Não restam dúvidas de que a artéria central da capital tem nova e flamejante estrela. Para entrar há mesmo que esperar por um intervalo em que turistas e transeuntes não estejam ora a fotografar, ora de nariz colado às janelas. "É isto todo o dia", dir-nos-á Cristina Valverde, a directora desta primeira unidade portuguesa da cadeia espanhola Fontecruz, nascida a partir de três edifícios e que, com base num projecto do atelier José Vaz Pires, envolveu três anos de obras e um investimento de 20 milhões de euros. Em finais de Fevereiro, ainda limando detalhes, abria portas com 72 quartos e suites, a que se juntam bar, restaurante e, claro, vistas largas, como já comprovaremos.
O estrelato exterior é mais que justificado. Na sua clássica frontaria pombalina de azulejaria escura anexa a uma impactante fachada coberta a aço e vidro, cintila em azul néon The Fontecruz Lisboa Hotel. Mais à frente, uma janela orlada a vermelho néon tem a palavrinha Hotel a piscar. Acrescente-se que o rés-do-chão é corrido a vidro, transparecendo para a rua o seu interior negro cinematográfico, pontuado a jogos de luz e cor e mostrando o sólido bar Möet & Chandon.
E o que se adivinha de fora não deixará, de dentro, ninguém indiferente. A decoração é uma miríade de pormenores entre o vintage e uma reinvenção reciclada, peças singulares de mobiliário, luzes e reflexos que interligam tempos e mundos. Num espaço negro de palco, sorri uma recepção decorada com gigantescas e velhas chaves. Atrás, uma minibiblioteca. Em espaço aberto até ao restaurante, refulgem as imagens de uma videowall de 10m e descobre-se um contínuo de detalhes que inclui dezenas de estatuetas de passarinhos, parede de pratos e cabeças de animais ou galos de Barcelos a casar com potes mais espanhóis onde se lê lentejas, garbanzos e azúcar. Ao lado, um "lasvegasiano" mote - com o pormenor de ser em azulejo: What happens in Fontecruz stays in Fontecruz.
"Toda a decoração [da espanhola Eva Almohacid] foi pensada numa homenagem ao viajante", diz-nos a directora do hotel. E não há melhor sinal disso que a parede que expõe postais de Lisboa, alguns com mais de cem anos e todos reais, escritos da cidade para variados destinos no globo e encontrados em feiras. São essas imagens que servem também para decorar os quartos e é sob a vista ampliada de um dos postais, onde se vislumbra "Avenida da Liberdade - um trecho", que vamos dormir.
Postal à janela do quarto
Para mais, quis a sorte que as janelas do quarto concedessem outro postal ilustrado, o do casario que se encarrapita colina acima e que nos leva até ao Castelo. "A vista para a Rua de São José mostra Lisboa no seu melhor", diz Cristina Valverde. "A avenida é a avenida mas não há como a vista lindíssima até ao castelo." E é essa vista de que o "turista vem à procura". Claro que, num cinco estrelas, o turista também procura muito mais. E aí está o quarto, que prolonga o conceito de espaço a negro e cores escuras, para o seduzir para além do básico.
Começa, aliás, logo pelos corredores. Em alguns pisos, espia-se a parede-vídeo e caminha-se sob as imagens. Aqui e ali, novos detalhes - dois manequins reciclados, palavras na parede (dream ou laugh, sonho e riso). À entrada do quarto, outro piscar de olho: os números das portas de materiais diferentes - um 3 pode ser um antigo puxador, um 1 feito de azulejo e um 0 um pratinho-souvenir dos eléctricos de Lisboa. Passada a porta, a prova final: duas camas sem mácula, com um colchão que passará com distinção o teste nocturno. E um brinde: uma gigantesca almofada, à largura da cama, que é um regalo. "Já tivemos uma hóspede que nos quis comprar duas", conta-nos Cristina Valverde.
O espírito viajante continua: malas de viagem servem de mesas-de-cabeceira e também guardam, na casa de banho, roupões, chinelos ou básicos de higiene (ressalve-se que, nas suites, estes últimos têm chancela Hermès). Da janela, espreita-se um coração-de-neón na outra extensão do hotel. Na noite, cintila a palavra heart.
Mundo Lisboa
O Fontecruz tem esta particularidade de se dividir por dois blocos. Por isso mesmo, tem duas cores dominantes. Se o bloco da avenida é a preto, o edifício que dá para a Rua de São José é a branco - mais exclusivo, propõe seis suites em que tudo é clarinho e, tal como nos outros quartos, invadido pela luz natural. E é no meio que está a virtude: entre os dois blocos, há um lounge tornado pequeno oásis urbano. O pátio, entre oliveiras e laranjeiras, tem sofás e cadeirões e algumas cadeiras artísticas em que as costas são máscaras. Desta vista interior, partimos para ideias mais elevadas. Do oitavo e último piso do edifício principal vê-se toda a Lisboa. Vemos nós, em visita privada, que o local não está aberto ao público. Mas fica no ar o plano: poderá vir ser um exclusivíssimo bar-terraço. "Ainda estamos a ponderar, mas é possível", adianta Cristina Valverde.
Já mais certo é o restaurante, ainda sem data de abertura. Será de tapas mas "não as convencionais", antes "mais sofisticadas", diz-nos, garantindo que "não vai ser caro". O que já vai funcionando é o bar chancela Moët & Chandon, primeiro em Portugal exclusivamente dedicado ao célebre champanhe. Salta logo à vista, tanto do exterior como assim que se entra, todo a negro a salpicar de brilho dourado e com as garrafas como divas. A lista de propostas será toda baseada no champanhe, incluindo cocktails.
Faz tudo parte dos planos Fontecruz para tornar o hotel - aliás, a estreia internacional do grupo (que até agora tinha apenas presença em Espanha, com cinco hotéis de luxo) - local de visita dos lisboetas. "Queremos que seja um sítio a ir", diz a directora. E qual a cereja no topo do bolo? "O serviço. Em hotelaria, por mais que os anos passem, o serviço é o que nos distingue de todos os outros". É que "camas, sofás, todos temos", mas "a qualidade de serviço e atendimento nunca vai passar de moda".
A propósito, a responsável cresceu muito perto do hotel que agora dirige. Que melhor diferenciação para um cinco estrelas que tem por plano dar ao hóspede uma experiência verdadeiramente lisboeta? Não será em vão que conversamos num sofá, sentados entre almofadas onde foram inscritos versos de Pessoa via a Lisbon Revisited de Álvaro de Campos: "Outra vez te revejo,/Cidade da minha infância pavorosamente perdida... /Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui..."
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Preços: de 139€ a 199€ (standard); suites entre 350€ e 465€. Dados recolhidos em Março/2012
A Fugas ficou alojada a convite da Fontecruz
- Nome
- The Fontecruz Lisboa
- Local
- Lisboa, Coração de Jesus, Avenida da Liberdade, 138 - 142
- Telefone
- 210410000
- Website
- http://www.fontecruzhoteles.com