Fugas - hotéis

Nelson Garrido

Design solar à beira-mar

Por Andreia Marques Pereira ,

Está cara a cara com a praia e essa é uma virtude incontornável do novíssimo Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa. Por causa dela, dormimos embalados pelo Atlântico e acordaram banhados pelo sol.

Durante anos, aquele pedaço de terreno esteve jogado ao abandono, durante anos especulou-se sobre o que se iria fazer ali, naquela espécie de praceta que os blocos de apartamentos abraçavam por todo lado menos um um lado que era o principal: aquele que ficava bem à face da marginal da praia.

 

Durante anos, o Furadouro não teve hotel. Alguns lembrar-se-ão do que existiu precisamente ali, inaugurado em 1946. Nos anos 80 o edifício foi derrubado e, desde então, esta praia de Ovar (a meio caminho entre Porto e Aveiro, com a ria nas traseiras) foi tendo muita coisa mas permaneceu órfã de hotel. Até este ano. O ano em que mais as marés vivas comeram o areal (outrora enorme), é o ano em que o Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa abre com vistas para ele. Quase com os pés nele.

Aquele extremo da avenida da praia que os anos quase transformaram num baldio encontrou o seu destino e agora quem passa já não se interroga sobre o que irão ali fazer. Interroga-se sobre o que será aquele edifício de linhas convictamente rectas, irredutivelmente branco e inabalavelmente transparente, numa avenida quase toda de vivendas mais ou menos ortodoxas (entre as menos, a clássica de azulejos com cão de porcelana no alpendre mirando o mar).

Por isso, estamos sentados no bar, parede de vidro para a "promenade", e vemos transeuntes que param e observam, os mais afoitos espreitam. "Havia uma expectativa muito grande em relação ao hotel aqui", recorda Luísa Policarpo (uma das metades da Policarpo Turismo, proprietária do hotel), "e no início vinha muita gente conhecer". Entravam como quem entra num museu, os proprietários andavam para cima e para baixo em visitas guiadas provavelmente como a que vamos ter daqui a pouco. "Intimida por fora", considera, "tem-se a ideia de que está fechado para quem não é hóspede".

Mas não é necessária visita guiada para entrar no hotel. Está "cem por cento aberto ao exterior", basta as pessoas ultrapassarem a barreira (mental) inicial. É que mesmo quem não dorme aqui pode usufruir do bar (Saal), do restaurante (Cardo) e do spa (Furadouro). Tudo, portanto, menos dos quartos, que são 27 no total, três suites, quatro superiores, três executivos, um adaptado a mobilidade reduzida (entre as comodidades, uma cama eléctrica) e os restantes standard, divididos entre o rés-do-chão e o primeiro andar.

Nós instalamo-nos num standard, com vista de mar. Claro que este vista de mar não é de somenos e a nossa referência é tudo menos inocente. Até porque a chamada "vista de jardim" é de tudo menos de jardim e isso é assumido pelos proprietários não dizemos inteiramente porque chamam jardim ao que na verdade é um espaço vazio (o telhado do spa e terra à espera de um pouco de relva) confinado por um tríptico de prédios que ali são dezenas de varandas (os que ali existiam fazendo a tal praceta inacabada a olhar o mar) com a fachada do hotel a encerrar quase hermeticamente o rectângulo. Não é o ideal, reconhece Luísa Policarpo, mas é comum nos hotéis das cidades, "as traseiras nunca são bonitas". Por isso, os quartos voltados às traseiras são um pouco mais urbanos na decoração (isto é, nas cores), um pouco mais cuidados nas amenities oferecidas (os executivos e as suites são quase todos aqui) e um pouco mais atenciosos nos preços.

Já lá iremos. Voltamos, por enquanto, ao nosso standard, vista de mar e primeiro andar que é também o último. Abertos os reposteiros que o mantêm na penumbra, é um oceano de luz que irrompe a fachada de cada quarto virado ao mar é toda envidraçada, abrindo para varandas transparentes. E é amplificado pela decoração, clara, confortável (pormenor: temos quatro almofadas e nem chegamos a experimentar o menu de nove que o hotel oferece) e ligeira (em materiais que vão desde o mármore do chão à madeira com acabamento rústico, ao lacado) e persegue-nos até na casa de banho todas as do primeiro andar têm uma clarabóia.

Não é à primeira que retemos todos os detalhes (e ainda as fotos a preto-e-branco, pormenores da região, e as "pedras", que são na verdade de cerâmica), mas os "mimos" sobressaem: vinho do Porto e pão-de-ló de Ovar. Complementos da garrafa de água, omnipresente em todos os quartos. A partir daí, podem existir outros "agrados", refere Luísa Policarpo, dependendo do motivo da visita. Desde uma flor a brigadeiros, morangos, champanhe estes incluídos nos packs especiais (ver caixa). Já ofereceram bolo de aniversário e massagens no spa; alguns quartos têm máquina de café Nespresso e o cliente executivo tem direito a um jornal diário a pedido.

É a vantagem de ter um hotel pequeno, esta "proximidade ao cliente", a personalização dos serviços para proporcionar estadias quase caseiras. Quase porque poucos terão em casa, por exemplo, uma banheira na sala (design devidamente retro), imaginamos, como acontece numa das suites do primeiro piso; e tão-pouco será comum a divisão da casa de banho e do quarto com tijolos transparentes, como acontece num dos quartos superiores.

Fechada a porta dos espaços reservados, regressemos às zonas comuns. Se a luz do quarto nos deslumbrou, não foi por que não fôssemos prevenidos. Porque o espaço público do hotel é assim, luminoso, desde a entrada: portas de vidro, o mesmo chão e paredes brancos. É ampla esta zona, com a recepção em duas secretárias sob dois candeeiros transparentes modulares "vindos" de uma câmara municipal da antiga Alemanha de Leste, mesmo ao lado do bar, mesmo ao lado do restaurante. Uma atmosfera solar. "Quisemos passar uma imagem clean, moderna, consensual, que não chocasse", explica Luísa Policarpo. Um hotel à sua imagem.

E para responder aos seus desejos, o designer Pedro Sousa foi o génio da lâmpada. Desenhou quase todo o mobiliário (e algumas peças únicas, como o aparador Black Pearl, ferro negro em filigrana, logo no vestíbulo, agora com edições limitadas) e muitos elementos de decoração do hotel, como a garrafeira transparente que divide sem dividir o bar do restaurante (e os vinhos aqui são importantes: só portugueses, com incidência na Bairrada, mercê da ligação com Filipa Pato). No bar, mesas e sofás Império (pretos e vermelhos) e Furadouro (este desenhado especialmente para aqui, tons de azul) compõem o cenário, onde tomamos chá em ritual, acompanhado por três pratos preenchidos com mini-sanduíches triangulares, biscoitos, petit-fours (perdemo-nos com os brigadeiros). Ao lado, o restaurante Cardo tem cozinha mediterrânica e também os pequenos-almoços (buffet, abundante), entre mesas e cadeiras de madeira clara, louça Vista Alegre e sob a tutela de dois caranguejos Bordalo Pinheiro, que trocaram o laranja original pelo verde e azul.

É um hotel boutique e não podia ser de outra forma. Pela sua localização e pelo espelho que é dos seus proprietários. Depois de vários projectos de hotéis que não chegaram a levar até ao fim, este é a primeira unidade que a Policarpo Turismo explora e quem diz Policarpo Turismo diz o casal que a fundou e a gere. "Vimos o local, explorámos o conceito e decidimos: 'Este, vamos explorar'", recorda Manuel Policarpo. "Este" era um hotel com os alicerces já lançados e a beneficiar de uma licença antiga, para construir à face da praia. Alteraram o projecto de três passou a quatro estrelas, de 19 passou a 27 quartos, do anfiteatro passou ao spa e dois anos e meio depois abriram o hotel (a inauguração oficial foi em Maio, mas já funcionava em regime de soft opening desde Março), com gestão ecológica, à espera de certificação. O resultado é moderno por vocação, de design por opção. (Quase) todo aberto ao mar que se afunda no horizonte e o contagia de leveza e luminosidade. Com cheiro a sal.

Cinco sentidos no spa

Há um aroma intenso quando se entra no Furadouro Spa: são os óleos essenciais que andam pelo ar, logo a partir da recepção. O espaço da piscina surge em frente: a mesma cerâmica negra que reveste todo o spa está aqui em jogo com madeira, que se repete nas espreguiçadeiras que rodeiam a água de azul (aquecida e com jogos de água) de tonalidades tão caprichosas quanto a luz da clarabóia. Há sauna e banho turco e uma parede de vidro abre para a sala de manutenção, que não é grande mas tem o essencial. Há velas na piscina e há velas no corredor que abre para as salas de tratamento: de cromoterapia e relaxamento, de massagens, uma suite dupla, com direito a duas mesas de massagens, banheira de balneoterapia para dois. Neste espaço tranquilo pode, por exemplo, relaxar-se em camas aquecidas ou com uma variedade quase infindável de rituais desde os de massagem ao de esfoliação, os localizados ou combinados, os faciais, os aquáticos, os específicos para o sol. Entre um tratamento para pernas e pés cansados, uma massagem de velas ou um banho de especiarias, não há muito stress que resista. E quem quiser massagens (ainda) mais terapêuticas, Leihua Xie veio da China com formação em medicina tradicional e, além da técnica, trouxe a massagem chinesa localizada ou a terapêutica, entre outras. Quem estiver indeciso, pode experimentar um pouco mais, com os pacotes de meio dia (entre €140 e €200) ou de um dia (€285).

Programas

Bem-estar & relaxamento
Duas noites de alojamento em quarto duplo com um almoço especial spa, uma "Experiência Holística" no spa e acolhimento VIP. Preço: €270 por pessoa.

Romance na praia
Uma noite de alojamento em quarto duplo (vista jardim), com jantar, tratamento VIP no quarto, experiência "Sensações do Oriente" no spa. Preço: €105 por pessoa.

Aniversário ou Celebração
Uma noite de alojamento em quarto duplo (vista de mar), com tratamento VIP e jantar. Preço: €90 euros por pessoa.

A Fugas esteve alojada a convite do Furadouro Hotel

Nome
Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa
Local
Ovar, Ovar, Av. Infante D. Henrique, 734
Telefone
256590090
Website
http://www.furadourohotel.com
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