Fugas - hotéis

  • Raquel Esperança
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira
  • Raquel Esperança/Arquivo
  • Miguel Madeira
  • Miguel Madeira

Os golfinhos de Tróia podiam vir do espaço

Por Joana Amaral Cardoso ,

Ficção científica e golfinhos, praias, catamarãs e peixe fresco. Um fim-de-semana em Tróia, a partir do Aqualuz Suite Hotel Apartamentos, pode ser isto e muito mais - também há ruínas romanas, golfe e casino. E as cegonhas sempre ali ao lado.

Era uma quinta-feira estúpida (e terrível) aquela em que uma trilogia (com cinco livros) começa. O planeta é eclipsado, desaparece. Ou não. Porque os golfinhos, que desaparecem misteriosa e totalmente nesse dia, deixaram para trás uma versão - sã e salva - da Terra. É nesta história de Douglas Adams que pensamos a bordo doVertigem Azul, um catamarã com mais de 20 pessoas em busca de golfinhos no estuário do rio Sado, Setúbal e fábricas de um lado, Tróia e a natureza quase imperturbada do outro.

Os golfinhos são criaturas sociáveis e curiosas, como explicam os guias da Vertigem Azul, a empresa que desde 1998 acompanha o grupo de mamíferos que habita entre o Sado e o mar, uma das especialidades locais de Setúbal-Tróia. Estamos a passar um fim-de-semana na renovada e uniformizada Tróia e a primeira tarde de sábado quente de Maio tinha de ser para os golfinhos. E a trilogia de cinco livros, a tal em que os golfinhos nos salvam como espécie no âmbito de uma campanha - "Salvem os Humanos", claro -, está connosco. Douglas Adams, estes são os golfinhos do Sado; golfinhos do Sado, esta é a obra de Douglas Adams - na nossa cabeça. Quando vemos as primeiras barbatanas dorsais, ao longe. "Golfinhos à vista!", grita uma das crianças a bordo. E mais ainda quando perto de uma dezena de animais nos rodeia, nos mostra a barriga enquanto brinca com o peixe que vai comer (tainhas, chocos, polvos, "tudo o que o estuário oferece", como explica Pedro Narra, um dos senhores Vertigem Azul), acasala (ou tenta fazê-lo) ou ensina os juvenis a caçar.

São 27 animais, os dois mais jovens nascidos em 2011. Há oito anos eram apenas 22 - os golfinhos têm gestações de um ano e acompanham a sua cria durante três, quatro anos. Vemos alguns dos miúdos e o mais velho do clã, Raiz, que terá perto de 40 anos. Sabemos quem eles são porque Maria João Fonseca e Pedro Narra os reconhecem de longe. O grupo a bordo do Vertigem Azul (uma mão-cheia de turistas britânicos, casais, uma família, crianças de todas as idades) oscila no catamarã. Todos os momentos com os golfinhos - um dos três únicos grupos que vivem em estado selvagem no estuário de rios na Europa (os outros dois estão na Escócia e Irlanda) - contam. 

À boleia pelo Sado

Há uma publicação, tranquilizadoramente gravada com as palavras "DON"T PANIC" na capa, em que a história da Terra, do universo e de tudo está contada, como uma espécie de Wikipedia, construída a partir das experiências que várias espécies têm do universo. Chama-se Hitchhiker"s Guide to the Galaxy e Douglas Adams criou-o entre 1979 e 1992, numa saga de ficção científica humorística em que os golfinhos salvam o mundo. Em Portugal conhecemos a trilogia de cinco tomos (os dois primeiros editados pela Saída de Emergência) como À Boleia pela Galáxia

Esta ideia de uma enciclopédia-guia turístico colaborativo também nos acompanha. Maria João e Pedro não são biólogos marinhos mas já assinaram Golfinhos do Sado, o álbum bilingue que compila a história destascriaturas que seguem há 14 anos. No no seu prefácio, o ambientalista e professor catedrático Viriato Soromenho-Marques descreve o livro como "um comovente e belo acto de amor e reconciliação". Maria João e Pedro são tão próximos de ManaiaLázaroEscuro ou Raiz (alguns dos golfinhos que vimos há uma semana), com os quais cresceram enquanto setubalenses, que partilham com a Reserva Natural do Estuário do Sado o privilégio de os baptizar. "Quem os vê primeiro dá o nome", sorri Pedro Narra. Como às estrelas.

Eles tanto podem estar mais no estuário, como foi o caso, ou ir espreitar o mar e os amigos que por lá fazem - roazes, por exemplo. O Vertigem Azul acompanha-os, com saídas que também podem passar por um mergulho ao largo da Arrábida em enseadas mais escondidas. No início, a Vertigem Azul tinha uma lancha, mas o catamarã tem maior capacidade e versatilidade, podendo ser alugado para eventos empresariais, festas e outras actividades. 

A remodelação maciça da península de Tróia traz-lhes essa prosperidade. Embora neste fim-de-semana de Maio a zona do Troiaresort e outros empreendimentos pareça um Algarve adormecido, com punhados de turistas na praia e nas ruas meticulosamente desenhadas e ajardinadas, "nos últimos cinco anos" tem havido "mais turismo", confirma Maria João à saída do Vertigem da Marina de Tróia, com o casino, o centro de conferências e as torres do Troiaresort a afastarem-se. "Os hotéis promovem bastante o passeio", explica, já que, a par das ruínas romanas ali mesmo ao lado, são estas as duas principais actividades-chamarizda região. Há residências de luxo etownhouses, há o Tróia Design Hotel (cinco estrelas), há os prédios mais antigos que não sofreram o mesmo destino das implodidas Torralta (em 2005), há campos de golfe, há ciclovias, há muita duna, felizmente preservada, e um areal claro e água transparente. A zona está pensada para todos e é acessível para carrinhos de bebé e pessoas com mobilidade reduzida. 

Vertigem, entretanto, depois de nos à costa da Arrábida, está a aproximar-se de Setúbal. É aí que parte dos tripulantes fica, e Maria João também. "Setúbal tem problemas como destino turístico", diz a gestora. Mas aqueles 16 quilómetros desde Tróia à Comporta são uma pequena fatia de paraíso, que não pode ser mais estragada pela "indústria pesada e poluente" que polvilha a margem norte do Sado. Como é que os nossos salvadores golfinhos, tão crentes na espécie humana (pelo menos é o que Douglas Adams diz, e os escritores de culto raramente se enganam), vivem ali no meio de tainhas e... poluição? "Eles são como nós, adaptam-se", resume Maria João Fonseca. 

Um hotel para meninos

Pedro conduz o catamarã até Tróia três horas e pouco depois da partida. Ele fica ali, daquele lado do Sado. Nós também, rumo à praia. Perto da marina há retroescavadoras na praia e uns canos negros de grandes dimensões pouco tranquilizadore. A praia frente ao hotel Aqualuz, e às suas piscinas, quartos-apartamento de decoração elegante com uma vista que se recomenda (a Arrábida, o mar, o rio, a praia), parece mais segura. É só seguir pelas passadeiras de madeira que estriam a duna (e a protegem), características do ordenamento costeiro recente em Portugal. 

O Aqualuz Suite Hotel Apartamentos divide-se entre troiamar, troiario e troialagoa. Propriedade da Sonae (dona do PÚBLICO), o Troiaresort é um dos grandes empreendimentos da península (486 hectares, onde investiu 264 milhões de euros até Dezembro de 2010, reforçando também as infra-estruturas e embarcações de travessia do Sado), onde há também presença dos grupos Pestana e Amorim. 

O Aqualuz é um hotel para meninos - ou seja, é vocacionado para famílias com filhos. São eles que brincam na piscina e parecem ser eles os principais destinatários do chefHélio Santos no Restaurante Azimute (no buffet de jantar há menos "quatro estrelas" e mais simplicidade -boa variedade de entradas e pratos principais "fáceis para crianças", como a massa à bolonhesa). Ao jantar, bem como no pequeno-almoço do dia seguinte, o ruído das crianças enche as salas e a palavra voucher pinga regularmente da boca de empregados e clientes. Sinal dos tempos. 

Já é domingo e, apesar do céu nublado, o calor continua. As piscinas estão cheias, owellness center fica a uma distância segura do restolhar da diversão infantil e ao átrio chegam as bagagens coloridas familiares. Alguns dos convivas do Aqualuz, finda a escapadela de fim-de-semana (o check-out é às 14h), têm a mesma ideia que nós - peixe na Comporta. Peixe fresco, pão alentejano, coentros e outros pequenos tesouros numa das zonas mais belas do país, ainda com uma tarde de praia pela frente. Não sabemos se Douglas Adams alguma vez esteve nesta parcela da costa alentejana, mas citamos novamente os seus golfinhos e a sua frase de despedida quando abandonam a Terra já salva: "Adeus, e obrigada pelos peixes".


Como ir
A partir de Lisboa siga para sul pela ponte 25 de Abril ou pela ponte Vasco da Gama em direcção a Setúbal. No porto da cidade, apanhe o ferry para Tróia (horários e preços em www.atlanticferries.pt). Outra opção é seguir pela A2 até Alcácer do Sal (saída 8) e sair para o IC1; continue para a N253 e, chegado à Comporta, à direita para Tróia. De barco, pode atracar na marina, com Bandeira Azul Europeia e capacidade para 184 embarcações. 

Aqualuz
Tarifas médias (2012): entre 1 de Novembro e 28 de Fevereiro a partir de 72€ com pequeno-almoço; de 16 de Junho a 25 de Agosto, a partir de 136€; crianças até aos 12 anos grátis partilhando apartamento com adultos.

O que fazer

No hotel há piscina interior e exterior, sauna, jacuzzi, banho turco e sala defitness, bem como um spa. Ateliers e workshops para crianças. No troiaresort há campos de golfe, futebol e ténis, além da marina, casino e restaurantes. Centro Arqueológico: visitas guiadas no 1º e 3º sábado de cada mês entre Março e Maio às 15h e em Junho aos sábados, às 10h; em Julho e Agosto há visitas às quartas e sábados, às 10h. É necessária marcação prévia pelo email arqueologia@troiaresort.pt

Golfinhos
A Vertigem Azul, que convidou a Fugas a bordo, faz estas visitas todo o ano, com partidas de Setúbal e de Tróia. Normalmente são duas por dia, às 9h30m e 14h30m (Setúbal) e às 10h e 15h (de Tróia), com preços de 30€/adulto e 20€/criança até aos 12 anos entre 1 de Janeiro e 14 de Julho e 1 de Setembro a 31 de Dezembro; entre 15 de Julho e 31 de Agosto os adultos pagam 35€ e as crianças até 12 anos 20€. Tel.: 265 238 000; 916 982 907. http://vertigemazul.com
A Mil Andanças sai três vezes por dia num barco de recreio de Tróia e Setúbal e os adultos pagam 30€ e as crianças dos quatro aos 12 pagam 20€. Telefones: 265 53 29 79 | 265 53 29 96. www.mil-andancas.pt
Andar a cavalo nas praias e arrozais da Comporta com os Cavalos na Areia. Tel.: 919002545, 50€ por 2h a 3h. www.cavalosnaareia.com


Onde comer
Restaurante Azimute, no Aqualuz, 20€/pessoa no buffet. Não recomendamos a maioria dos restaurantes e cafés da Marina. Perto da Comporta, além dos muito publicitados Ilha do Arroz e Museu do Arroz, orestaurante Dona Bia (tel.: 265 497 557), na Estrada Nacional 261, à chegada à Torre, é um enclave de qualidade do peixe fresco e cozinha alentejana. Há alguma espera e as reservas são difíceis de garantir. Preço médio por pessoa: 20/25€

A Fugas passou uma noite no Aqualuz Suite Hotel Apartamentos troiario a convite do troiaresort

Nome
Aqualuz Suite Hotel Apartamentos
Local
Grândola, Carvalhal, Tróia - Carvalhal GDL
Telefone
265499012
Website
http://www.aqualuz.com
--%>