Se é por uns dias animados que se anseia, o melhor é cancelar-se já a reserva — é que quem aqui chega sabe bem ao que vem: um descanso indescrítivel em que a natureza chega até nós para nos embalar, quer em forma do balir ao longe de uma ovelha, quer na forma tosca de uma pequenina borboleta que, semelhante a um pequeno tronco de madeira quando imóvel, percebeu que valia a pena sacrificar a beleza para se confundir com o espaço onde se insere.
Esse não foi o caso desta pequena unidade: é que se houve algo que não foi sacrificado no impressionante e plausível respeito pelo espaço foi a beleza. De linhas simples, salpicadas por discretas assimetrias, desenhadas a régua e esquadro, cada quarto é uma casinha que, assente em estacas, parece que poderia estar aqui ou noutra parte qualquer do planeta. Pela frente, exibem-se limpas de adornos; nas traseiras, resguardam-se atrás de estacas de madeira que servem simultaneamente a privacidade dos hóspedes e a resistência dos mesmos às amplitudes térmicas, além de se revelarem eficientes sombras nos dias em que o sol alentejano não dá tréguas. Tudo nestas casinhas alvas sem telhas na sua cobertura triangular e pontiaguda parece gritar aos sete ventos que não estão aqui para se imporem.
Afinal, primeiro estão os sobreiros e, para a implantação do projecto, houve a preocupação de não se abater nenhuma árvore saudável. E até mesmo as que evidenciavam maleitas não foram desperdiçadas, transformando-se em mesinhas-de-cabeceira para os quartos. Outras, de configuração mais artística, conquistaram lugar de destaque nas zonas comuns, ao servirem de imponentes mesas de apoio .
Depois das árvores, há o respeito até pelos calhaus e pela terra revolvida a mostrar o quão fustigante foi este Verão. É que aqui não há lugar a pressas. Logo virá o frio e a chuva, depois os primeiros raios de sol de uma Primavera habitualmente generosa com a região. E, então, toda a envolvência há-de explodir em verdes, brancos, vermelhos, amarelos, lilases, tal como todos os montes e planícies alentejanos — esperam os responsáveis pelo hotel. Porque nestas coisas da natureza há sempre imprevistos. Mas, mesmo que ainda não seja para o ano, uma coisa é certa: por aqui ninguém irá sucumbir à tentação de semear relva ou mesmo de assentar tapetes de material sintético. “Apesar da paisagem magnífica”, em que é difícil dizer até onde ou a que distância nos leva o olhar, “há quem considere sempre mais bonito ver o terreno à beira de uma varanda arranjadinho”, explica Pedro Manços, o director-geral da unidade, cujo currículo inclui mais de dez anos nas Pousadas de Portugal. E garante: “Há-de ficar, mas sem artifícios.”
O respeito pelo meio em que este hotel, de 24 quartos, se insere está presente desde que começou a ser idealizado: a propriedade já era da família e ninguém estava disposto a transformar o refúgio do clã em algo diferente do que era. Até porque o projecto só se ergue depois de toda a família se envolver: a começar pelos proprietários, os arquitectos Miguel Correia e Elsa Soares da Cunha. A intenção começou por tentar aproveitar o que já tinham: 25 hectares a perder de vista, uma paisagem que só por si é um privilégio, recursos humanos e logísticos entre a rede familar para levar a bom porto o objectivo traçado.
Para começar não foram feitas nem grandes escavações nem o relevo original do terreno foi alterado para formar um campo rectílineo. Pelo contrário: todos os desníveis foram sabiamente aproveitados, o que, à primeira vista, pode até insinuar um certo caos arquitectónico. Há casinhas mais em baixo, outras mais para a esquerda, todas desalinhadas no seu conjunto. Mas é nesse desalinho que se impõe uma ordem natural. Não foi o terreno que foi preparado para as receber. Foram aquelas que se implantaram onde se conseguiram encaixar.
O facto de o hotel ter sido construído numa área com vários desníveis trouxe mais vantagens, como a edificação de uma piscina infinita com fundo inclinado, permitindo diferentes profundidades sem que para tal tivesse sido necessário esburacar coisa alguma. Ao lado, o topo desta estrutura foi aproveitado como zona de solário, enquanto por baixo esconde-se uma sala de reuniões que eventualmente também poderá receber eventos.
Alentejo dentro de portas
Se do lado de fora o Alentejo vale por si, por toda a natureza que rodeia a unidade, no interior a região é convidada de honra, com a cortiça que forra o chão, quer dos quartos, quer das zonas comuns. Pelo edifício onde se é recebido, há espaço para restaurante — no início não fazia parte dos planos, mas a existência de um acabou por se revelar vital, uma vez que não há grandes alternativas de restauração nas imediações. Não foi preciso ir longe e os comandos da cozinha também ficaram em família, com o irmão de Elsa, João Soares da Cunha. Envidraçada de alto a baixo, como uma enorme vitrina que assume a mesma forma que as dezenas de casinhas, os comensais vão espreitando todo o movimento da confecção dos pratos que, não tarda, lhes chegarão à mesa.
A ambição da cozinha é relativa, mas nem por isso pode ser acusada de descuido: os ingredientes são criteriosamente seleccionados e transformados em iguarias saídas das memórias de infância de quem rege os tachos. A experiência no ramo da restauração já existia, mas o saber, esse, herdou-o da mãe, confessa João.
Os almoços e os jantares são servidos numa sala que, pensada exclusivamente para servir pequenos-almoços — que podem ser descritos como faustosos, sem que faltem os croissants estaladiços, o queijo fresco, os doces caseiros —, depressa se adaptou às novas funções. Os pratos, devidamente aprumados, vão desfilando da cozinha para fora, e enquanto as refeições decorrem ao ritmo pausado de conversas sussurrantes, pelo espaço entre a recepção da unidade e a saída para a piscina, vários conjuntos de confortáveis poltronas vão sendo ocupados: há quem ponha a conversa em dia e quem aproveite para se actualizar nas leituras. E há até quem siga para o mais escondido recanto onde é recriada a sala de estar de uma qualquer casa: um sofá de três lugares foi estrategicamente posicionado de frente para um móvel de sala com nicho para televisão. Pelas prateleiras, livros, objectos de decoração. Nas costas do sofá, junto à parede, uma secretária de trabalho, devidamente equipada com a parafernália essencial de escritório, pronta a ser usada. E, claro, mais um conjunto de poltronas que, adivinhamos, deverão ser bem concorridas quando as temperaturas começarem a descer e a lareira, estrategicamente colocada entre estas divisões, for ateada.
Nos quartos volta a haver Alentejo, mas um Alentejo discreto, onde as cores suaves casam com o chão em cortiça ou com um tapete de trapos. Tudo por aqui remete para a tranquilidade, excepção feita à TV. Embora neste quarto não seja difícil imaginar momentos bem relaxantes a assistir um filme numa tarde chuvosa. Ainda assim, prefiro fugir do televisor e dirigir-me à varanda para aproveitar o que gosto de imaginar um ecrã 3D, desenhado numa moldura de madeira. Aqui assisto a outro tipo de espectáculo: à vida que se desenrola à volta de um velho, mas ainda orgulhoso, sobreiro.
A Fugas esteve alojada a convite do Alentejo Country Hotel
_________________________________________
Preços
Um quarto duplo reserva-se desde 130€/noite, com pequeno-almoço - até 31 de Outubro decorre promoção soft-opening, com oferta de 50% de desconto, acumulável com outras promoções.
- Nome
- Sobreiras - Alentejo Country Hotel
- Local
- Grândola, Grândola, Mosqueirões, Caixa Postal 3143
- Telefone
- 269109930
- Website
- http://sobreiras.pt/