Fugas - hotéis

  • Rita Chantre
  • Designer: João Vinagre
    Designer: João Vinagre Rita Chantre
  • Rita Chantre
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  • Designers: Vivóeusébio
    Designers: Vivóeusébio Rita Chantre
  • Rita Chantre
  • Designers: ALVA (Diogo Potes e Ricardo Matos)
    Designers: ALVA (Diogo Potes e Ricardo Matos) Rita Chantre
  • Designer: Paulo Arraiano
    Designer: Paulo Arraiano Rita Chantre
  • Designers: Musa Worklab
    Designers: Musa Worklab Rita Chantre
  • Exemplo do trabalho do designer João Maio Pinto
    Exemplo do trabalho do designer João Maio Pinto DR
  • Rita Chantre

Estes apartamentos são 'um acto de confiança' em Lisboa

Por Alexandra Prado Coelho ,

A fachada é discreta e não têm porta aberta para a rua. Não são um hotel, nem um hostel. Os apartamentos Lisbonaire nascem de um conceito diferente - a ideia é podermos ficar em Lisboa como se tivéssemos um apartamento na cidade, num prédio de amigos. Tudo feito em Portugal. 

Descobrimos The Lisbonaire Apartments por acaso. Íamos entrevistar a britânica Beatrice Galilee, a nova comissária da Trienal de Arquitectura de Lisboa, e a entrevista foi marcada para lá. Tocámos à campainha e, como tínhamos chegado cedo, esperámos na cave, tempo suficiente para observar o que nos rodeava: no centro uma mesa de madeira comprida, com uma luz por cima, sofás, uma mesa de snooker, um Jogo da Glória antigo.

Espreitamos o conteúdo das mesas de tampo de vidro encostadas às paredes - um roteiro de Lisboa de 1926, uma listagem em letra perfeita de vinhos pertencentes a um tal Francisco Barbosa de Brito, do Poço do Bispo, uma agenda dos Armazéns do Chiado de 1948, uma partitura do fado da Cesária da opereta Mouraria, capas do Século Ilustrado, velhos postais de Lisboa. E ainda um caderno com modelos de caligrafia em estilo francês e gótico, um cartão do "mais chique coiffeur de Lisboa", programas de teatro, um copo do Bristol Club. Pedaços da história da cidade.

Para arriscar abrir um hotel de apartamentos em Lisboa com o país mergulhado na crise era preciso que o projecto fosse "um acto de confiança na cidade e em Portugal", explicam o proprietário, Nuno Pinho, e o gestor do projecto, Miguel Fernandes. Quiseram que os 19 apartamentos falassem de Lisboa, cada um de sua forma. E para isso estabeleceram uma parceria com a ExperimentaDesign e convidaram 19 designers portugueses para decorarem cada um deles.

O atelier Pedrita desenhou o mobiliário e equipamento dos apartamentos (em grande parte construído na empresa Viriato, em Paredes) e o designer Ricardo Mealha criou a imagem do Lisbonaire. Tudo (à excepção das televisões e das cozinhas) é fabricado em Portugal. "Foi engraçado perceber que quando nos rodeamos das pessoas certas consegue-se fazer tudo sem ultrapassar orçamentos", frisa Nuno. Em Abril abriram as portas.

Entremos, então. Por exemplo num decorado pelo estúdio Alva (Diogo Potes e Ricardo Matos). Neste apartamento não corremos o risco de nos perder. Grandes letras negras anunciam "mais um passo e estás na cozinha", ou "porta da casa-de-banho", "com luz/sem luz" (conforme a posição do interruptor), ou ainda, indiscutivelmente informativo, "chichi aqui!!!" (tampa da sanita) e "lava pipi" (tampa do bidé).

Há opções muito diferentes. Joana & Mariana escreveram na parede as palavras Amor, Amizade, Lembrança, Saudade, em folhas de renda redondas como as que se põem debaixo dos bolos. "Tu tens um coração de ouro", escreve, por seu lado (dentro de um balão de fala), João Maio Pinto. Gwendolyn Van der Velen e Quim Albergaria contam a sua história de amor na parede de outro apartamento. Os Musa Worklab fazem uma homenagem às sete colinas e aos retroseiros da Baixa.

Os Desingbynada recuperam a linguagem gráfica das lojas antigas da zona. Ricardo Mealha enche uma parede de páginas de jornais antigos. Mackintóxico recorda-nos as carreiras dos eléctricos da cidade. Marco Balesteros traça-nos uma geografia pessoal de Lisboa, tal como Silva!Designers (neste caso de pensões e residenciais). E os Vivóeusébio trazem-nos os bolos de Fabrico Próprio, desenhados a pálidos azuis e cor-de-rosa nos papéis de embrulho das pastelarias. Há ainda apartamentos com intervenções de Ana Cunha, Barbara Says, João Vinagre, Nuno Luz, MAGA, Pedro Falcão, Vanessa Teodoro, Paulo Arraiano, e os Pedrita.

Nuno Pinho e Miguel Fernandes não queriam abrir mais um hostel em Lisboa. "Só faria sentido [avançar] se fosse para trazer alguma coisa diferente para o mercado. Uma coisa indiferenciada, que tanto poderia ser em Lisboa ou em Berlim, não nos interessava muito", explicam. Por isso, o que o Lisbonaire oferece é a ilusão de que temos um apartamento em Lisboa, num prédio de amigos, onde podemos ficar sempre que estamos na cidade. A mesa comprida da cave funciona como ponto de encontro, e pode-se ficar ali pela noite, a jogar ou a conversar. Ou então seguir as sugestões do Miguel e ir conhecer os sítios da cidade que ele recomenda.

Os 19 apartamentos dividem-se em onze T1 e oito estúdios. A estratégia passou também por perceber que este era um espaço que poderia atrair artistas, pessoas ligadas ao cinema, ao jornalismo, à chamada "classe criativa". Para isso, estabeleceram contactos com a ExperimentaDesign, com galerias, com a Gulbenkian, a Culturgest, a Trienal de Arquitectura de Lisboa (daí Beatrice Galilee ter feito do Lisbonaire a sua morada em Lisboa durante o período de preparação da Trienal).

"É uma experiência diferente de ficar num hotel", diz Nuno. Aliás, como já tinhamos percebido à chegada, não há aqui uma entrada clássica de hotel, uma porta aberta para a rua. Tem que se tocar a campainha, como se fosse outro edifício qualquer e estivéssemos ali para visitar um amigo na casa dele.

Durante os primeiros meses de funcionamento tiveram sempre um nível de ocupação muito elevado, e isto sem fazerem grande publicidade. E os preços são convidativos: 35 euros por pessoa, ou seja, 140 para um quarto de quatro pessoas ou 70 por um estúdio. Muitos vêm por recomendação de outros que já por lá passaram, e os que mais têm aparecido são os espanhóis, que representam cerca de 30 por cento dos clientes. Mas há também brasileiros, russos, franceses, portugueses. Nuno e Miguel estão satisfeitos. Até agora, o "acto de confiança na cidade" está a revelar-se uma aposta ganha.

 

Nome
The Lisbonaire Apartments
Local
Lisboa, São José, Rua da Glória, 16
Telefone
912769797
Website
http://www.lisbonaire.com
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