio, os terrenos deixam-se cair, em patamares distintos, até à margem. Há um jardim geométrico, uma piscina, um bar, uma pequena plataforma que entra pelo Douro dentro. Por todo o lado, há também árvores e os muros no mesmo branco e granito do edifício. E há a chaminé da fábrica, cor de tijolo, completamente limpa, a dominar o espaço. Bom mesmo é que em cada recanto há um banco de jardim ou uma cadeira. Não quer sentar-se na plataforma sobre o rio? Vá para o jardim com um repuxo de água ao centro e escolha uma das cadeiras em redor. Não está particularmente interessado em ver água? Fique no patamar superior, no espaço que une o palácio à fábrica, e onde está cercado pela pedra e o céu.
A ligação entre os dois edifícios é feita ao ar livre (o que pode ser um bocado desconfortável com chuva e frio) e entrar na área dos quartos, onde também fica o spa, com piscina interior, e o ginásio, é entrar num mundo diferente. A luminosidade do palácio fica completamente posta de lado, num edifício escuro, de um castanho uniforme, onde os passos são abafados por alcatifas fofas.
A decoração ficou a cargo de Jaime Morais e, para além da fachada, a única memória estrutural do edifício são as colunas de ferro que sustentam tectos e chãos, visíveis em todo o lado. O melhor que se pode dizer dos quartos da pousada é que são um descanso. E não é só por as camas serem mesmo muito confortáveis. Há cadeiras, bancos, cadeirões e "chaise-longues" a pontuar os quartos. Os cortinados são pesados e as alcatifas grossas. É quase um refúgio monocromático de toda a exuberância do vizinho do lado. Uma dica: tente ficar com um quarto voltado para o rio. Porque depois de uma noite no escuro do quarto de luxo moderno, sabe mesmo bem abrir as cortinas e ver o Douro, ainda preguiçoso, ainda meio escondido pela névoa, a correr ali à frente.
Salas para todos os gostos
A nova pousada do Grupo Pestana aposta também na captação de conferências, encontros de empresas ou banquetes. Os dois edifícios do complexo disponibilizam cinco salas, com capacidade variada, que podem ser utilizadas antes de uma noite bem dormida ou depois de um pequeno-almoço variado, na sala de refeições situada no Palácio do Freixo. A maior das salas de conferência é a Douro, com capacidade para 320 pessoas, e que fica na antiga fábrica. Os espaços no Palácio do Freixo são mais pequenos (dão para 60 pessoas no máximo).
Preços e janelas
Um aviso importante. A Pousada do Palácio do Freixo tem um conjunto de quartos no 5.º piso, aos quais se acede por um pequeno lanço de escadas, já que os elevadores só vão até ao 4.º, que não ficam a dever nada, em termos de condições, aos restantes. Mas alguns deles têm um senão importante: não têm janelas. Nesta zona, nas águas-furtadas do edifício, as aberturas que deixam entrar a luz exterior são alguns rectângulos cortados no telhado, pelo que nada de vista de rio ou de jardim. Só umas nesgas de céu. Se vai pagar por um quarto luxuoso, vale a pena aproveitar uma das mais-valias da pousada, a vista. Elas são, aliás, um dos aspectos a ter conta na altura de pagar. A pousada tem 87 quartos (incluindo dez suites), com vistas para o rio ou para o palácio e o jardim. Os preços variam entre os 120 euros (para quarto com vista para o palácio e jardim) e os 180 euros (suite especial, com vista para o Douro).
- Nome
- Pousada Palácio do Freixo
- Local
- Porto, Campanhã, Estrada Nacional 108
- Telefone
- 225311000
- Website
- http://www.pousadas.pt