Fugas - hotéis

  • Enric Vives-Rubio
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Como uma janela aberta para Lisboa

Por Luís J. Santos ,

À Sé, há um hotel que deu um novo brilho a um velho beco. Entre o design e a “casa de viajantes”, o quatro estrelas Memmo Alfama tem dado que falar e já foi nomeado para melhor novo hotel urbano pela Wallpaper.

A noite cai e vamos seguindo pela pequena Travessa das Merceeiras, ali mesmo a dois passos da Sé de Lisboa. A ruela, arrumadinha, está levemente iluminada. Mais ali, surge-nos uma parede onde um gigante rosto parece receber-nos (é obra de Vhils – Alexandre Farto, encomendada propositadamente pelos nossos anfitriões). Quase parece que vamos depois passar os portões para o pátio de uma antiga vila, onde a vizinha ao lado estende a roupa. Mas o beco termina mesmo é num edifício onde brilha a modernidade neste espaço de velhas tradições. Chegamos ao Memmo Alfama, o primeiro hotel de luxo da zona, um quatro estrelas que quer conjugar sinais da proximidade de bairro com design, história e histórias.

O projecto, que integra a rede Design Hotels, já conseguiu várias distinções, incluindo a nomeação para melhor novo hotel urbano pela bíblia de tendências mundiais Wallpaper (os resultados da eleição saem em Dezembro mas, como nos dirão, não têm faltado “hóspedes Wallpaper”).

Aqui chegados, vindos do beco, preparamo-nos para a verdadeira descoberta, rumo à luz – ou a várias luzes, como já veremos. Pelo caminho até ao nosso quarto, uma mansarda, vamos percebendo que estamos numa “casa grande” onde o que mais brilha são as janelas e um terraço deluxe para todos os deslumbres que se queiram, conjugados nesse postal mais que perfeito de casario de Alfama e Tejo.

Instalados na nossa mansarda alfacinha, clarinha e minimal, sentimo-nos parte do bairro. A nossa mansarda, no caso, cria vários desníveis – a exemplo de outras áreas do hotel – com pequenos degraus. Os quartos neste hotel (zona oblige) são de tamanho reduzido (à volta dos 20m2, o nosso um pouco maior) mas conseguem-se milagres espaciais. Uma pequena salinha, dois degraus, o espaço de cama; dois degraus para o lado, o duche. Uma cama grande e fofa, que nos promete “lençóis de algodão egípcio”, acolhe-nos para a noite. Ali numa das janelas, subimos mais um degrauzinho para um varandim sobre a noite ribeirinha. Um megacruzeiro ilumina o rio e parece bastar estender um braço para atingi-lo.

Com todo o hotel a abrir-se assim para estas imagens, nenhuma é mais perfeita do que a conseguida ali abaixo, no terraço por onde já passeámos à noite e voltamos de manhã. Na sala de estar, predispõe-se um farto pequeno-almoço (frutas, pães, queijos, iogurtes, sumos, etc., etc.) com uma grande mesa comunal a convidar à partilha. Ou a levar tudo para o ar livre, para as mesas junto da pequena piscina que quase se mescla com o rio e fica a pairar sobre o bairro, rodeada de mais uma série de desníveis que constroem espaços de intimidade em zona aberta. É esta a área mais magnética para todos os olhares. E aqui está também o bar, que se ergue como um cubo, agora naturalmente luminoso nesta manhã branca lisboeta que nos acolhe, à noite a meia luz para serviço de bar (ao longo do dia também serve petiscos e bebidas, com destaque para ingredientes e produções lusas, de pastéis de bacalhau, saladas de polvo, carapaus alimados ou peixinhos da horta, enchidos e queijos ou um pica pau de novilho).

Mas se tudo parece conduzir-nos para fora, o certo é que há muito também para descobrir, detalhe a detalhe, por dentro. O Memmo Alfama – o segundo hotel da cadeia Memmo, nascida em Sagres com o Baleeira e que, em breve, deverá também estrear-se no Príncipe Real – celebrou um ano em Setembro e tem dado nas vistas. O boutique hotel, com apenas 42 quartos, ergueu-se a partir de três velhos edifícios que “estavam a cair”, como nos conta o director desta unidade hoteleira, Paulo Duarte. A história destas “ruínas” passa de palácio de outros tempos ao edifício principal datado do séc. XIX – foi fábrica de graxa e vila operária. O projecto do hotel demoraria seis anos, passando por uma reconstrução que pretendeu manter as fachadas originais, procurando o conjunto atingir a integração total na tradição e história do bairro. “A primeira grande intervenção contemporânea no centro histórico” de Alfama, resumiria o seu arquitecto, Samuel Torres de Carvalho, que co-assina os interiores com João Corrêa Nunes.

Aproveitando detalhes das construções originais, reconstruindo por completo outras áreas ou mesmo apelando às várias histórias e vivências do espaço, o Memmo Alfama oferece-nos uma estadia “em casa”, embora, claro, com um luxo e comodidades hoteleiras contemporâneas. E tudo numa perspectiva que, como nos diz Paulo Duarte, quer dar ao hóspede uma “experiência autêntica” da cidade. Para tal, muito contribui, sublinha, a dimensão do hotel que, ao contrário de grandes cadeias, consegue uma maior “proximidade com os clientes”. Até utilizando “pequenos gestos” que, de facto, têm o seu quê de sedução. Seja uma sacola de correio no quarto onde se inclui uma lista com dicas e sugestões actualizadas sobre Lisboa e o bairro (“quase como sugestões de um amigo”), seja na oferta de um caderninho e lápis personalizados com o convite a desenhar e deixar mensagens (que são depois expostas num grande quadro no corredor de entrada do hotel, e há muitas por lá, de eléctricos a Pessoa, do fado ao rio e casario, entre mensagens elogiosas e saudades). E, até, com a oferta de visitas guiadas (que são mesmo gratuitas) pelo bairro, que nem são bem um “tour turístico”. A ideia é os clientes saberem “onde estão e por onde vão, conhecerem o bairro”. Até porque 95% dos clientes são estrangeiros. “É uma forma de abrir aos hóspedes o labirinto de Alfama. Vamos com eles e damos dicas tipo ‘há ali aquela escadinha, se gosta de fado, tem ali um bom sítio para jantar’.”, diz-nos Paulo.

Pelo Memmo, descobrem-se outros mimos para nos sentirmos em casa. Se na sala de estar há biblioteca – e podem tirar-se livros para ler e levar, até participar na troca de obras, deixando uma; ali ao lado há também um frigorífico sempre disponível para apanhar um snack a qualquer hora (no tempo do pequeno-almoço é onde também cada um pode ir buscar o seu sumo natural em garrafinhas antigas). Já num antigo forno, tornado espaço histórico e zona íntima, há uma Lisbon Story, melhor, várias “histórias de Lisboa”: é local dedicado à cidade, com livros, quadros, guias e materiais com informações locais.

Enquanto se passeia pelo hotel, e se vai descobrindo por todo o lado mais uma janela-postal, cada uma com um, quase se diria, enquadramento divino, pode ir-se também admirando outras obras de arte. Que vão desde capas de discos (na nossa mansarda “toca” na parede a capa de um velho single de vinil, uma canção muito a propósito: “Lisboa à beira-mar” por Maria Pereira) a peças que, por coincidência, foram mesmo feitas aqui, caso de uma grande fotografia que decora a parede do bar. Uma zona do hotel chegou a ser a casa-estúdio do entretanto falecido fotógrafo Alexander Koch. E aqui ficou a sua marca: a fotografia é de sua autoria e até foi produzida neste exacto sítio.

São os pormenores vivos de um hotel que vive deste casamento do design com a abertura e integração em Alfama, que conjuga a solidez das madeiras e o branco do mármore com uma decoração marcada a preto e vermelho. Mas, que acima de tudo, quer dar-nos uma estadia entre “amigos. “Mais do que hotéis luxuosos, as pessoas procuram hoje verdadeiras experiências que as aproximem dos locais que visitam”, diz-nos Paulo Duarte. “É isso precisamente que nós oferecemos no bairro mais genuíno e autêntico de Lisboa”, garante. Mais que um “hotel para turistas”, esta é mesmo “uma casa para viajantes”, diz, rematando: “Queremos ajudar os hóspedes a enriquecer a sua viagem”.

 

Preços e informações: O hotel tem 42 quartos de várias tipologias, com serviço de pequeno-almoço, a partir de preços promocionais por noite desde cerca de 115€ até uma média de 150€. Os quartos estão apetrechados com todas as comodidades, minibar, ar condicionado, cofre, tv LED, iStation para iphone, ipod, ipad. Há Internet sem fios gratuita. O Memmo Alfama Terrace Wine Bar está aberto ao longo do dia.

Nome
Memmo Alfama
Local
Lisboa, Castelo, Travessa das Merceeiras, 27
Telefone
210495660
Website
http://www.memmoalfama.com/
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