Fugas - hotéis

Vila Galé mais dentro do Rio, mais longe do mar

Por Simone Duarte ,

A rede Vila Galé inaugurou o primeiro hotel na cidade do Rio de Janeiro. Fomos dormir ao complexo, que inclui um palacete do século XIX no centro histórico da cidade.

Este não é um hotel óbvio. Não é para os turistas que vão ao Rio de Janeiro só em busca de praia. O que o novo hotel Vila Galé na Lapa, sinónimo da noite boémia do Rio, oferece é um mergulho num Rio de outro tempo, um Rio bem mais português.

A começar pela própria rua: Riachuelo. Quem a percorre hoje e enfrenta os seus engarrafamentos num dia de Verão, encara um Rio menos de telenovela e mais histórico. Há um charme decadente na arquitectura portuguesa da cidade que em Março completa 450 anos. É preciso desviarmo-nos dos aspectos mais reais da Riachuelo — os bêbados, os sem-abrigo, o trânsito, as obras — para imaginar a época em que a rua era chamada de Matacavalos. No período colonial, era uma das principais artérias do Império, fazendo a ligação entre a zona norte e a zona sul. Os cavalos nem sempre resistiam aos barrancos e ficavam pelo caminho, daí a origem do nome. Foi no século XIX que os comerciantes começaram a construir os seus palacetes. A cidade expandia-se e o centro tornava-se uma zona nobre. É na Matacavalos que nasce Bentinho, o Dom Casmurro, um dos personagens do escritor Machado de Assis mais conhecidos da literatura brasileira que retrata o homem atormentado pela possível traição e pelos olhos de ressaca da mulher Capitu.

Foi justamente um palacete em risco de ruína deste Rio de Janeiro de Machado de Assis que Jorge Rebelo de Almeida, presidente do Vila Galé, resolveu recuperar com o objectivo de atrair turistas para o centro histórico da cidade. “Era um desejo antigo ter um hotel na parte histórica do Rio, neste Brasil daqui que era bem português. É importante as cidades voltarem às origens e recuperarem aquilo que foram.”

É o sétimo hotel que a rede inaugura no Brasil, país que já é responsável por 45% da facturação do grupo hoteleiro. Mas este é um projecto bem diferente do grupo que tem essencialmente resorts do género tudo incluído no nordeste do país e em Angra dos Reis, no litoral do estado do Rio de Janeiro. Neste sentido, o projecto é mais desafiador porque investe e aposta na revitalização do centro histórico da cidade. Além do palacete recuperado do século XIX, foram construídos um edifício de 14 andares, onde fica a maioria dos 292 quartos, piscina, ginásio e um centro de convenções — uma aposta no turismo de negócios já que é um dos poucos 4 estrelas no centro da cidade. O hotel tem dois restaurantes e dois bares. O restaurante principal é o Versátil, onde são servidos buffets de pequeno-almoço, almoço e jantar. O Inevitável tem serviço à la carte ao jantar. Há ainda o bar da piscina e o bar Vinícius de Moraes, o sítio da happy hour.

O que mais impressiona no hotel é o trabalho de recuperação — um investimento de 100 milhões de reais, o equivalente a 38 milhões de euros. Apenas os candeeiros vieram de Portugal. Tudo o resto contou com material e mão-de-obra locais: os mosaicos, os azulejos, as escadas de madeira. Chegaram a encontrar um serralheiro dos Açores no Rio de Janeiro. O projecto foi acompanhado por historiadores e arqueólogos porque o prédio é património histórico e cultural da cidade. O palacete, que abrigou o Hotel Magnífico e, no fim, uma escola, teve os antigos laboratórios, biblioteca e salas de aulas transformados em quartos. O bar ocupa o salão do palacete principal, onde até 2009 as alunas dançavam ballet. As centenas de livros recuperados da antiga escola serão usados como parte da decoração numa espécie de biblioteca-bar. Não podia faltar o piano. Logo acima do bar, onde funcionava o antigo gabinete do director, ficam agora as cincos suítes mais caras e sofisticadas do Vila Galé da Lapa. A maior tem 77 metros quadrados, uma cama colossal, uma casa de banho gigante e uma varanda com o piso original em mosaicos portugueses com vista para o pátio interior — o cenário mais próximo da vida que os contemporâneos mais abastados de Machado de Assis deviam ter nos palacetes da rua Matacavalos.


A Lapa é todo um programa

Mas voltemos ao presente. Foi a primeira vez que nos hospedámos num hotel antes mesmo de ele abrir as portas. Não tivemos a sorte de ficar numa das suítes mas não temos queixas, longe disso. O quarto standard na parte do palacete que rodeia a piscina e onde ficavam os antigos laboratórios escolares é pequeno mas tem tudo o que precisamos. O frigorífico desligado, a luz que não acendia ou a TV por cabo que ainda não funcionava transformaram-se em detalhes sem importância por estarmos todos transformados em testemunhas da corrida contra o relógio para a estreia. Pela manhã não havia relva, ainda se ouvia o ruído das obras e lá fora os homens a trabalhar a repor a calçada portuguesa. À noite estava tudo no sítio. Só não conseguimos ir ao spa, que ainda não tinha sido inaugurado.

Ainda corremos para ver a cor do mar mas o que vale mesmo é aproveitar para mergulhar neste outro lado do Rio: os Arcos da Lapa, os acessos ao bairro de Santa Teresa, a sala de concertos Cecília Meireles, o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional (estes dois estão a dez, quinze minutos a pé). Para almoçar sugerimos o sempre lotado Aconchego Carioca — o bar-restaurante da chef Kátia Barbosa, autora do petisco mais cobiçado da cidade, o bolinho de feijoada. O chef francês Claude Troigros é fã. O Aconchego tem uma variedade extensa de cervejas e caipirinhas que também não ficam para trás. Fica na Praça da Bandeira, não muito longe da Lapa se formos de táxi e se quisermos explorar a zona norte. É aconselhável fazer reserva.

À noite, o programa é mesmo a Lapa. As ruas do bairro, que se tornaram desde há alguns anos na referência para quem é noctívago, estão aos nossos pés. Entre a rua Riachuelo, a Av. Mem de Sá e a rua do Lavradio não há como não se perder numa das dezenas de sobrados convertidos em bares ou gafieiras durante a noite e antiquários durante o dia. É só atravessar a rua para dançar no Lapa 40 Graus, a gafieira do dançarino Carlinhos de Jesus. Nós preferimos andar mais cinco minutos para dançar ao ritmo do samba no Carioca da Gema. Há também o Rio Scenarium, que já se tornou paragem obrigatória para estrangeiros e cariocas. Já no fim da noite, movidos a samba, petiscos e caipirinhas, dá até para voltar a uma frase menos enigmática de Machado de Assis: “ A vida é boa”.

A Fugas viajou a convite do Vila Galé e da TAP

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Preços: de 430 reais (142 euros) a 954 reais (310 euros) + 10% de taxa de serviço + 5% ISS.

Como ir
A TAP tem voos directos e diários para o Rio de Janeiro ida e volta a partir de 812 euros.

Nome
Hotel Vila Galé Rio de Janeiro
Local
Estrangeiro, Brasil, Rua Riachuelo, 124 (Lapa, Centro, Rio de Janeiro)
Telefone
(55) 21 2460-4500
Website
http://www.vilagale.com/pt/hoteis/brasil/vila-gale-rio-de-janeiro/
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