Fugas - hotéis

  • Nelson Garrido
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Uma noite no hostel mais limpo do mundo

Por Patrícia Carvalho ,

Excelente vista para o casario, ambiente familiar e imagens muito típicas. São algumas das mais-valias do económico Dixo's do Porto, recentemente premiado como o 3.º melhor pequeno hostel do mundo. E o mais limpo do planeta.

Os degraus das escadas de madeira têm as boas-vindas escritas em várias línguas, recebendo quem chega. Um incentivo para quem tem de escalar piso após piso do edifício reabilitado onde funciona o hostel Dixo's Oporto até encontrar a sua cama. Aparentemente, ninguém se importa da caminhada animada por pinturas em cada patamar.

O hostel, inaugurado em 2010 e situado na Rua de Mouzinho da Silveira, mesmo junto ao Mercado Ferreira Borges, no Porto, é gerido por dois irmãos e foi considerado pelos utilizadores do portal Hostelworld como o mais limpo do mundo. Os Hoscars que distinguem os melhores hostels espalhados pelo planeta ficaram quase todos em Portugal, como já vem sendo habitual. O Dixo's conquistou ainda o 3.º lugar na categoria dos melhores pequenos hostels - o 1.º e o 2.º lugares ficaram em Lisboa.

O que tem o Dixo's de especial? Uma espreitadela ao livro forrado a tecido colorido no qual os hóspedes vão deixando algumas mensagens (e que está quase a ficar sem páginas livres) ajuda a desvendar o mistério. "Já estive em muitos países e hostels mas este é definitivamente o melhor. Não é só o edifício impressionante, com a maravilhosa vista do telhado ou o facto de existir uma luz em cada cama. É porque vocês são o máximo!", escreveu a alemã Milena. Um texto em inglês, ao qual está apenso uma assinatura imperceptível, garante: "São precisas apenas algumas coisas para fazer um hostel especial. Quartos e casas de banho limpas e áreas simpáticas. Mas o vosso hostel superou as nossas expectativas. Foi tudo feito com muito amor!". Muitos outros turistas, da Coreia, da Austrália ou do Brasil repetem apenas, como uma lengalenga: "Foi o melhor hostel onde já fiquei."

Pedro e Joana Dixo, 29 e 24 anos, gerem o hostel de que o pai de ambos também é sócio. Foi ele que forneceu o "paitrocínio" necessário para comprar o edifício e reabilitá-lo por completo, transformando-o no que é hoje, ironiza o mais velho dos dois irmãos. O resultado é um prédio em tons pastel, com tectos brancos de onde sobressaem ainda relevos em estuque, portas de madeira e janelas a imitar as originais. A decoração é uma mistura entre móveis antigos, artigos Ikea e elementos tradicionais. Há galos de Barcelos, velhas caixas de bolachas, latas de azeite pintadas, caixas em tecido com bordados de Viana do Castelo e muitas referências ao vinho do Porto.

A sala do primeiro andar, onde está instalada a televisão, um DVD e vários jogos é, aliás, dedicada a esse ícone do turismo da cidade e por todo o lado se vêem posters e pequenos quadros publicitários das marcas mais conhecidas do vinho do Porto. Depois, escada acima, patamar após patamar, há pinturas que congregam naquele edifício do centro histórico portuense algumas das imagens mais típicas de Portugal. Primeiro, um eléctrico amarelo, a lembrar Lisboa, depois, um grande lenço dos namorados, seguido de um galo de Barcelos, uma noite de São João, um touro frente a um campino e guitarras de fado acompanhadas de uma imagem estilizada de Amália. No último piso fica a cozinha e a sala de refeições, com uma estante colorida carregada de livros, e a porta para um pequeno terraço com vista sobre o mercado e o casario do centro histórico.


A sensação de "aconchego"


O espaço é bonito, sossegado e muito, muito limpo. O 1.º prémio para o hostel mais limpo do mundo parece bem entregue e reflecte-se, desde logo, nas casas de banho partilhadas, que parecem sempre terem acabado de ser passadas a pano. Os quartos, simples, e que podem ser duplos ou receber camaratas para quatro, seis ou oito pessoas, acabam por ser o que menos impressiona em todo o espaço. Têm camas confortáveis, roupa de cama suficiente e, se for preciso, um aquecedor para tornar o ambiente mais cómodo. E chega.

Pedro diz que quando pensou em abrir um hostel (depois de uma experiência de três meses a trabalhar num espaço idêntico de um familiar e de perceber as potencialidades do negócio) soube logo que havia três aspectos essenciais que teria de preencher: "A localização, o staff e a limpeza são o mais importante. E eu sou um bocado obcecado com a limpeza", diz. A distinção conseguida este ano deve-se em grande parte ao trabalho de Andreia e de D. Manuela, que deixam o espaço a brilhar. E a quem está na recepção - seja Pedro, Joana ou algum dos colaboradores que foram, entretanto, contratando - e tem obrigação de, amiúde, verificar se está tudo em ordem. Ver se há papel higiénico na casa de banho. Estar atento ao pó deixado pelo constante sobe e desce de pessoas e malas. Ter a certeza que nenhuma janela é deixada inadvertidamente aberta durante a noite. Garantir que não há papéis esquecidos pelo chão.

Os turistas agradecem e retribuem, continuando a atribuir ao Dixo's um grau de satisfação de 96%, no portal da Hostelworld (o item "limpeza" consegue 99%). Joana e Pedro não têm dúvidas que muito do sucesso da casa se deve ao facto de tentarem, a cada instante, incutir um ambiente familiar ao local. Com o jantar terminado e quase a descer para o quarto, as brasileiras Mari e Janete, 58 e 52 anos, concordam.

Em viagem por Portugal, França e Espanha não têm dificuldade em identificar o Dixo's, escolhido pelas filhas (respectivamente, Tamara e Jessica) via Internet, como o melhor em que ficaram. As jovens, de 23 e 21 anos, identificam as características que levam a mais nova a dizer, no sotaque do Rio Grande do Sul: "Se voltarmos ao Porto, a gente vem para cá." Jessica diz que do que mais gosta no hostel é "o clima" (leia-se, o ambiente) e Tamara confirma, explicando que é a sensação de "aconchego" que torna tudo mais agradável. Quando ainda estavam no Brasil, no momento da escolha, a informação recolhida na Internet foi essencial para a escolha. "Procuro sempre a localização e vejo os comentários. Diziam que era muito bom. Muito limpo. Aí, vimos as fotos. Vejo sempre fotos do banheiro", explica Jessica. Todas afirmam que a experiência vivida no hostel "superou as expectativas".


O melhor
O ar acolhedor do edifício, as casas de banho claras e impecáveis e o pequeno-almoço com direito a sumo, cereais, um delicioso pão escuro e bolo caseiros estão entre os aspectos mais positivos do hostel. Isto, é claro, para lá da localização e da simpatia dos irmãos Joana e Pedro, disponíveis para oferecer um copo de vinho do Porto, para levar um hóspede doente ao médico, para indicar restaurantes na área ou a melhor forma de chegar à estação de metro e ao aeroporto. Também é agradável acordar com o cantar dos passarinhos que vivem na casa.  

 
O pior
O facto de os quartos ficarem voltados para a Rua de Mouzinho da Silveira, em paralelo, à boa moda do Porto, pode levar a que os hóspedes mais sensíveis ao ruído tenham alguma dificuldade em adormecer, por causa do barulho dos veículos que passam. Joana diz que a nacionalidade mais representada no Dixo's é a coreana e que os coreanos, em geral, não saem à noite e acordam cedo. Daí perguntar, logo pela manhã, à mesa do pequeno-almoço: "Então, acordou com os coreanos às 7h?". Pois, é verdade. Como Joana diz: "São duas na casa de banho, mas não param de rir e parecem cinco ou seis." Por isso, além do ruído da rua, pode ser acordado pelo riso dos coreanos. Mas isso não é necessariamente mau.

A Fugas esteve alojada a convite do Dixo's  

Nome
Dixo´s Oporto Hostel
Local
Porto, São Nicolau, Rua de Mouzinho da Silveira, 72
Telefone
222444278
Website
http://dixosoportohostel.com
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