Fugas - hotéis

  • Fernando Veludo/nFactos
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Ver as estrelas num quarto assinado por Souto de Moura

Por Ana Maria Henriques ,

É a única casa de Turismo de Habitação da cidade do Porto e tem apenas quatro quartos, desenhados pelo arquitecto portuense Souto de Moura. O 4 Rooms é uma canção de amor à tranquilidade em plena cidade, longe do centro turístico.

Sabemos que não vamos passar a noite num hotel ou guest house comum quando percorremos a comprida e estreita Rua do Padre Luís Cabral e não nos apercebemos que já passámos à porta do 4 Rooms. Marcha atrás no carro, uma última espreitadela à morada da casa e vemos, finalmente, um pequeno letreiro a indicar tratar-se de um Turismo de Habitação, na Foz do Douro, Porto. Enfrentamos a chuva e o frio, usamos o batente da porta, antiga, com um pequeno postigo, e entramos. A meia luz aquece e Fabiana recebe-nos, em voz baixa e como se estivesse em sua casa, com o convite que é feito a todos os hóspedes: uma chávena de chá e uma fatia de bolo no jardim de Inverno. Vemos e ouvimos a chuva a cair na cobertura envidraçada do jardim, há mantas pousadas nas costas das cadeiras e um candeeiro, em cima da mesa, que nos chama a atenção (saberemos mais tarde tratar-se de uma criação do designer Philippe Starck).

Esta casa do século XIX, estreita e comprida, com um pequeno jardim nas traseiras, foi recuperada por Eduardo Souto de Moura, Prémio Pritzker em 2011 e amigo do proprietário do 4 Rooms, aberta desde 2009. Encheu-a de pequenos recantos e truques para não nos sentirmos num espaço pequeno e apertado — e foi bem-sucedido. “Procurámos compatibilizar a arquitectura da Escola do Porto com mobiliário que fosse muito intemporal. Há aqui uma presença forte de peças dos clássicos mas também de autores mais recentes”, contextualiza António, o proprietário. O 4 Rooms tem o número de quartos que o nome indica: dois lofts, de áreas maiores, e dois quartos simples. Parece um número demasiado reduzido até quando se pensa num turismo de habitação, mas se assim não fosse não estaríamos a falar de um projecto que é, acima de tudo, um elogio ao sossego. Não há ruído exterior e não se ouvem os outros hóspedes. Aliás, não nos cruzámos com mais ninguém a não ser com Fabiana durante a breve estadia na Foz do Porto — e a casa estava cheia.

A sala comum é voltada para a rua, com peças de designers e arquitectos conjugadas num ambiente tranquilo. Há uma mesa do finlandês Alvar Aalto — que assina mais peças espalhadas pela casa — e apontamentos de Siza Vieira, Souto de Moura e Nuno Brandão Costa, misturados com revistas que pedem tempo. Numa espécie de copa em miniatura, camuflada atrás de um biombo criado por Souto de Moura, todos os hóspedes podem servir-se do bolo do dia e de outras bebidas, quentes ou frias. É a tal preocupação com o home feelling que António, 59 anos, tanto aprecia.

Já reconfortados e aquecidos, chega a hora de conhecer o quarto escolhido. Ao contrário dos dois quartos, localizados no primeiro andar, e do Garden Loft, com entrada pelo jardim, o Sky Loft está localizado a alguns passos da casa, do outro lado da rua. A vontade de sair do conforto da casa principal, de guarda-chuva e chave na mão, para chegar ao nosso loft, é perto de zero. Garante-nos Fabiana que o (não tão) pequeno T0, cuja reabilitação é também da autoria de Souto de Moura, é um espaço independente “muito confortável”, com 36 metros quadrados.

Primeiro aspecto a considerar quanto a este loft: não tem janelas. Pode parecer uma descrição pouco apelativa, mas a verdade é que a grande clarabóia e a porta com vidro fosco impedem que isto se transforme num ponto negativo. Mesa e cadeiras à entrada, dois pequenos sofás, uma estante de inspiração nórdica e muita luz indirecta. Ao fundo, a cama que Souto de Moura desenhou, e muito branco: nos têxteis, nas paredes, no iMac que funciona como televisão e computador, à disposição. É tudo claro, luminoso e, acima de tudo, confortável. Agora que aqui estamos até agradecemos a chuva: só aumenta a sensação de conforto. Para desfrutar do pormenor que distingue este quarto, o melhor é deixar-se cair na cama e pegar no comando arredondado que repousa na mesinha de cabeceira; depois só tem de abrir o estore da clarabóia — design exclusivo de Souto de Moura e concretização única para o Sky Loft — e ver o céu sem ter de levantar a cabeça. De manhã, basta fazer o mesmo e deixar entrar a luz da Foz Velha. Se quiser banda sonora, aproveite a playlist disponível nos computadores e tablets dos quartos ou a dock que permite a ligação de iPod ou iPhone.

Pensado para estadias mais prolongadas e o preferido dos hóspedes estrangeiros (os mais comuns no 4 Rooms), este loft tem ainda uma pequena zona utilitária com bancada, microondas, frigorífico e utensílios de cozinha, num pequeno corredor fechado de acesso à casa de banho, também com uma clarabóia de tamanho reduzido. Não há uma peça ou um detalhe fora do seu lugar, nem objectos sem qualquer função pousados em cima de mesas ou estantes. Para os mais curiosos e para os muitos amantes de arquitectura e design que visitam esta que é a única casa da cidade do Porto, para já, com designação de Turismo de Habitação, existem brochuras com a listagem das peças de mobiliário e decoração, acompanhadas dos nomes dos autores. Além de arquitectos da Escola do Porto, num mesmo quarto convivem elementos de Alvar Aalto, Arne Jacobsen, Hertzog e Jensen & Holbaek.

O caos organizado em que um pequeno-almoço buffet se pode transformar, sobretudo em hotéis com muitos quartos, é para esquecer. Perto da hora combinada na véspera, escolhemos uma das mesas disponíveis — na sala de estar, no jardim exterior ou interior ou no próprio quarto — e esperamos pelo pequeno-almoço. Além das habituais bebidas quentes, pães, croissants e cereais, temos direito a uma óptima compota de frutos vermelhos e a um pequeno e prateado tabuleiro cheio de coisas boas: omelete de queijo, ovinhos de codorniz e frutas (destaque para as delicadas physalis), complementados com um iogurte e um mini-queque de laranja. Demoramo-nos nisto perto de uma hora, sozinhos, com as paredes de hera verde do jardim como pano de fundo.

Durante o dia, esta casa centenária não perde o consolo do sossego. Há hóspedes que ficam nos quartos, a trabalhar — há computadores e tablets em cada um deles, bem como mesas pensadas para o efeito e todas as condições para momentos de concentração —, outros que aproveitam para passear. Fabiana fica como guardiã. Depois daquilo que António prefere descrever como “uma experiência num espaço diferente e não uma simples dormida”, fica difícil regressar ao ruído da cidade, ao trânsito, a espaços que não foram pensados para tranquilizar quem os utiliza. Talvez seja mais simples perceber como o 4 Rooms se mantém tão bem cotado nos rankings online e com uma taxa de ocupação sempre tão significativa, com uma expansão a Norte já prevista. “Dei muitas voltas ao mundo, em trabalho, e procurei que este espaço fosse aquilo que eu nunca encontrei quando viajei — mas que é composto por muitas memórias positivas que tive”, resume. “Sereno para quem viaja.” Missão cumprida.

A Fugas esteve alojada a convite do 4 Rooms

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Onde comer
A casa pode programar um jantar no restaurante Pedro Lemos, do chef com o mesmo nome, recentemente distinguido com uma estrela Michelin. Os dois espaços estão separados apenas por alguns metros. Se preferir uma refeição mais simples, é só passear pela Foz, com o rio e o mar sempre por perto: a Casa de Pasto da Palmeira e o Terra estão a uma breve caminhada de distância.

Preços: os dois quartos duplos (Norte e Sul) começam nos 100€; o Garden Loft pode chegar aos 147€ e o Sky Loft aos 168€.

Nome
4 Rooms
Local
Porto, Foz do Douro, Rua do Padre Luís Cabral, 1015
Telefone
910594499
Website
http://www.4rooms.pt/
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