Fugas - hotéis

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Um hotel esculpido nos Açores (com os Açores lá dentro)

Por Mariana Correia Pinto ,

Num anfiteatro desenhado pela natureza, vistas de serra para um lado e de mar para o outro, nasceu em Junho o Santa Bárbara, o primeiro eco-resort de praia dos Açores. Este lugar (como o arquipélago) não se explica. Experiencia-se.

Tinha apenas nove anos quando as férias regulares da família começaram a fazer-se ali. O pai tinha negócios em São Miguel, nos Açores, e João Reis já vaticinava um destino que havia de cumprir há 14 anos, quando deixou Lisboa para trás e se instalou na ilha: “Dizia desde muito novo que um dia viria viver para cá.” Rodrigo Herédia não chegou a pressagiar. Era ainda miúdo quando o pai, comandante, foi trabalhar para a base aérea da Terceira e a família se estabeleceu longe do continente. João e Rodrigo, lisboetas, conheceram-se nos Açores. “Dentro de água, no surf.” Um dia, “conversa puxa conversa”, perceberam que tinham um sonho comum de abrir um espaço hoteleiro. Mas não um espaço qualquer: queriam um hotel que fosse um prolongamento da ilha. Que gritasse Açores. O Santa Bárbara viu a luz do dia no início de Junho: é o primeiro eco-resort de praia do arquipélago — e tem os Açores dentro.

A noite ia longa quando lá entrámos pela primeira vez e o impacto visual ficou, por isso, adiado. Quando a manhã nasceu, a frente envidraçada do nosso T1 desvendou um hotel camuflado na paisagem, como se ali tivesse nascido por lei da natureza. Vêem-se a serra e o mar desenhados debaixo de um céu que parece suster todas as estações do ano. Todos os tons de cinza e, de repente, pingos de chuva. Todos os tons de cinza e, de repente, um azul que o vence e um sol que se mostra. Isto já nos tinham dito sobre os Açores. O que não tinham explicado era que a natureza invade os sentidos e influencia o carácter pacificador que São Miguel tem — e passa — a quem o visita (ou talvez tivessem explicado, mas isso seja coisa que só se sente).

Esta ligação permanente com a natureza é “parte integrante da experiência” para quem visita os Açores. Palavra de João Reis: “Para quem não gosta de natureza, os Açores continuam a ser fantásticos mas não têm a mesma essência. Os Açores não se explicam. Experienciam-se, sentem-se.” Para os dois amigos, o resort tinha de ser “uma ponte com o destino” e foi também por isso, e não por moda, que o esboçaram “eco”. A pegada ecológica do Santa Bárbara, garante João Reis, “foi reduzidíssima” e o impacto na paisagem idem. Tiveram a sorte de encontrar um terreno, outrora zona de extracção de areia, “que faz um anfiteatro natural” e foi a partir dele que esculpiram as villas (assim chamam aos apartamentos) na terra. “Foram descascadas e foram criados patamares, de maneira a que encaixassem naturalmente no terreno, mexendo o mínimo possível.”

Os materiais utilizados foram ecológicos e, sempre que possível, locais ou pelo menos portugueses: a madeira, a pedra de lavoura, o bambu e a cortiça são predominantes na paisagem. Graças a eles, o empreendimento “tem uma possibilidade de reciclagem de mais de 90%”, assegura João Reis. Os 14 apartamentos — sete T1 (com 54m2) e sete T2 (com 75m2) —, todos com varandas, uma pequena kitchenette e as frentes em vidro, estão distribuídos em três patamares diferentes: as Garden Villas (com ligação a um jardim com lago onde se recolhe água da chuva para a rega), as Blue and Green Villas (com vista de mar e serra) e as Retreat Villas (as mais recatadas, uma delas com jacuzzi exterior). E dentro dos apartamentos, amplos e de decoração minimalista, não se esquece o destino: foram “desenhados para fora”.

A manhã ia ainda curta quando, entre o caminho de betão que liga o apartamento ao restaurante, a piscina com camas dentro e o Atlântico por companhia pediu uma paragem. Fotografia mental para visita futura: check. Só a promessa de sumos naturais, ovos mexidos e pão variado (bolos lêvedos incluídos) nos arrasta dali. Isso e a ideia de um fim de pequeno-almoço feito no bar, de frente para a praia, debaixo que um céu açoriano que ora pinga ora brilha.

Antes deste projecto de João e Rodrigo se concretizar, o areal de um quilómetro que se estende à frente do Santa Bárbara, localizado na Ribeira Grande, a cerca de 20 minutos de Ponta Delgada, era uma zona por explorar. Agora, há uma escada de madeira desenhada nas escarpas que liga o hotel de quatro estrelas à praia em poucos minutos. Este vínculo era obrigatório — ou não tivesse o Santa Bárbara nascido de uma conversa de surfistas. “Criámos um centro de actividades outdoor onde se pode praticar surf, caiaque, snorkelling... Fazemos a ligação entre os nossos clientes e todos os serviços dos quais eles podem usufruir na ilha.”

Neste imenso terreno de 33 mil metros quadrados — qualquer coisa como três campos de futebol —, há ainda espaço para uma quinta (outra parte do lado ecológico deste hotel) onde os lisboetas querem investir na produção biológica. Ainda não definiram em que produtos vão apostar (batata, beterraba e até tabaco são hipóteses em cima da mesa), mas a partir de Setembro terão o projecto em andamento. “Vamos fazer cultura e ter uma parte da horta pensada para o abastecimento do restaurante e das villas.” Assim se completará um ciclo, sustentável. E pensar que tudo começou dentro de água...

A Fugas viajou a convite do Santa Barbara Eco-Beach Resort

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Como ir
A Sata viaja todos os dias para os Açores, a partir do Porto e de Lisboa. As low cost Ryanair e easyJet também já chegaram ao arquipélago. Os preços variam consoante a companhia e a altura do ano. Esteja atento a promoções e procure marcar com alguma antecedência. Conseguir um bilhete (ida e volta) por 100 euros não é, de todo, impossível.

Onde comer
Reserve pelo menos um dia para experimentar o Areais, do Santa Bárbara. O restaurante não é regional, mas privilegia os produtos locais. Além do menu, existem sushi e sashimi feitos com peixe fresco dos Açores.

Em Ponta Delgada, não pode perder A Tasca. No número 16 da Rua do Aljube, o restaurante destaca-se sobretudo pelas tapas (e um menu em formato jornal, com notícias incluídas, que foi amor à primeira vista). Deixe-se levar pelas sugestões dos funcionários. Polvo panado com compota de cebola (4,50€), crocante de queijo, mel e noz (4€), morcela com ananás (6,50€) ou tábua de queijos (a pequena custa 5€, a grande 15€) são algumas das perdições. Se não estiver numa de tapas, as opções de peixe e carne são também variadas. Testámos o lombo de atum grelhado com sementes de sésamo, servido com legumes e batata doce (9€), e não nos arrependemos. Guarde ainda um espacinho para as sobremesas: a tarte de feijão (2,50€) é fantástica.

Por último, não descole dos Açores sem experimentar um cozido local. Foi na terra da lagoa das Furnas que o jovem chef Paulo Costa, do restaurante Caldeiras & Vulcões, pôs o almoço da Fugas em andamento. Eram cinco da manhã quando lá chegou. A refeição é cozinhada nas caldeiras a 90 graus, durante pelo menos cinco horas, numa tradição secular que atrai turistas de todo o mundo. Seguimos até à lagoa para ver a retirada, à distância porque só os funcionários da câmara e os cozinheiros podem chegar-se às caldeiras. E o sabor do cozido das furnas, com leve paladar de enxofre, é de facto uma experiência imperdível.

Nome
Santa Barbara Eco-Beach Resort
Local
Ribeira Grande, Ribeira Seca, Estrada Regional N.º 1, 1.º Morro de Baixo
Telefone
296470360
Website
http://santabarbaraazores.com/
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