Fugas - hotéis

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Um lugar de paragem entre o xisto e o Alqueva

Por Simone Duarte ,

Chegámos ao Monte Falperras sem muitos planos. Sim, sabíamos que havia o Alqueva e Monsaraz por perto. Queríamos descansar e dormir. Sem televisão nem Internet, mas com pão alentejano. E um castelo submerso.

Como nós, o arquitecto Diogo Jordão também começou a reconstruir a casa principal do monte agrícola sem um plano traçado bem definido. Era uma das poucas terras da família que não fora inundada pela construção da barragem do Alqueva. Durante oito anos, dividia-se entre Lisboa e o monte próximo da antiga Aldeia da Luz e de Mourão. Dava ao mestre-de-obras liberdade para adaptar. “Faça lá o que você sabe.” Hoje, o ex-noctívago corta a relva. “Trabalhava com o betão, não com o verde. As couves - não me passava pela cabeça. Não foi bem uma decisão, aconteceu.”

A voz baixa e o ritmo pausado com que o casal de arquitectos Diogo Jordão, 43 anos, e Inês Cordovil, 39, contam como o turismo de habitação nasceu traduzem a tranquilidade que é estar no Monte Falperras. “Um lugar de paragem, longe da necessidade de glamour e de se estar ocupado o tempo todo, mesmo nas férias” - define Inês.

São seis quartos simples, aconchegantes e de bom gosto. Da janela ou da cama no alpendre, dependendo do quarto, avista-se o Alqueva e tem-se sob medida a tradicional paisagem do Alentejo. Os quartos não têm televisão, uma opção que tomaram quando já tinham tudo pronto para abrir. “Queríamos mesmo que fosse um lugar de paragem.” Há uma TV na sala para quem quiser. Internet também não chega aqui (esta não é uma escolha mas confessamos que, por um fim-de-semana, preferimos assim). Há livros e filmes.

A sala de estar com lareira é um espaço comum, assim como a copa e a sala de refeições, onde há café, chá e bolo a qualquer hora do dia. É aqui, na mesa comprida, que tomamos o pequeno-almoço - única refeição possível no Monte. Despertar sabendo que as compotas de Teodora Gonçalves estão à nossa espera é quase tão bom quanto ouvir a sinfonia das cigarras ao adormecer. A compota de laranja, o bolo e o sumo são feitos com as frutas do laranjal do monte. Ainda há o queijo fresco de cabra da queijaria mais próxima. Teodora surpreende-nos com um bolo diferente pela manhã. O que não muda é o pão alentejano.

Diogo e Inês queriam que as pessoas se sentissem em casa. E começaram a oferecer possibilidade de alugar toda a casa a grupos que queiram passar pelo menos três noites na região principalmente no Verão e no fim do ano. “Neste caso”, diz Inês, “o acesso da cozinha fica aberto e pode-se fazer todas as refeições em casa.”


O xisto e as memórias
O xisto de Mourão à mostra, pedra sobre pedra, e o branco misturam-se pelas assoalhadas da casa, assim como as lajes de pedra pelo chão, a lareira na sala de estar. “São os materiais, as memórias da vivência tradicional”, contam os dois, “em convívio com a nossa escola [de arquitectura] que é mais de ''limpar as coisas''.

As memórias de Diogo remontam à infância, quando ia passar férias de Verão com o avô e caminhavam três horas debaixo do sol para chegar às ruínas do Castelo da Lousa (Monumento Nacional, século I a.C.), num vale sobre o rio Guadiana. “Apesar do nome”, conta, “era uma vila romana”. Uma construção rara na Península Ibérica e mais comum no Norte de África. Acredita-se que era uma fortaleza que protegia a via fluvial do Guadiana entre as cidades de Mérida e Évora, que pertenciam ao Império Romano. As ruínas também têm vestígios do Paleolítico e Neolítico.

Com a construção da barragem do Alqueva, o castelo, localizado numa das propriedades da família de Diogo, ficou submerso. Por ser um monumento arqueológico, foi “ensacado” - coberto por uma pirâmide de milhares de sacos plásticos, cheios de areia, na esperança que, nos próximos cem anos, a água não o destrua. As memórias de Teodora Gonçalves também estão submersas. Todas elas. À noite ou de dia, sonha que percorre ruas, esquinas, cantinhos da Aldeia da Luz que hoje estão no fundo do rio Guadiana. Tem muitas saudades da antiga aldeia. “O difícil não foi sair. O difícil é não ter sido uma escolha. Muitos saem da terra onde nasceram mas sabem que quando quiserem podem voltar. É estranho. Nunca vou poder voltar à terra onde nasci. A nova aldeia vai ser de quem nasce aqui, mas não é minha. Tenho muitas saudades.”

Saímos de barco pelo rio Guadiana. Pagamos dez euros por pessoa para navegar durante uma hora e meia no maior lago artificial da Europa. O sonar da lancha mostra que a profundidade pode variar de três metros e meio até aos 50 metros - pelo menos no trecho que percorremos. Diogo Jordão mostra-nos o local onde o castelo deve estar debaixo de água. Tentamos imaginar. “Mergulhadores vêm aqui de vez em quando ver como está a situação”, explica, apontando para o fundo do lago.

Depois vemos ao longe o Museu da Luz e a nova Aldeia da Luz. Viemos para descansar, ficar à toa à beira da piscina, talvez andar até as margens do rio Guadiana e ver pelo caminho perdizes, grous, garças-reais, lebres... (como diz Inês, “a natureza aqui é generosa”). À noite, ouvir o canto das cigarras e grilos. Dormir no alpendre. Ler. Dar uma espreitadela no olival. Andar de bicicleta até ao Alqueva ou ainda passear de barco. Ir a Monsaraz. Com sorte, ver a raposa que visita o monte de vez em quando. Mas as memórias da Luz acabaram por nos envolver. Não foi bem uma decisão. Aconteceu. 

 

COMO IR
Seguir pela A2 depois A6 em direcção a Évora. Seguir as indicações para a N114 e depois N256 e N256-1 em direcção a Mourão, Reguengos de Monsaraz e Espanha. Na rotunda depois de Mourão, em direcção a Luz (na rotunda há uma placa a indicar o Monte Falperras). Seguir em frente por 3,5km até à entrada do Monte. GPS: 38º 20’ 28’’ N, 7º 20’ 16’’ W


ONDE COMER 

Adega Velha
Vale a pena ir ao sábado à noite, menos pela comida, mas pelo ambiente e pelos cantos alentejanos. Um prato dá para duas pessoas. As talhas de vinho espalhadas pelo restaurante e a parede repleta de rádios antigos são marcas registadas. 

Rua Doutor Joaquim Vasconcelos Gusmão, 13
7240-255 Mourão
Tel: 266 586 443

Sabores de Monsaraz
Os medalhões de porco preto (a carne desmancha-se) e as migas de bacalhau são as especialidades da casa gerida pela cozinheira D. Isabel. Um prato é suficiente para duas pessoas. Não faltam para a sobremesa o arroz doce e o bolo rançoso. O difícil é fazer qualquer passeio depois de almoçar. A personalidade de D. Isabel é um dos atractivos. É bom seguir as sugestões da determinada alentejana que, com um sorriso no lábios, resume o que pensa: “ O restaurante não é meu, os clientes é que são meus.” Se puder ficar perto de uma das janelas, melhor. A vista do restaurante, que fica fora das muralhas de Monsaraz, é imperdível.

Largo São Bartolomeu 
7200-175 Monsaraz 
Tel: 266 217 800 info@saboresdemonsaraz.com 
www.saboresdemonsaraz.com
Horário: 12h30 às 15h30 e das 19h30 às 22h30. Encerrados ao jantar de domingo e almoço e jantar de segunda-feira.


O QUE FAZER 

Monsaraz
Uma das aldeias medievais mais bonitas do Alentejo, quase na fronteira com Espanha, com suas construções em xisto e cal. O castelo é uma das principais atracções.

Museu da Luz/Aldeia da Luz
Um projecto dos arquitectos Pedro Pacheco e Marie Clément, que já ganhou vários prémios nacionais e internacionais. Foi construído abaixo do nível do solo, numa alusão ao antigo sítio arqueológico do Castelo da Lousa. A exposição, que conta com o documentário de Catarina Mourão “A minha aldeia já não mora aqui”, mostra um pouco da história da construção da barragem e do processo de trasladar a Aldeia da Luz de lugar. Fica na nova Aldeia da Luz, uma espécie de cidade fantasma para onde os moradores da antiga aldeia foram viver. A igreja que foi trasladada é um dos pontos de interesse, mas não está aberta para visitas. 

Largo da Igreja Nossa Senhora da Luz
7240-100 Luz-Mourão 
Tel: 266 569 257
www.museudaluz.org.pt 
De Abril a Setembro das 10h às 13h/14h às 18h

Passeios de bicicleta e caminhadas até às margens do rio Guadiana
Todos os quartos têm um mapa com trajectos possíveis. E há duas bicicletas disponíveis para os hóspedes. 

Passeio de barco pelo Alqueva
Há desde passeios de uma hora por 10 euros por pessoa até alugar um barco-casa. É só pedir no Monte uma sugestão que seja adequada ao seu orçamento e vontade. Nos verões, o Monte Falperras oferece a possibilidade de se praticar canoagem.

A Fugas esteve alojada a convite do Monte Falperras
Nome
Monte das Falperras
Local
Mourão, Luz, Monte das Falperras, Luz, Mourão
Telefone
966420695
Website
http://www.montefalperras.com
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