Fugas - hotéis

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Uma janela telúrica para a serra

Por Pedro Crisóstomo ,

Sofia Gonzaga decidiu deixar Lisboa e transformar a casa dos avós, em Alvaiázere, num espaço de turismo rural. Chamou-lhe Aldear e o nome faz todo o sentido. Este é um espaço para fugir ao corrupio da cidade e aldear também é isto.
Os pinhais densos e os corredores de eucaliptos ficaram para trás. O branco das casas de telhado ocre sobressai no manto verde carregado pelas chuvas da Primavera. A esta hora, o sol ainda queima e a luz entra directa pelas janelas viradas para a serra de Alvaiázere, caminho de curvas e contracurvas entre o arvoredo agitado pela força do vento neste concelho do Pinhal Interior Norte.
 
Subimos a um sótão como que para subir à serra. Por umas horas, é esta a nossa morada - uma casa no sótão onde o amontoado de papéis e pó deram lugar a um arejado apartamento da unidade de turismo rural Aldear, inaugurada em Maio. E aqui ficamos, estendendo o olhar ao limite da serra, sorvidos pela calma rural da vila e o apelo ao caminho.
 
Terra conquistada aos mouros, que no século VIII lhe chamaram Al-Bai-Zir ou Alva-Varze (consoante as versões historiográficas), Alvaiázere é uma janela voltada para um maciço calcário coberto de vegetação fértil, um dos vértices das Terras de Sicó. Está entre as romanas Conimbriga e Sellium (Tomar), entre o rio Nabão e o Zêzere. D. Duarte doou a vila em 1435 à rainha D. Leonor e 79 anos mais tarde receberia foral novo de D. Manuel. É naturalmente uma vila de tradições locais. E essa é também uma das filosofias do espaço da Aldear, três apartamentos (dois andares) que combinam a sobriedade das linhas modernas com um regresso ao passado e ao universo rural do concelho.
 
Sofia Gonzaga, a proprietária, decidiu deixar Lisboa a tempo inteiro e lançar-se na área do turismo rural, reabilitando a casa dos avós em Alvaiázere, uma pequena quinta no coração da vila. Foi também a pensar no imaginário dos verões ali passados que idealizou o projecto.
 
Cada apartamento, que Sofia pensou para famílias com filhos, está decorado com um tema diferente. Mas em todos há algo em comum: poesia nas paredes brancas.
 
Na Casa do Sótão, a inspiração de Desejo Amante. O espaço é amplo e quente, como o poema de Bocage. O apartamento (dois quartos, duas casas de banho e uma sala ampla que comunica com a cozinha a todo o comprimento da casa) recolhe o sol durante o dia. E mais sobressaem os castanhos, os cinzentos e os torrados.
 
Descendo as escadas exteriores, partilham o andar duas casas independentes, a Branca de Neve e a Casa Azul. À primeira, com janelas voltadas para o centro da vila, Sofia deu uma decoração mais urbana, onde optou por colocar na parede um poema de Pessoa (Põe-me as mãos nos ombros...). Na casa ao lado, é Florbela Espanca quem guia o espaço, com vista para a serra e para o jardim da casa, onde o azul da piscina combina com a decoração interior.
 
Lá em baixo, as espreguiçadeiras e os cadeirões em meia-lua convidam a um sumo natural ou a uma bebida. O jardim - muros altos empedrados e canteiros sóbrios - era o antigo pomar, do qual ficaram as velhas árvores de jasmim e as laranjeiras. É um lugar que a avó de Sofia, a morar mesmo ao lado, tem gosto em ver decorado pela neta, que ali pensou um espaço para churrascos, pequenos-almoços e lanches. Onde antes foi a antiga adega da casa, nascerá o restaurante da Aldear, a que Sofia quer dar o nome de Jasmim. Tudo tem um significado. E no empreendimento montou uma pequena loja onde são vendidos alguns produtos locais - bolos, compotas, chás - e algumas roupas.
 
Terra de cruzamentos
Para já, o projecto arrancou com três apartamentos, mas a ideia é fazer crescer o número de "casas" para receber hóspedes, vocacionando um outro edifício para turismo rural mais jovem. É aí que funcionará a oficina de bicicletas, uma ideia para fazer do espaço uma espécie de hotel de bicicletas.
 
A casa, com entrada pela rua principal que atravessa a vila, frente à Igreja de Alvaiázere e ao coreto, é vizinha do pouco comércio. É andar meia dúzia de passos e anunciam-se bifanas na tasca O Coreto, uma sugestão mais discreta do que o escaparate da papelaria vizinha, onde convivem com os jornais do dia capas de revistas mais ou menos ímpias.
 
Ir a Alvaiázere vale também pela experiência de comungar a vila, ouvindo de perto as preocupações de quem no Pinhal Interior Norte se sente poucas vezes retratado nas televisões e nas páginas dos jornais. À casa do sótão chega-nos O Alvaiazerense, o jornal (com 31 anos) que se apresenta como o "mensário independente defensor dos interesses do concelho". Na edição que alguém, de surpresa, deixou pela fresta da porta, um vox populi deixava no ar uma pergunta retórica: "O que acha da possibilidade do concelho de Alvaiázere deixar de ter ensino secundário?".
 
Para conhecer a vila e passear pelas freguesias à volta - Maçãs de Caminho, Maçãs de D. Maria, Almoster - a bicicleta é uma opção para percorrer as florestas, os olivais e atravessar as várzeas que abraçam o rio Nabão e a ribeira de Alge.
 
É uma terra de cruzamentos. Sofia Gonzaga recorda com nostalgia as férias grandes ali passadas. Diz que só hoje dá o verdadeiro valor à terra dos avós. É uma evasão ao corrupio da cidade. Afinal, aldear também é isso.
 
A Fugas esteve alojada a convite da Aldear
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Como ir
A partir do Norte, o melhor percurso é sair em Pombal na A1 e apanhar o IC8 em direcção a Ansião. Seguir no sentido Tomar pela N350 até encontrar a indicação de Alvaiázere. Para quem partir do Sul e optar pela A1, deve sair em Torres Novas e apanhar a A23 em direcção a Abrantes. Sair na direcção Tomar/Coimbra (A13), seguindo até Alvaiázere. Os desvios de obras estão bem sinalizados.
 
O que fazer
Alvaiázere é uma via verde para actividades desportivas. Na Aldear, estão disponíveis bicicletas para passeios (mediante pagamento). Para caminhadas, há seis percursos de pequena rota e um mais longo sinalizados pelo concelho. Os percursos estão certificados pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal e é possível fazê-los em grupo junto do Turismo ou online no site da Câmara de Alvaiázere. Para montar a cavalo, a Aldear faz a ponte com a Coudelaria Al-Baizir, na vizinha Maçãs de Caminho, onde é possível ter uma aula de equitação em cavalo lusitano.
 
Uma manhã lúdica em Ansião pode incluir uma visita à pequena fábrica artesanal Amor de Biscoito, onde não faltam variedades de bolos secos e biscoitos confeccionados segundo receitas tradicionais e vocacionados para um segmento gourmet. A empresa, lançada há apenas três anos pela economista Rosa Filipe, abre as portas para workshops e vende directamente na casa de chá contígua à fábrica - instalada no antigo infantário de uma fábrica da CUF. Para além das tradicionais "lesmas" de canela de Ansião, a empresa começou por fabricar uma linha de biscoitos caseiros (de noz, amêndoa, limão, aveia e passas, entre outros) e cresceu com todo um conceito gourmet, das embalagens aos chás, doces e salgados da marca.
 
Onde comer
A Aldear não tem, para já, restaurante a funcionar e a oferta em Alvaiázere é escassa e pouco convidativa. Atravessando a serra, em 20 minutos de carro até Ansião, a Fugas almoçou no restaurante Nascente de Nabão. Neste antigo lagar, onde a vista conta tanto como a gula, a tibornada de bacalhau é servida bem quente num tacho de barro. Com vista para o rio.
Nome
Aldear
Local
Alvaiázere, Alvaiázere, Rua Conselheiro Furtado dos Santos, 16
Telefone
966234320
Website
http://www.aldearturismorural.com
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