Foi remodelado recentemente e nem é preciso passar os portões de ferro para lhe notarmos diferenças: à direita, uma parede envidraçada, que abre portas directamente para a Avenida Tomás Cabreira, já anuncia o spa de cinco salas e piscina interior que abrirá no próximo ano. Mais tarde, descobrimos que faz parte do novíssimo Bela Vista Jardim, edifício onde fica agora a maioria dos quartos e que marca o novo conceito do hotel: dar uma roupagem contemporânea a um cenário antigo.
Mas o palacete mantém-se o centro das atenções, 93 anos depois da sua construção. É a peça principal, a alma que confere charme ao Bela Vista, dividindo protagonismo apenas com a panorâmica sobre o oceano. Contudo, e apesar das muitas histórias que as suas paredes pudessem contar, não é no passado do palacete que se pensa quando se está num dos quartos voltados ao mar, nas salas do rés-do-chão ou mesmo no terraço sobre a praia. A casa é antiga, mas o interior é moderno. E o renovado hotel não parece querer viver no passado. A aura de romantismo continua presente, mas no interior do palacete apenas sobrevivem ao tempo a escadaria de madeira, que nos conduz até aos quartos, os vários silhares e painéis de azulejos azuis e brancos, que se perpetuam por várias zonas do edifício, e alguns tectos naturalistas em madeira.
A decoração, assinada por Graça Viterbo, é de linhas modernas e elegantes, mas sem perder o ar confortável. Nos quartos do palacete, o branco e azul dos azulejos são replicados em móveis e tecidos, acompanhados de amarelo vivo e apontamentos de vermelho. No rés-do-chão, a exuberância da mistura de padrões e peças presentes nas salas contrasta com a simplicidade límpida do restaurante. E da mesa onde mais tarde iremos jantar (ver caixa), o bar parece-nos uma caverna escura - com as suas luzes baixas e tons castanhos e dourados -, talvez mais convidativa nas noites frias de Inverno.
Um palacete +2
Começou por ser uma residência particular, ao estilo dos chalés que povoavam a praia da Rocha naquela altura, mandado construir por um industrial conserveiro. Na inauguração, em 1918, esteve presente o Presidente da República, Sidónio Pais, e durante alguns anos, a então Vila de Nossa Senhora das Dores foi palco de diversas festas, onde se juntavam membros da alta sociedade portuguesa.
Contudo, pouco tempo depois o proprietário retirou-se do Algarve, abandonando o edifício, e só em 1936 volta a ganhar nova vida, já como hotel. Recebeu o nome de Hotel Bela Vista, devido à panorâmica que oferece sobre o mar, e é hotel desde então, um dos mais antigos no Algarve, assistindo a toda a transformação turística da região. Agora, mais de 70 anos depois, avança para uma nova etapa: após quatro anos, o projecto de aumento e requalificação do Bela Vista está pronto, com a remodelação dos interiores e a criação de duas novas alas: o Bela Vista Jardim e a Casa Azul.
A cor das paredes e dos azulejos da fachada dá nome a esta pequena vivenda, construída quase na mesma altura que o palacete, mas nunca utilizada como parte do hotel. Com apenas sete quartos, uma perspectiva diferente sobre a praia e posicionado num canto afastado à área social do Bela Vista, esta casa parece viver à parte, num ritmo próprio e gozando de maior privacidade. No interior, o azul mantém-se dominante, pintando paredes e cobrindo peças de mobiliário. Nos corredores, fotografias antigas trazem reminiscências do passado daquele hotel, da marginal e da praia da Rocha, e nos quartos alguns candeeiros ainda são os originais.
Já no Bela Vista Jardim ainda tudo cheira a novo. Construído de raiz durante a requalificação, o edifício tira partido de um declive no terreno, encontrando-se "enterrado" - com apenas um piso ao nível da rua - mas sem que nenhum dos quartos perca uma vista desafogada sobre a praia. A altura e as linhas direitas e discretas permitem acrescentar vinte quartos - e o spa, a partir de 2012 - sem retirar (ou acrescentar?) charme ou protagonismo ao palacete.
Foi nesta nova ala que ficámos, num quarto com vista lateral sobre a praia e directa para a piscina. A decoração recebe um conceito diferente, de inspiração marinha, mais jovial e moderna, mas na mesma linha de cores. Aqui as paredes são da cor do mar, há riscas brancas e azuis na roupa de cama e varanda, quadros com tartarugas, globos em cima da mesa. E uma janela interior com portadas sobre a cama permite tomar um banho relaxante com o olhar no horizonte.
"Esplanadar" entre Miami e o Mediterrâneo
Depois de experimentarmos a cama e descontrairmos num dos cadeirões da varanda, subimos até à piscina e espreitámos o esplendor do terraço. Um deck de madeira uniformiza as duas zonas, separadas por quatro daybeds ao estilo de Miami. Um bar exterior e a piscina, ladeada de espreguiçadeiras e palmeiras, compõem o resto do cenário. Na esplanada, só com areia e mar à frente, os almofadões que cobrem cadeiras e sofás obrigam a ficar mais um pouco. Apetece pôr a leitura em dia, beber um cocktail ou só ficar por ali, inebriados pela paisagem, pelos sons que, lá ao fundo, animam a praia, ou pelas gaivotas (o cliente mais persistente do hotel, nomeadamente durante o pequeno-almoço).
Mas como os raios de sol ainda aquecem preferimos aproveitar o final de tarde na piscina. Escolhemos uma espreguiçadeira estratégica, defronte para o palacete (mesmo ao lado), mas sem perder a panorâmica sobre a praia. Daqui o edifício do início do século XX aparece-nos em todo o seu esplendor por entre as folhas das árvores. É uma construção de influências românticas e revivalistas, sendo possível encontrar-lhe traços de diferentes arquitecturas neo. Mas o que salta à vista é a sua torre, de janelas em ogiva, com um mirante no topo. Lá no alto, para onde estão previstos jantares românticos, o olhar chega ainda mais longe, mas não muito. De todos os pontos deste hotel, a vista para terra é algo desinteressante, marcada pelos altos prédios uniformes e casas velhas.
Da nossa espreguiçadeira não é excepção. Contudo, viramos costas a Portimão e o mar volta a abraçar-nos, lânguido, resplandecente. A preguiça torpe-nos os sentidos e é com certo esforço que nos levantamos para dar um mergulho. Entretanto, a música acompanha-nos neste fim de tarde, até porque de quinta a domingo há DJ e música ao vivo, com sonoridades chill out, jazz e bossa nova. É Verão, apetece estar ao ar livre e, por isso, é por aqui que passámos a maior parte do tempo, entre a indolência da espreguiçadeira e o conforto do terraço onde, horas mais tarde, tomaremos o pequeno-almoço, ainda antes do buliço da praia despertar.
Onde comer
Quisemos conhecer o restaurante do hotel, uma aposta forte da nova gerência, já que no final do ano pretende integrar a rede Relais & Chateaux, onde "uma das exigências é que tenha um restaurante com bastante qualidade", explica-nos o director do hotel, Diogo Fonseca e Silva. Uma "cozinha internacional com raízes portuguesas" é-nos servida pelo chef Rogério Calhau, mas o objectivo é torná-la cada vez mais nacional, "revisitada" de uma forma moderna. O filete de robalo assado e o prato de porco "pata negra" estavam saborosos, só suplantados pelo revivalismo das Peta Zetas escondidas em algumas sobremesas.
A Fugas esteve alojada a convite do Bela Vista Hotel & Spa
- Nome
- Bela Vista Hotel & Spa
- Local
- Portimão, Portimão, Av. Tomás Cabreira
- Telefone
- 282460280
- Website
- http://www.hotelbelavista.net