A primeira casa deste monte isolado próximo de Campo Maior remonta ao século XIX. Ao longo dos anos, o edifício térreo de paredes caiadas a branco foi-se expandindo, conforme a necessidade corrente, sem preocupação com esquadrias ou harmonia da arquitectura. Hoje, a fachada sul — que nos recebe ao chegar e que dá abrigo à maioria dos quartos — é a memória viva da cronologia de uma casa de campo, onde o importante era a função, não a estética. Quatro janelas intervaladas por três portas, cada uma à sua altura, com diferentes comprimentos e larguras, dão-nos as boas-vindas, dispondo-se como se quisessem imitar a ondulação das searas ao vento que nos acompanharam a subida pela herdade ou o voo dos pássaros que ali chegam a cada estação.
A unidade de turismo do Monte Alto — inaugurada no início do ano — é, por isso, antes de tudo uma história de família. “O meu bisavô, José Gonçalves Pinheiro, foi o primeiro proprietário, ao casar-se com dona Leopoldina da Gama Pinheiro, que tinha esta herdade como dote”, conta João Parreira, apontando para os vários documentos e fotografias que ocupam uma das paredes da recepção. Ao lado, uma escrivaninha da I Grande Guerra foi herdada do outro avô, hoje preenchida por um moderno computador, panfletos, papéis e relíquias de outros tempos. Os velhos livros do avô materno, veterinário, empilham-se igualmente pela sala.
Quase inevitavelmente, “a ideia de adaptar o monte a uma unidade de agroturismo” nasceu também ela na família. “O meu filho mais velho estava a estudar agronomia e para o projecto final de curso tinha de fazer um trabalho ligado à agricultura. Escolheu a área de diversificação, centrando-se no turismo em espaço rural e pediu-me dados sobre a herdade”, recorda. Nunca tal “lhe tinha passado pela cabeça” mas, confessa, “estava ali uma coisa boa”. Tiago tinha pensado em instalar construções pré-fabricadas, o pai decidiu restaurar a casa de família, deixando o máximo de estrutura intacta possível. No corredor, as antigas janelas de madeira são agora molduras, onde se mostram fotografias do processo, um antes e um depois.
Os galinheiros, as cavalariças, a antiga sala ou a cozinha são agora os oito quartos da unidade de turismo. As largas chaminés continuam lá, o pátio manteve os seus arcos e janelas, o chão da sala e dos corredores é de cimento afagado e o dos quartos é de tijoleira, a cumprir a tradição alentejana. A única divisão acrescentada foi a espaçosa sala, cujas modernas vidraças, rasgadas sobre o montado a perder de vista, voltam a marcar com cimento mais uma etapa na história da herdade. Dentro e fora de casa é o mundo rural que se nos apresenta, revelando a relação intrínseca da família às lides do campo.
A unidade turística situa-se no cimo de uma propriedade de 300 hectares, coberta por grandes áreas de montado de azinheiras, alguns sobreiros e oliveiras, onde são criadas as 580 ovelhas e os 400 porcos de raça alentejana que vivem na herdade. Lá ao fundo, no vale, conseguimos vislumbrar alguns dos suínos de pele escura que pastam à sombra. Mais perto reluzem as pequenas cabanas triangulares de alumínio onde ao final do dia regressarão. “A minha vida é a agricultura”, confessa o proprietário da unidade hoteleira. Formado também ele em agronomia, João Parreira, de 55 anos, esteve sempre ligado à agricultura e à pecuária extensiva. O turismo veio agora complementar a actividade. “Continuamos a morar em Elvas mas quando temos hóspedes vimos para aqui”, conta.
O espírito do campo
Quem cá chega é convidado a calçar as botas e a participar nas actividades agrícolas, desde lidar com os animais a semear as pastagens ou a colher os frutos da horta. No entanto, quem do campo apenas preferir os ares e o silêncio, encontra na piscina e na zona ajardinada envolvente o local ideal para banhos refrescantes e, no interior, todo o conforto de uma casa rural moderna. A decoração, pensada pelos proprietários, concilia mobiliário moderno com peças restauradas, como a escrivaninha da sala onde agora repousam livros de horticultura, a mesa baixa junto aos sofás, uma pequena consola ou o armário e o aparador, pintados a verde-água velho, onde pela manhã o pequeno-almoço se apresenta segundo a tradição da região: as gavetas enchem-se de pão alentejano, nas prateleiras envidraçadas há bolos, queijos, enchidos e compotas, sobre o aparador aguardam os cereais, os sumos, o leite, os iogurtes ou a fruta.
Aqui e ali, infindáveis pormenores ligados às lides do campo: ferros de marcar os animais, um cocho (colher de cortiça), uma corneta para chamar os cães de caça, uma esquila (chocalho pequeno), milho e trigo a encher os candeeiros, a fachada de um armário típico do Alentejo num dos quartos, noutro antigas portadas fazem agora de cabeceira. No pátio da entrada — talvez o recanto mais especial da herdade — há ainda alcatruzes (vasos de nora), ancinhos, enxadas, bancos de cortiça e pratos de barro, entre outros utensílios tradicionais. E um pormenor especial: lado a lado, uma janela pequena e baixa, outra grande e elevada. “Aqui era uma antiga cavalariça, a janela pequena servia para retirar os dejectos dos animais mais facilmente, a alta para atirar a palha directamente da carroça para o estábulo”, conta João. Hoje, pintadas de branco imaculado, emolduram a paisagem alentejana, que nos preenche o olhar até a serra de São Mamede delinear o horizonte. O silêncio é ensurdecedor e não temos dúvidas: aqui vive-se o espírito do campo.
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Os oito quartos – quatro twin (65€ por noite) e quatro duplos (a partir de 80€/noite) – têm casa de banho privativa, ar condicionado, televisão e vista sobre a herdade. Alguns gozam ainda de acesso directo para o exterior. Cada um tem uma decoração diferente, embora mantenham em comum a inspiração no mundo rural. A unidade de turismo inclui ainda várias zonas de estar, cozinha, pátio, alpendre e piscina exterior com zona ajardinada. A restante área dos 300 hectares da herdade é ocupada pelo montado, pela horta e pelos animais ali criados: porcos de raça alentejana e ovelhas. O pequeno-almoço está incluído na estadia. Não existe serviço de restauração, mas é possível encomendar refeições de restaurantes da região desde que pedido previamente.
A reserva antecipada da estadia é obrigatória.
O que fazer
A herdade possui grandes áreas de montado de azinho, alguns sobreiros e oliveiras, de pastoreio de porcos de raça alentejana e ovelhas e até uma pequena horta biológica. Os hóspedes podem participar em todas as actividades relacionadas com esta exploração agrícola e pecuária, auxiliando no maneio dos animais, na manutenção de vedações, na sementeira das pastagens, na poda das azinheiras, na apanha da azeitona ou no cultivo hortícola, entre outros. São 300 hectares, propícios para longas caminhadas, observação de aves (dependendo da estação podem-se avistar, por exemplo, perdizes, patos, cegonhas ou grous — os últimos transformados em logótipo da unidade turística) e até piqueniques, nomeadamente junto às margens da barragem do Abrilongo, até onde se estende a propriedade. Existem ainda bicicletas à disposição para passeios pela região e a herdade insere-se numa reserva de caça. Assistir e participar numa matança de porco é igualmente um programa que pode ser organizado para um grupo de hóspedes.
Para quem for amante dos desportos náuticos, na barragem do Abrilongo e na barragem do Caia (muito maior, localizada a dois quilómetros da herdade) é possível praticar vela, canoagem ou outros desportos em veículos não motorizados, pesca desportiva ou mesmo natação.
A poucos metros fica a pequena aldeia de Nossa Senhora da Graça dos Degolados e a menos de dez minutos de carro situa-se Campo Maior, onde pode visitar o castelo, a capela dos ossos, o museu de arte sacra, o lagar-museu dedicado à produção de azeite, entre outros. De tempos a tempos (não tem periodicidade regular) organizam-se as Festas do Povo, também conhecidas como Festas das Flores ou dos Artistas. No caminho até à sede do município pode ainda visitar o Centro de Ciência do Café e a Adega Mayor (esta dedicada ao vinho), dois projectos do Grupo Nabeiro.
Na região ficam ainda o Parque Natural de São Mamede, Elvas (cidade considerada Património da Humanidade pela UNESCO), Ouguela (a visitar o castelo, por exemplo), Portalegre ou, já em Espanha, Badajoz, Albuquerque, La Codesera ou Olivença.
Como ir
Se vier do Norte, siga em direcção a Portalegre e depois para a vila de Arronches. Aqui apanhe a EN371 em direcção a Campo Maior, até entrar na freguesia de Nossa Senhora dos Degolados. Nos primeiros semáforos vire à esquerda. A partir daqui encontrará placas a indicar “Monte Alto” até à herdade.
Para chegar a partir do Sul basta conduzir até Campo Maior e depois seguir pela EN371 em direcção a Arronches. A cerca de sete quilómetros de Campo Maior fica a freguesia de Degolados. Continue em frente nos primeiros semáforos e vire à direita nos segundos. Depois é seguir as placas que indicam “Monte Alto”.
Se previamente solicitado, o transfer de Campo Maior até à unidade de turismo é garantido para quem chega de transportes públicos.
- Nome
- Monte Alto
- Local
- Campo Maior, Nossa Senhora Graça Degolados, Herdade do Monte Alto
- Telefone
- 268688176
- Website
- http://www.montealto.com.pt/