Fugas - hotéis

No Bairro Alto como em sua casa

Por Carla B. Ribeiro (texto), Joana Bourgard (vídeo) ,

No coração do Bairro Alto, Lisboa, há um novo espaço que quer oferecer aos seus hóspedes a oportunidade de sentirem em casa. Com olhares para a Basílica da Estrela, até ao Tejo e pelas ruelas alfacinhas, a Casa das Janelas com Vista faz também justiça ao nome.

Pés descalços, roupas confortáveis, ares ensonados e ainda alguns em trajes de dormir. É assim que muitos descem dos quartos em direcção ao espaço comum, localizado numa luminosa cave e que inclui recepção, cozinha e sala de convívio. Mas, apesar de ser cedo, todos descem de sorriso nos lábios e um "bom dia" na ponta da língua. À espera, uma cozinha que, dengosamente, vai servindo um pequeno-almoço preparado a preceito: pão fresco, manteigas e compotas, bolo acabado de fazer, sumo de laranja espremido há minutos, café passado no momento.

Enroscados em sofás e cadeirões ou a apreciarem os primeiros raios de sol num pequeno terraço, "os hóspedes sentem-se em casa", conta-nos Edla Barreto, que faz a gestão desta Casa das Janelas com Vista, uma hospedagem no coração do Bairro Alto, em Lisboa, aberta desde Abril. Afinal de contas, era esse o objectivo de Carme Rende e de Natalia Tubella, duas investidoras catalãs, com currículo na decoração de interiores, que, depois de a segunda se ter apaixonado pela capital lusa - Natalia afirma mesmo ter adorado a cidade: "a luz, as pessoas..." -, pretendiam criar um lugar que pudessem chamar de casa quando viessem à cidade e ao mesmo tempo receberem pessoas.

"No princípio, queríamos fazer apartamentos turísticos", lembra Natalia que, depois de algum tempo a "observar prédios, casas", encontrou um edifício devoluto na Rua Nova do Loureiro que lhe pareceu o ideal para o efeito. "Depois pensámos: ''Não! Por que não fazemos um hotel?''".

Mas não pretendiam criar apenas mais um hotel. Até porque a Natalia, que se sentia em casa de cada vez que visitava Lisboa, faltava um sítio onde pudesse estar tão confortável como no seu próprio lar, em Barcelona. Almejavam, por isso, um hotel onde cada um que aí entrasse se sentisse em sua própria casa - e, ao mesmo tempo, um verdadeiro lisboeta. Com o mesmo à-vontade que se sente no seu lar e com o mesmo respeito que revela no seu próprio espaço.

Entre o momento da aquisição do edifício e a abertura das portas aos hóspedes, passaram-se três anos, tempo usado para encontrar todas as peças que compõem esta casa que se pode dizer verdadeiramente portuguesa - embora haja objectos oriundos de várias partes do mundo, as duas sócias tentaram comprar a maioria das peças, de mobiliário, decorativas ou utilitárias, em Portugal.

Como se estivessem a decorar o próprio lar, foram encontrando peça a peça, em lojas comuns, feiras ou antiquários, o que hoje compõe o hotel. "Por vezes em conjunto, outras vezes uma de nós via uma coisa que gostava e tirava uma foto para enviar à outra [com a pergunta] ''gostas?''; ''Gosto! Compra!'', dizia a outra". Houve ainda outras peças que foram criadas ali mesmo, no estaleiro da obra, como o caso de um sofá nascido de um andaime.

O certo é que são os detalhes que fazem brilhar os olhos de muitos hóspedes: "Houve um grupo de 12 amigos que vieram a Lisboa e que não se foram embora sem tirar fotografias ao espaço para depois mostrarem às respectivas esposas", conta Natalia. Vieram, sentiram-se bem e fizeram o check-out já com nova data marcada para regressar, mas desta vez acompanhados pelas famílias.

O gosto muito parecido que ambas têm acabou por resultar quase numa brincadeira de montar uma casinha: "A decoração de cada quarto foi emocional", até porque cada espaço é único, "e uma azáfama", relembra Edla.

Os 12 quartos revelam, por isso, uma decoração distinta, mas em qualquer dos casos pensada ao mais ínfimo pormenor: desde as mantas deixadas sobre a cama ou sobre os cadeirões de apoio até às fl ores que dão o toque final de romantismo a cada espaço ou as diferentes fragrâncias que perfumam os espaços. Em comum, a sobriedade dos vários elementos, o chão em tábua portuguesa ou as enormes portadas em madeira que ajudam a prologar o sono pela manhã.

Mas o facto de serem apenas 12 espaços de alojamento deixa pouca margem para o negócio ser verdadeiramente rentável, referem. Ao mesmo tempo, Natalia gosta da ideia de terem poucos quartos, o que, sublinha, permite criar uma ligação familiar com os hóspedes. Ainda assim, continua em cima da mesa a possibilidade de arranjarem outro edifício e até de criarem um restaurante.

Sorte seria se encontrassem um espaço com janelas semelhantes às que dão nome a este hotel: com vista. Sobre a Basílica da Estrela, mas que permitem ao olhar chegar ao azul do Tejo ou espreitar as ruelas de Lisboa que se estendem até ao Mosteiro dos Jerónimos. Mas não é isso o mais importante: mais do que as vistas, é o espírito que se vive nesta casa que conquista quem chega e é provavelmente esse o responsável pela relação quase umbilical criada ao fim de poucos dias.

Muitos revelam mesmo verdadeira pena ao abandonarem o hotel: "É como se a casa nos prendesse", constata Natalia. Além do mais, "a maioria entra aqui como hóspede" e, depois das conversas regadas que por vezes até se prolongam noite fora, "sai amiga", sublinha Edla. Prometem voltar e muitos, em apenas poucos meses desde a sua abertura, voltaram. E já como amigos, trazendo ainda mais amigos.

Preços (actualizado a 03.09.2011)Alojamento em quarto duplo com pequeno-almoço a partir de 90 euros; casa completa desde €1450.

Nome
Casa das Janelas com Vista
Local
Lisboa, Santa Catarina, Rua Nova do Loureiro, 35
Telefone
213429110
Horarios
Todos os dias
Website
http://www.casadasjanelascomvista.com
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