“E contemplar?”, pergunta-me alguém. Sim, porque há um acontecimento que não posso perder: o pôr do sol visto do Cabo de São Vicente, que fica a poucos quilómetros, é “um pôr do sol mágico”, diz-me a mesma pessoa; é “místico”, assegura-me outra; “único”, confirma outra ainda; “digno de oração”, reforça a primeira. Estou convencida, embora o sol não se ponha enquanto estou em Sagres, simplesmente porque choveu o tempo quase todo, mas acredito que seja de suster a respiração depois de me dizerem que, por vezes, se estaciona o carro e se fazem dez minutos a pé para chegar ao cabo e assistir. E que é mesmo um espectáculo porque assim que termina batem-se palmas, asseguram-me. “Tenho de voltar no Verão”, prometo-me.
Algarve verde e protegido
“Sagres tem uma carga mística”, garante Ana Carla Cabrita, dona da empresa Walkin’Sagres, com quem a Pousada do Infante organiza caminhadas pela região. É no passeio que a antiga relações públicas organiza que descubro o Algarve que não é o da construção desenfreada e do mau gosto subjacente à mesma; mas o Algarve do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, onde a variedade é imensa. Podemos ver vestígios de antigos fortes e perceber a história do país de Quinhentos (quando Sir Francis Drake ataca a costa portuguesa); onde se descobrem mochos, falcões e cegonhas-brancas (ao contrário das outras, aqui estas aves nidificam nas falésias); e se descortinam cores vivas no meio do verde rasteiro — são conhecidas cerca de 750 plantas e as espécies endémicas ascendem a cem, algumas os biólogos ainda não descobriram como se chamam, confidencia a guia. A Primavera é uma óptima altura para descobrir o desabrochar das flores e como a paisagem fica tão ricamente colorida.
No mar há golfinhos, baleias, orcas, roazes e outras espécies para ver em passeios de barco, assim como se podem observar as aves. Em Outubro, Sagres acolhe o Festival de Birdwatching para observar milhares de aves migratórias que se despedem da Europa nesta ponta do continente.
Sempre junto à costa, é impressionante como a paisagem e o solo mudam, ora rochoso, ora arenoso. Junto ao Cabo de São Vicente, o verde preenche a paisagem e sobe por ali acima, em direcção ao Alentejo. Caminhamos em silêncio. “Aqui é o Vale Santo”, informa a guia. “Não era preciso dizer”, murmuro perante a paisagem que transmite paz e tranquilidade. Sim, há algo de místico, reconheço.
Os passeios organizados duram no mínimo duas horas, a nossa caminhada vai longa e abre o apetite. Carla oferece bolos de alfarroba, deliciosos. São horas de regressar à vila e almoçar. Não se come nada mal em Sagres. Junto ao mar são os pratos de peixe que reinam. Mexilhões, camarões, amêijoas, ostras e muito peixe fresco. No Restaurante Carlos, mesmo no centro da vila, os pratos são frescos e bem confeccionados, pena o espaço não ter vista senão para a rua. Já no porto de pesca, com vista para o mar, o restaurante A Tasca é um dos mais antigos da região, e aqui destacam-se as ostras gratinadas, uma entrada famosa e já premiada. Finalizada a refeição, é obrigatório passear pelo porto, ver os frágeis barcos e imaginar a algarviada da venda do peixe na lota, aos dias de semana.
- Nome
- Pousada do Infante (Sagres)
- Local
- Vila do Bispo, Sagres, Ponta da Atalaia
- Telefone
- 282620240
- Website
- http://www.pousadas.pt