Fugas - hotéis

A andorinha faz a clientela

Por Victor Ferreira ,

Há sítios que são catalisadores de bem-estar, como este resort na baía do Martinhal, no barlavento algarvio, que Victor Ferreira saudou por causa da sua autenticidade. Vasco Célio fez as fotografias.

A primeira coisa que apetece fazer quando se vê um resort feito num parque natural é exigir um pedido de desculpas. Mas no Martinhal preserva-se a autenticidade. Não há palmeiras importadas a pontuar jardins nem largas avenidas, a decoração recorre a materiais algarvios, as ementas são de produtos frescos locais. A flora e a floresta é autóctone, a paisagem funde-se como se resort e parque natural da costa vicentina fossem uma só realidade. Rodeado pelo parque natural (que tem mais de 750 espécies de plantas, das quais 100 são endémicas), o Martinhal Beach Resort & Hotel oferece variedade para um segmento que não será acessível a todas as carteiras, mas que aposta num tom familiar, com serviços e produtos para praticamente todas as faixas etárias.

Os promotores investiram 82 milhões de euros num projecto turístico que será irrepetível, por se situar em zona protegida. Aliás, o Martinhal só foi possível porque o consórcio internacional que apostou na sua construção aproveitou uma licença antiga de construção. Uma circunstância que poderá chocar os ecologistas mais arreigados. Porém, o Martinhal não quis ser guloso: entrou na vida de Sagres, sem precisar de pedir desculpa, porque compreendeu que o melhor que tem para oferecer é deixar o Algarve respirar, é oferecer a autenticidade do barlavento ao turista. Há diversas opções de alojamento. O hotel, de cinco estrelas, dispõe de 36 habitações e duas suites duplex. Os dez terrace rooms encontram-se no edifício principal do hotel, ao lado dos 26 quartos sobre a praia (beach rooms). Além disso, há para venda ou aluguer algumas luxuosas villas, casas de diferentes tipologias que tanto podem estar viradas para o mar, para a serra ou para ambos os lados.

Deixámo-nos adormecer num destes quartos junto à praia que são na verdade casas rectangulares revestidas de madeira, ladeadas de jardim e mar, que nesta ponta junto a Sagres foge para o verde. E acordámos em deslumbramento, a apreciar desde a cama algumas pequenas ilhotas rochosas, espantosamente cobertas de uma verdejante vegetação. A Natureza tem os seus segredos e no Martinhal, apesar da mão humana na paisagem, estamos constantemente a deparar-nos com os seus milagres. Saímos para a varanda e encontra-se um ninho de andorinha que é respeitado pelo pessoal do resort e admirado pelos visitantes. É um balcão transformado num santuário de nidificação para aves, algo que aqui pode acontecer em qualquer sítio, quarto ou casa. Oitenta por cento deste resort abriu anteontem, depois de um soft opening do hotel em Abril. Nos meses de Março, Abril, Setembro e Outubro, as mesmas rochas que saltam à vista junto à praia do Martinhal são pontos de passagem de muitas aves migratórias: cegonhas, águias, garças. É um regalo para a alma deixar os olhos levantar voo nas asas destes animais que, no fundo, nos dizem que ali o vento sabe ser forte, mas também amigo. Quando meteu mãos à obra neste resort, Chitra Stern, uma das investidoras, idealizou um produto que fosse "tipicamente português", capaz de "seduzir uma clientela internacional".

A decoração de interiores, o arranjo exterior e as ementas dos três restaurantes - O Terraço, As Dunas e Os Gambozinos - colocam o acento tónico na portugalidade. À mesa, os produtos frescos são indígenas, fornecidos por produtores agrícolas e pescadores locais ou regionais. Depois, o chefe Emmanuel Soares, 20 anos de carreira, socorre-se do seu vasto currículo - trabalhou ao lado de Alain Ducasse (três estrelas Michelin), Gerard Vie ou Ghislaine Arabian (duas estrelas) - para reinterpretar pratos e iguarias de Portugal e do Algarve. Mais do que criatividade, Emmanuel Soares aposta em "trabalhar produtos na sua época", diz-nos este chefe de 39 anos que em Portugal já abriu o Restaurante Alma Lusa do Aquapura Douro Valley, mas cujo trabalho tem passado sobretudo pelo estrangeiro. A ementa, que demorou dois meses a conceber, vai-se adaptando às estações, de modo a incluir apenas produtos da época. Os três restaurantes têm perfis diferentes, permitindo maior variedade a uma clientela que - além das andorinhas nas varandas - se tenciona fazer sobretudo à custa de famílias ou casais.

No piso superior do hotel encontramos O Terraço, onde tanto se desfruta de um entardecer superlativo, de cocktail na mão, ou de um pequeno-almoço revigorante para começar o dia que, nesta região, pode exigir muitas energias. É também a melhor opção para um jantar mais sofisticado, aceitando residentes ou convidados. Bem junto à piscina com vista sobre o mar, e junto à praia, encontra-se o As Dunas, onde o menu é feito de peixe fresco e marisco, peixes grelhados, lagosta, arroz de marisco e as cataplanas algarvias. Houve uma iguaria que nos levou ao êxtase, uma sobremesa: bolo de figo seco com gelado de medronho. Repita quantas vezes quiser. A opção mais descontraída é o Gambozinos, que funciona tanto como bistrô ou cafetaria, mas também é indicado para famílias, com o seu forno a lenha a produzir deliciosas pizzas. Carregadas as calorias, é preciso gastá-las. E para isso não faltam opções, dentro e fora dos 415 mil metros quadrados ocupados por este resort (se bem que menos de dez por cento dessa área é que tem construção).

Quem opta pelo resort, tem à escolha diferentes equipamentos desportivos modernos. Dois courts de ténis com piso em relva artificial, outros dois para o padel tão amado pelos espanhóis, um polidesportivo com piso sintético que tanto recebe um jogo de futebol ou de voleibol e ainda uma piscina. Na praça central do resort, há ainda um ginásio equipado e com técnicos que ajudam-nos a abater o sedentarismo. Quem opta pelas redondezas, tem o mar, a baía do Martinhal e todo o parque natural da costa vicentina à espera. Surf, caminhadas, viagens de barco com almoço em alto mar, trilhos de bicicletas são uma desculpa perfeita para acabar o dia no Finisterra Spa, com sauna, banho turco e seis salas de tratamento, onde as técnicas Shiatsu e massagens Tui-Na, com as mais avançadas combinações contemporâneas de óleos aromáticos, unguentos, especiarias e ervas exóticas, retemperam até o menos cansado dos seres humanos. Para uma solução mesmo familiar, as crianças podem ficar no jardim infantil existente no resort enquanto os pais desfrutam do seu próprio programa.

Como ir

A partir de Lisboa, siga para o Algarve pela auto-estrada 2 ou IC1, até encontrar a Via do Infante (A22). Depois siga em direcção a Sagres, tome a última saída, para Lagos, e continue rumo a Sagres na EN125, onde vai encontrar informação à face da estrada que ajudará a chegar à baía do Martinhal.

Onde comer

Numa estadia prolongada, e depois de experimentar as propostas do chefe Emmanuel Soares, aventure-se por Sagres, Burgau, Vila do Bispo, onde não faltam restaurantes com perfis diversificados. Tente A Eira do Mel Restaurante (Vila do Bispo, 282639016/917555669), o Vila Velha (inclui pratos vegetarianos, 282624788/917128402), e o Nortada, na própria praia do Martinhal (918613411).

O que fazer No Martinhal há uma escola de desportos náuticos para esqui aquático, surf e windsurf. Golfe, desporto aventura, cruzeiros também há por perto. O Cabo de São Vicente, com o seu farol que se ergue a 80 metros sobre o mar, é visita recomendável. Os mais afoitos são desafiados a pedalar até lá em bicicleta.

 (Julho 2010)

Nome
Martinhal Beach Resort & Hotel
Local
Vila do Bispo, Sagres, Quinta do Martinhal - Apartado 54
Telefone
282620026
Website
http://www.martinhal.com
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