Fugas - hotéis

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Um pé no monte e dois no Alentejo

Por Rita Brandão Guerra ,

Uma ideia de perfeição simples. A casa alentejana, caiada de azul lavanda, entre o campo e o mar. E um pequeno-almoço que termina com uma melancia aos pés.

São pormenores. Como é apanágio da simplicidade. O Alentejo oferece-se despretensioso. O turismo rural Pé no Monte, em São Teotónio, fica a quinze minutos de carro da Zambujeira do Mar, mas suficientemente longe para não haver ruído turístico. Nem vista para o mar.

O sonho que Gonçalo Marques concretizou em Agosto passado levou anos a cumprir-se na imaginação dos fins-de-semana que passou com a mulher, Helena, na costa alentejana. O terreno, de dez hectares, foi adquirido 13 anos antes e a ideia foi trilhando caminho. Nasceram três filhos. Aliás, aqui as crianças são mesmo bem-vindas.

Gonçalo e Helena sonhavam com esta espécie de lugar familiar alargado há muito tempo: “Isto é a sério, mas a brincar. Desde cedo que apontávamos na direcção certa. Somos clientes de turismo rural há muitos anos. A ideia foi amadurecendo”, diz Gonçalo. E a ideia da perfeição, que ganhou vida quando comprou o monte, era simplesmente esta: “Aqui, para mim, é perfeito. É o campo a 15 minutos da praia. ”

A casa alentejana, caiada de azul lavanda, tem janelas enormes, rasgadas para sobreiros capazes de dançar ao vento. Uma moldura de verde e amarelo. Todo o espaço é amplo. E um apontamento relevante da decoração deste turismo rural no campo, mas às portas do mar, é justamente essa ausência de excesso. Não se tem a sensação de carregar aos ombros o peso dos móveis de família restaurados... Há espaço livre, sem a obsessão de o preencher.

Gonçalo Marques cedeu apenas à tentação de trazer uma mala de viagem e umas botas antigas da Feira da Ladra, em Lisboa, e o forno a lenha da sogra, da Covilhã. O resto é um relvado de 1200 metros a clamar preguiça, com redes penduradas aqui e acolá nas sombras das árvores. Podíamos jurar que cheira a eucaliptos, mas não confirmámos. Há um trampolim perdido a reclamar pulos dos miúdos, uma casa pequenina de madeira para brincar e uma improvisada piscina só de areia para fazer castelos e puxar pela imaginação.

Desenganemo-nos. Nem tudo é poesia de campo e mar. “Às vezes, é preciso desentupir a fossa e lá se vai a ideia poética do turismo rural”, diz Gonçalo Marques. “E aqui o grande desafio é fora do Verão. O outro é o de vender o produto e estabelecer parcerias cá e lá fora, à semelhança do que faz a concorrência na zona. Trazer surfistas a partir de Outubro, por exemplo, e dinamizar com workshops. Sermos capazes de gerir isto sem ter uma estrutura demasiado pesada de custos...”, acrescenta.

Esta visão “comercial” do negócio tem a alavanca da experiência profissional do proprietário, que durante 14 anos trabalhou na informação financeira da Reuters, entre Madrid e Genebra, antes de voltar a Portugal. Agora, os próximos 20 anos no mesmo lugar já não o assustam nada. “Aqui, tudo parece encaixar. Agora é ir montando as pecinhas.”

Há uma “pecinha” que falha nesta casa. A piscina é inexplicavelmente pequena para o tamanho do jardim, para um apartamento e para os seis quartos, preparados para crescer com camas extras para os miúdos. Nos dias em que a casa esteja cheia – o que não foi o caso – é provável que um simples mergulho se torne uma tarefa impensável. Até porque a piscina, além de curta e estreita, está dividida em duas zonas. Adultos e crianças, respectivamente. Assim, fica reduzida a dois tanques muito pequenos onde o verbo nadar tropeça mesmo no impossível.

Mas se é certo que pode encontrar brinquedos em lugares improváveis, como se estivesse em casa, também pode encontrar recantos de conforto, decorados com almofadas de lona às riscas. Velas, lamparinas, iluminação à noite na dose certa. As cores combinam com o Alentejo, do branco ao azul, a casa teve que ser feita de raiz, mas respeitou a antiga que lá estava. As mesas são brancas e as cadeiras são turquesa.

Os alpendres despretensiosos tapam o sol com a simplicidade das canas. Mas as janelas de quase toda a casa são gigantes. Rasgadas para o nada do Alentejo. Só campo. Sem vistas para o mar, sem casas no horizonte. Sem nada. Ou melhor, com sons. Chocalhos e balidos das ovelhas e várias mãos cheias de grilos à noite.

É esse desafio de silêncio que pode quebrar a qualquer momento com um simples chá no quarto ou uma fatia de bolo caseiro. O tilintar de uma chávena de café, uma fruta fresca ou uma água na sala de pequenos-almoços, que está sempre aberta.

A dona Emília, que prepara isto tudo com a simpatia tradicional do Norte, deve andar por perto se precisar de alguma coisa. Ao lado, tem uma ludoteca e uma biblioteca. É provável que encontre livros de viagens e romances portugueses. Jogos para os mais pequenos. Se tiver frio, desça as escadas. A lareira está à espera do Outono para estrear a sala grande com acesso directo aos seis quartos, no piso de baixo.

A Fugas teve direito a dormir uma noite na única suite. Voltamos à janela, que é o ex-líbris comum a todos os quartos, que, na verdade, não divergem muito. A suite tem como extra uma banheira de hidromassagem perto da cama. Num recanto, ao lado, uma clarabóia para namorar a ver as estrelas. Acenda as velas e aceite o conselho: deixe-se simplesmente ficar.

Mas se quiser mesmo quebrar esse estado de ócio de não ter que fazer obrigatoriamente nada, se o ritmo das crianças à solta se tornar maçador e a sombra dos sobreiros se revelar inquietante, aventure-se num passeio de jipe pelas paisagens da costa alentejana. O Pé no Monte dispõe de dois UMM, o único jipe português. Dê um mergulho no mar, se for tempo disso. Em alternativa, descubra a barragem de Santa Clara ali ao lado, ande a cavalo ou prepare um piquenique com o auxílio da cozinha da casa.

No que toca à cozinha, o pequeno-almoço, que pode tomar na sala ou num terraço abrigado pelo alpendre, é uma viagem pelos sabores da região. E não só. É provável que não precise de almoçar depois de um sumo das melancias que crescem à sua frente, acompanhado de uma taça de framboesas, cereais, iogurtes, vários tipos de pão, frutas tropicais, marmelada e compotas caseiras, queijos e enchidos regionais, leite, café… e certamente uma barriga cheia!

À saída, é importante que ganhe espaço no carro… Prepara-se para vir com uma melancia aos pés oferecida pela simpatia do Gonçalo.

A Fugas esteve alojada a convite do Pé no Monte

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Como ir
A partir de Lisboa, entre na A2 em direcção ao Algarve/Sul e saia para Sines/Grândola. Siga pelo IP8/IC33 em direcção a Sines. Um pouco antes de chegar a Sines, saia na saída para Odemira (N120). Siga depois a direcção Porto Covo e Vila Nova de Milfontes, mas não entre na vila (siga em frente na rotunda, para Sul). Continuando na N120, vire à direita para a Zambujeira do Mar e uns 10Km depois à esquerda para São Teotónio. Em São Teotónio, vire à esquerda em direcção a Saboia/Barragem de Santa Clara (está a menos de 3Km do Pé no Monte). Quinhentos metros depois de Quintas, não vire à esquerda para Saboia/Santa Clara. Siga em frente em direcção à Relva Grande e passados 300m vire à direita num caminho de terra batida, junto à placa do Pé no Monte, após um sinal de trânsito com um veado.

Odemira está a 16 minutos de carro e o Aeroporto Internacional de Faro encontra-se a 106 km.

 

Onde comer
A Tasca do Bernardo, em Boavista dos Pinheiros, é uma boa opção para pratos regionais numa casa típica do Alentejo. Um pouco mais longe, em Vila Nova de Milfontes, a Tasca do Celso é uma excelente escolha, mas um pouco mais caro. O Sacas, na Zambujeira do Mar, é outra opção, mas prepare-se para esperar.

Nome
Pé no Monte
Local
Odemira, São Teotónio, Monte Novo da Cruz
Telefone
916624452
Website
http://www.penomonte.com/
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