Fugas - hotéis

Alexandre Kuhl Oliveira

Cercados pelo Sul

Por Victor Ferreira ,

Chegar ao Alentejo dois dias depois de o país requerer um resgate financeiro prometia ser a fuga certa no momento certo. A viagem por ladeiras inclinadas sobre o mar acabou por ser um teste de stress para Victor Ferreira, que se viu rodeado de estrangeiros mas dormiu descansado num novo projecto de turismo em espaço rural, no Brejão.
O ambiente não era dos melhores. Mas não há nada que resista ao encontro com o mar. Na fronteira entre Odemira e Odeceixe, entre o Alentejo e o Algarve, o cenário nunca é muito saturado. O vento traz sempre algo de diferente à paisagem da costa alentejana e da costa vicentina.

Odemira é o maior concelho do país. A área é 20,5 vezes superior à do concelho de Lisboa. Num espaço tão grande, que vai do interior ao litoral, os lugares podem variar muito, muda da planície que convida a sonhar às cumeadas e falésias que mostram como a realidade é acidentada, cheia de correntes, íngreme.

A dois dias do início da viagem, Portugal apareceu nas notícias, como tendo pedido a intervenção externa para equilibrar as suas contas. Não é fácil pôr isso de lado, a caminho de três dias, duas noites, de uma das novas casas de turismo em espaço rural, a Cerca do Sul, no Brejão. Abriu em 2010, podia ser a casa de qualquer pessoa e escolheu bem os parceiros para conquistar clientes. Situada dentro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, adopta uma atitude amiga do ambiente e promove um estilo de vida activo e saudável. Tudo aquilo que interessa, numa época em que a notícia é que o país está doente.

Há sete quartos duplos para alugar, mais dois triplos que podem ser quádruplos, numa herdade de oito hectares que tem piscina, churrasqueira, relva, horta, canil e painéis solares que garantem energia para aquecer quartos e água. A decoração é tipicamente alentejana e os preços situam-se dentro dos parâmetros deste tipo de oferta, que pode parecer direccionado a um público diversificado (25/60 anos) e urbano que procura estadia em casas menos impessoais que os hotéis, em contacto com a natureza poupada ao turismo massificado.

Ideal para solteiros, casais e até pequenos grupos, o alojamento na Cerca do Sul vem acompanhado de televisão por cabo e casa de banho em cada quarto, uma sala de estar comum, uma sala de brincar ou de visionamento de filmes (DVD) para os mais novos, uma kitchnette de uso partilhado, para quem quer fazer as suas próprias refeições. O pequeno-almoço faz parte da reserva, sendo servido dentro de casa, mas há espaço e conforto, sol e sombra suficiente para tomá-lo no exterior.

Quem só quer um refúgio para ler um livro ou tomar um banho de sol, nem precisa de sair da propriedade, que tem camas de rede no jardim, espreguiçadeiras junto à piscina e bancos no alpendre. As possibilidades para quem procura actividade nas redondezas são ainda maiores. Daqui há acesso fácil aos restaurantes do Brejão, Azenhas do Mar, Zambujeira do Mar ou ao vizinho algarvio Odeceixe. Em São Teotónio há supermercado e, se a opção for mais para sul, o pequeno mercado de Odeceixe é um bom local para adquirir peixe do dia e produtos frescos. O mercado é pequeno, mas tem tudo o que possamos querer num mercado.

O turista que procura o produto praia está igualmente bem servido. Tem à disposição diversas opções (praias do Carvalhal, da Amália - assim chamada por ser a praia da antiga fadista - , dos Machados) num raio de poucos quilómetros (Zambujeira, Alteirinhos a norte, todas as de Aljezur a sul).

O aspecto rústico da propriedade onde Sara Serrão, uma lisboeta com fortes ligações emocionais à costa alentejana, construiu a Cerca do Sul, depois de uma mudança de rumo na sua vida profissional, é um convite ao ócio, à mudança de ritmo, embora se sinta a falta de mais árvores de grande porte que dêem sombra no jardim. Há uma pérgula que convida a puxar de um livro e de uma bebida, e há bicicletas para emprestar. Porque a cerca não é sinónimo de prisão.

Os fins-de-semana podem ser temáticos, com actividades em programas paralelos que são pagos à parte. Cursos de fotografia ou patchwork (coser peças novas a partir de restos de tecido) ou caminhadas são organizados periodicamente e, além disso, há colaborações com escolas de surf, professores de ioga e oficinas de artes plásticas.

Nos quartos com interior em madeira, mosquiteiro sobre a cama, a única batalha é com a cortina de banho, que precisa de um cabo mais tenso para cobrir convenientemente o poliban. É possível pedir serviço de refeições, mas cada caso deve ser tratado antecipadamente com a gerência, que pode pôr na mesa produtos produzidos localmente, como os vegetais.

O maior património das redondezas é a natureza, embora exista um conjunto de igrejas e alguns monumentos que podem ser apelativos para quem não dispensa o património cultural, como os moinhos e o castelo de Aljezur. De carro, torna-se fácil explorar o território, mas quando se tem pouco tempo fora da cidade, o melhor é dar o descanso ao automóvel e fazer-se à estrada a pé, de bicicleta ou de burro - com este último serviço a ser prestado por um dos colaboradores da Cerca do Sul. Quem dispensa, nesta fase, ser guiado por um burro encontrará desafios maiores nas ladeiras da linha de costa. Da praia de Odeceixe até à do Carvalhal (sul-norte), ou da praia de Zambujeira até à da Amália (norte-sul), são quilómetros de falésias e enseadas, algumas escondendo praias vazias e de difícil acesso, recheadas de vida vegetal e animal. Um espectáculo de vegetação, aves e insectos que são uma espécie de teste de stress para quem caminha. Quem aguenta isto, não perde os nervos facilmente no meio de uma crise.

Cercado pelo mar, pela planíce, pela serra, o turista encontra no Brejão gente de todas as proveniências. Alemães, ingleses, belgas, suíços, espanhóis, italianos e asiáticos, há muito estrangeiro, turista ou trabalhador nas numerosas plantações, a rodear-nos quando se dorme na Cerca do Sul. Numa cidade, diríamos que é um traço cosmopolita. No Brejão, é apenas mais um motivo para dormir descansado, com a noção de que se acertou no destino esolhido para interromper o frenesim da cidade.

(A Fugas esteve alojada a convite da Cerca do Sul)

Cerca do Sul

Cabeço de Arvéola, Brejão,
7630 -569 São Teotónio, Odemira
Tel.: 931105167
http://cercadosul.com | http://cercadosul.blogspot.com
Preços por quarto duplo (inclui pequeno almoço)
Época baixa (Nov/Fev): 60 euros
Época média (Outubro, Abril e Maio): 70 euros
Época alta (Junho, Julho, Setembro): 80 euros
Época altíssima (15 Julho a 5 de Setembro): 85 euros

Como ir

A Cerca do Sul fica a 21,4km da vila de Odemira. Quem vem de norte, de carro, deve tomar a auto-estrada 2 (A2) e depois tem duas hipóteses: ou toma a saída de Sines/Grândola e segue depois pela Estrada Nacional (EN) 120, ou opta por seguir na A2 até Aljustrel e segue depois pela Nacional 263 até Odemira, onde irá encontrar a EN120. Quem sai do Algarve, pode tomar a Via do Infante (A22) rumo a Vila do Bispo, sair para Aljezur e seguir as indicações para Odeceixe e Odemira na E120. De comboio, recomenda-se sair na estação da Funcheira e prosseguir por estrada.

Onde comer

Il Padrino-pizzaria
Bairro do Atanázio, lote n.º 54
Tel.: 283959168
Cozinha Italiana: pizzas, lasanha, esparguete à Carbonara

Restaurante "A Azenha do Mar"
Azenha do Mar
Tel.: 282947297
Especialidades: caldeirada, arroz de marisco, feijoada de marisco, massa de peixe, peixe frito, peixe grelhado

Café-Restaurante "Bexa"
Vale Juncal
Tel.:283 958 675
Especialidades: peixe fresco grelhado, choquinhos fritos c/ batata cozida, carne de porco à alentejana, feijoada de chocos

Nome
Cerca do Sul
Local
Odemira, São Teotónio, Cabeço de Arvéola, Brejão
Telefone
931105167
Horarios
e das 00:00 às 00:00
Website
http://cercadosul.com
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