Fugas - hotéis

  • Enric Vives-Rubio
  • Enric Vives-Rubio
  • Enric Vives-Rubio
  • Enric Vives-Rubio

Um completo oásis familiar às portas da cidade

Por Carla B. Ribeiro ,

No VIla Galé de Évora, as crianças são bem-vindas, ao mesmo tempo que o convite aos pais é para desfrutar do tempo livre sem preocupações. E o espaço é também uma homenagem ao Alentejo e ao cante alentejano.

“Se eu tivesse a liberdade/ Que o sol mais a lua tem/ Entrava na tua casa/ Sem licença de ninguém.” A quadra lê-se numa das paredes logo à saída do elevador que nos traz do estacionamento subterrâneo. É também sem pedir licença que se entra no novíssimo Vila Galé, localizado às portas da cidade amuralhada de Évora, onde se celebra o cante alentejano, Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2014.

Tudo aqui parece acolher-nos, com a luz natural, que chega pela envidraçada fachada assim como pela moldura transparente que dá acesso directo à zona da piscina, a cruzar-se para invadir o amplo espaço de entrada.

É verdade que a luz dos dias quentes eborenses persegue-nos pelo lobby, mas o calor ficou do lado de fora. Por aqui, ainda em hora de almoço, são vários os hóspedes que deambulam, entre o bar e o buffet, cruzando olhares de quem já se sente em casa com quem acaba de chegar. No piso térreo de um edifício de apenas três andares (na realidade são quatro, mas com o aproveitamento do declive do terreno apenas se sente a presença — e o peso — de três), a recepção, a estender-se por uma das paredes laterais, divide o espaço com bar e restaurante, tipo buffet. Há ainda um restaurante, mais recatado, localizado numa espécie de mezanino, com uma carta à base de risottos: “Num sítio como Évora, com tanta e tão boa oferta de cozinha regional, fez-nos sentido oferecer uma coisa diferente”, sustenta o director do hotel, Armando Matos.

Por tudo o que vemos à nossa volta é fácil constatar que se a ideia é passar despercebido e saborear o silêncio este não é, por estes dias, o hotel mais indicado. Pelo contrário. A fronteira entre restaurante/bar e a piscina é frequentemente ultrapassada e as muitas crianças presentes determinam não só o ritmo como o nível de ruído animado. No entanto, se o espaço parece impróprio a casais em busca de momentos românticos ou a um eremita à procura de sossego, para quem segue viagem com o porta-bagagem atafulhado de carrinhos, bonecas e triciclos poderá depressa parecer o paraíso. É que há sempre uma criança que grita mais que a nossa. E ninguém parece incomodado pelo facto, respirando-se um ritmo muito próprio de quem está de férias — mesmo que a estada se resuma a apenas duas noites.

Além disso, à conta da presença de muitas crianças, o convívio entre hóspedes é facilmente potenciado — é que se há coisa que os pais não se safam é a pelo menos alguns momentos de cortesia com outros pais cujos filhos dividem alegremente brincadeiras com os deles. Junto à piscina, alguns pequenos escorregas de água encarregam-se de transformar miúdos completamente desconhecidos entre si em grupos de amigos de férias. E, já se sabe, miúdos entretidos, pais descansados. Ao longo do dia as chaise longues vão sendo preenchidas e os relvados ocupados — “às vezes, quando o tempo o permite, há até quem faça minipiqueniques”, tal é a forma como as pessoas aqui se sentem à vontade, observa, com satisfação, Armando Matos.

Cada quarto, um refúgio

Com esta descrição poder-se-ia imaginar que nem nos quartos se poderá encontrar algum sossego. Mas, ladeada por quartos com crianças pequenas, garanto que o sono foi uma bênção — facto a que não é alheio nem a qualidade dos colchões que equipam as camas dos Vila Galé nem a decoração que, ao contrário dos espaços comuns, nos quartos remete para uma sobriedade à prova de bala.

A diferença é logo marcada pelos corredores que nos conduzem aos quartos. Aqui e ali, quadras de sabedoria popular, celebrizadas pelo cante alentejano, dividem o protagonismo com cenas do Alentejo rural. “Ó minha amora madura/ Quem foi que te amadurou?”. Pelo chão, uma grossa e fofa carpete abafa os nossos passos e guia-nos por um corredor à meia-luz que parece ainda mais escuro depois de nos termos habituado à forte luminosidade do hall de entrada e do fosso que nos deixa espreitar ginásio e piscina interior — mais recatado é um spa, com a assinatura Satsanga.

Assim que entramos, o quarto surpreende pela sua sobriedade e classicismo. Num jogo entre tons de cinza e terra, o convite é para desfrutar de um espaço amplo, no qual, no nosso caso, uma cama king size é a protagonista, havendo lugar ainda para uma extensa mesa de apoio e para uma mesinha para pequenas refeições. Os materiais usados revelam qualidade e todos os tecidos são de toque suave.

Ficando no piso térreo, como nos aconteceu, há um pequeno detalhe que é como uma cereja reluzente no topo de um bonito bolo: acesso directo à zona da piscina e esplanada privativa — a ponderar para quem viaja com crianças pequenas, podendo fugir aos sorrisos de cortesia em torno da piscina e dedicar-se a um bom livro ou apenas a namorar. Isto tudo sem tirar o olho da pequenada.

Ainda sobre os aposentos é de destacar a casa de banho, de dimensões apropriadas, recorrendo a iluminação terapêutica (como acontece nas salas de tratamentos do spa). Com uma banheira grande o suficiente para convidar a longos e relaxantes banhos, a divisão é totalmente separada do quarto, parecendo querer defender a intimidade.

É nessa dicotomia, que se pode descrever como agradável, que se vivem umas férias neste hotel. Por um lado, tudo convida à descontracção. Por outro, tudo parece pensado para nos potenciar um sentido de privacidade. Facto é que, ao fim do dia, depressa se conclui que há tempo — e espaço — para tudo: para conviver e para fugir; para relaxar em grupo ou sozinhos; para tirar proveito de uma divertida barulheira à beira da piscina ou de um sepulcral silêncio nas profundezas do spa.

Investir no Alentejo

Com 185 quartos, o Vila Galé Évora é a segunda unidade do grupo a apostar no Alentejo, num investimento total de 15 milhões de euros e que levou à região cerca de 50 novos postos de trabalho — o Clube de Campo, a cerca de 25 quilómetros de Beja, foi a sua estreia na região em 2001. Mas o grupo defende que não chegou à cidade Património Mundial da Humanidade para concorrer com a oferta já existente. Até porque, justificam, o produto que o Vila Galé oferece é muito diferente da hotelaria aí existente. Talvez por essa razão, nem o restaurante à carta se atreveu a desafiar as instituições gastronómicas da cidade. “No buffet temos alguns pratos regionais, mas não é esse o nosso foco.” Em vez disso, além de hóspedes, atrai eborenses curiosos pela diferença das propostas.

Mais ou menos regional, a cozinha no Vila Galé de Évora pretende ser de qualidade. E as provas começam logo bem cedo pela manhã, à medida que as mesas, tanto no interior como no exterior, se vão enchendo para o pequeno-almoço que prima pela diversidade e pela execução ao momento de algumas propostas — algo mais comum num hotel de cinco estrelas do que num de quatro, como é o caso.

As omeletas são feitas a pedido mesmo ali à nossa frente e as panquecas, para delícia dos mais novos, vão sendo cozinhadas entre dois dedos de conversa: “Então e o que queres ser quando fores grande?”, pergunta, simpaticamente, uma funcionária enquanto deita a massa em cima de uma chapa a ferver. “Quero ser cozinheira!”, responde, confiante, uma menina nos seus oito anos. “Mas tens de me prometer que depois não me roubas o emprego”, brinca a mulher enquanto faz girar a panqueca já douradinha. “Assim, acabadinhas de fazer, sabem melhor!”

É na senda do saber melhor que o hotel vai aliando o bom gosto a uma genuína descontracção e ambiente familiar. Isto enquanto o bom tempo durar. Mais para o Inverno, provavelmente o público será diferente, e os jogos de crianças darão lugar a importantes conversas de negócios, numa aposta séria no segmento com a integração de um funcional centro de convenções.

Até lá, são de aproveitar as gargalhadas e as conversas ruidosas, os mergulhos na piscina em dias de calor abrasador e a boa disposição eborense com que o hotel parece ter sido erguido.

A Fugas esteve alojada a convite do grupo Vila Galé

__________________________________

Preços
Uma estada num duplo reserva-se desde 94€, com pequeno-almoço incluído. Um duplo familiar, que inclui sofá-cama, reserva-se desde 112€ com pequeno-almoço. É de sublinhar que as crianças, com menos de 12 anos, que dividam quarto com os pais não pagam nem alojamento nem refeições, estando abrangidas pelo mesmo regime dos adultos — no caso de pensão completa (excepto bebidas), acresce um valor de 74€ por dia.

Como ir
O Vila Galé Évora situa-se a cerca de dois minutos a pé de uma das portas da amuralhada Évora, na Avenida Túlio Espanca. De automóvel, do Porto, vale a pena seguir o trajecto A25/A17/A8/A12/A6, sendo o custo das portagens em torno dos 30€. De Lisboa, pela A2/A6, a viagem inclui um valor de portagens inferior a 10€.

Nome
Vila Galé Évora
Local
Évora, São Mamede, Avenida Túlio Espanca
Telefone
266758100
Website
http://www.vilagale.com/
--%>