Fugas - hotéis

  • Adriano Miranda
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E, no entanto, o hotel move-se

Por Álvaro Vieira ,

Cinco quartos do CH Design & Wine Hotel, em Caminha, estã instalados num bloco onde adormecemos a olhar para o Monte de Santa Tecla e acordamos virados para a foz do Minho. É uma rotação suave, mas chega para marcar a diferença.

Ainda é algo cedo para jantar, mas percebe-se que o dia já deu o que tinha a dar. Só dois dos bancos de jardim da Praça Conselheiro Silva Torres, no centro de Caminha, estão ainda ocupados. Num, quatro adolescentes falam com um quinto que chegou de bicicleta; no outro há três reformados em silêncio, como se já estivessem esgotado todos os assuntos e travassem agora uma luta íntima com a inércia para arrancarem dali. Olhando para esta bela praça granítica, com chafariz ao centro, ficamos com a ideia de que o movimento, daqui a nada, se limitará à marcha dos ponteiros do relógio que, há cerca de 400 anos, pontua a torre do século XII à nossa esquerda. Mas não. Atrás de nós, há um hotel com esta excentricidade: move-se.

O Solar ou Casa dos Torres está aqui desde o século XVIII. O interior do edifício barroco foi destruído para acomodar este CH Design & Wine, um hotel de charme com quatro estrelas, que abriu a 18 de Maio. A fachada apresenta as portadas e gradeamentos pintados de um vermelho que os proprietários dizem ser a cor original. A integração na praça é perfeita e ninguém diria que ao solar foi acrescentado um segundo andar, só visível do outro lado.

Este é o último sítio onde se esperaria encontrar uma inovação tecnológica. No entanto, esse aspecto foi mesmo condição necessária para o hotel beneficiar de uma comparticipação comunitária de 2,8 milhões de euros, para um investimento total, aquisição do edifício incluída, de cerca de quatro milhões.

A tal inovação tecnológica materializou-se no designado Edifício High-Tech: um "paralelepípedo" de 180 toneladas, assente num pilar que roda cerca de 35 graus. Ficaram neste bloco os cinco quartos high-tech, de aspecto mais luxuoso, onde o hóspede pode adormecer a olhar para os pontos luminosos no Monte de Santa Tecla, do outro lado do rio, já na Galiza, e acordar virado para a foz do Minho, com a Mata do Camarido à esquerda.

A rotação deste bloco, de concepção e fabrico nacionais, pode ser programada, mas tem sido feita manualmente, por uma questão de segurança, por volta das 8 e das 20h. O movimento é lento, quase imperceptível para quem está nestes quartos, mas faz-se em cerca de cinco minutos, uma vez que a amplitude da rotação também não é grande. Mas esta parte do hotel move-se mesmo, ao ritmo do sol, mas sem o seguir.

Tendencialmente paralelo à marginal de Caminha, este bloco giratório que fecha o quadrado que as três alas do edifício projectam é definitivamente o traço característico deste CH Design & Wine, que lhe tem valido ecos além-fronteira. Mas a personalidade do hotel também se define pela aposta nos quartos temáticos.

São 23 e, como se pode ler nas placas com letras de néon rosado à porta, nos corredores sombrios que sugerem a entrada para uma sala de projecção, os quartos têm nomes e decoração evocativos de formas de expressão artística: cinema, teatro, escultura, azulejo, cenografia, vídeojogos, banda desenhada, street art, etc. Alguns são verdadeiramente surpreendentes, como o quarto "vídeojogos", com paredes e tecto decorados com o labirinto negro do Pacman. Ainda por cima, este quarto irreverente tem uma vista o mais tradicional possível, já que é virado para a praça onde, de manhã, se vêem senhoras a ir à missa e não é difícil imaginar o Sr. Hulot, dos filmes de Tati, a comprar o pão ou um jornal.

Percebe-se que o hotel apela sobretudo a um público jovem e urbano. Aliás, todos os quartos têm uma Playstion fixa na parede, ao lado do televisor, e os hóspedes recebem um iPad de empréstimo logo no check-in. O ambiente é muito informal. A bicicleta encostada a uma parede do átrio ou os caixotes tricolores, para reciclagem do lixo, nos quartos de banho dos quartos, por exemplo, sugerem um hostel urbano da moda.

A cozinha e o serviço de restaurante revelam muita segurança, permitindo arriscar que também por aqui se há-de afirmar o CH Design & Wine Hotel. O pessoal em geral, aliás, é atencioso e bem preparado, não tendo passado despercebida a forma competente como recebe potenciais clientes, que entram só para visitar o espaço, ou troca impressões sobre as obras de Resende, Paula Rego, Tapiés e outros, presentes na Whitebox, a galeria do rés-do-chão.

Finalmente, e como o próprio nome indica, o CH Design & Wine também pretende afirmar-se como hotel vínico, dispondo de uma enoteca na cave que deverá entrar em funcionamento ainda este Verão. A ideia é afirmar este espaço como uma valência autónoma do hotel, abrindo esta biblioteca de garrafas, de luz morna, aos clientes das tapas, da degustação de vinho a copo e outros eventos na área da enofilia.

A enoteca dispõe de um acesso próprio, pelo lado da marginal de Caminha, dignificada pela fachada em tons de cobre que o arquitecto Pedro Guimarães concebeu para esta frente, cuja requalificação está há muito prometida mas tarda a chegar. A indefinição quanto ao futuro do Polis Litoral Norte continua, desgraçadamente, a impedir Caminha de apresentar uma marginal que não destoe da beleza da foz do Minho. Será preciso começar por algum lado. O hotel, pelo menos, já se move.

CH Design & Wine Hotel
O CH Design & Wine Hotel tem 23 quartos temáticos que o hópede deve espreitar, no site, para escolher o preferido antes de reservar. Os quartos com vista de praça são mais baratos, com preços, para casal, entre os 70 e os 140 euros, consoante a época do ano. Nos quartos com vista de rio, tarifas de 80 e a 150 euros. Os quartos do Edifício High-Tech custam entre 110 euros na época baixa e 170 na época alta. Há ainda uma suite com terraço e vista de rio cujo preço vai, ao longo do ano, dos 120 aos 180 euros. O preço da suite nupcial, ao contrário dos casamentos, não tem altos e baixos: custa sempre 200 euros.

Como ir
Uma vez que não faltam motivos de interesse na região a pedir passeios, o melhor é ir de carro. E mentalizar-se que, neste caso, não merece a pena fugir às portagens da A28, que se pagam entre o Porto e Viana do Castelo. É que a alternativa, a EN 13, como aconteceu com outras estradas que tinham Scut a correr paralelas, há muito adquiriu um carácter urbano, cheia de atravessamentos de cidades, de trânsito e cruzamentos, com ou sem semáforos, que a tornam desaconselhável para trajectos mais longos. As portagens entre o Porto e Viana do Castelo ficam por 4,05 euros.

Onde comer
Há muita e boa mesa por onde escolher, e perto do hotel. Ao Amândio, na Rua Direita, 129, em Caminha, vá a pé. Está aberto todos os dias, até às 23h, para servir peixes e mariscos fresquíssimos e outros petiscos. Aceita reservas (tel.: 258921177) e o preço médio da refeição ronda os 30 euros. Não muito longe, mas já para ir de carro, temos o Ancoradouro (Rua João Baptista da Silva, 522) em Moledo. Como o nome indica, também aqui impera, ainda que em convivência pacífica com algumas carnes suculentas, o peixe da zona. Fecha à segunda-feira e é prudente reservar (tel.: 258722477). O custo médio da refeição fica por 25 euros. Finalmente, em Vila Praia de Âncora, experimente-se A Tasquinha (Rua dos Pescadores, 11, tel.: 258911183), mais conhecida pelo nome do proprietário, o Ibraim, antigo futebolista do Benfica e da selecção nos anos 1970. Aqui a ementa compõe-se com aquilo que o mar oferece diariamente. O ambiente rústico é reforçado pelas malgas em que se serve verde tinto. Com 20 euros já se faz a festa.

O que fazer
A primeira proposta de passeio é sobretudo outra sugestão gastronómica, ditada por comiseração pelos que não gostam de peixe. Não é que Vilar de Mouros não valha a visita por si só, pelas suas casa tradicionais em granito, pelas margens do rio Coura e pela ponte seiscentista. O palco onde, em 1982, o Festival de Vilar de Mouros apresentou uns tais U2, também já é quase um monumento. Mas em Vilar de Mouros fica também o Retiro da Ponte (Caminho da Ponte, 6), que funciona de quinta a domingo, dia em que já só serve almoços (tel.: 258723115). É um festival gastronómico para quem procura coisas mais substanciais como rabo de boi ou açorda de alheira. Depois, invista nos passeios pela densa Mata Nacional do Camarido, entre Caminha e Moledo, ou pelos trilhos da Serra d"Arg. Ou numa excursão de barco ao forte da Ínsua.

 
A Fugas esteve alojada a convite do CH Design & Wine Hotel

Nome
CH Design & Wine Hotel
Local
Caminha, Caminha, Praça Conselheiro Silva Torres, 8
Telefone
967053001
Website
http://www.designandwinehotel.com
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