Fugas - hotéis

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Dormir numa casinha de chocolate alentejana

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Estamos no Palacete da Real Companhia do Cacau, uma fábrica de chocolate instalada num edifício do final do século XIX num largo de Montemor-o-Novo. A produção de bombons vai começar em 2016 mas já se pode dormir, fazer massagens, mergulhar na piscina e beber chocolate quente.

Bom, não será exactamente uma casinha, embora vá ter muito chocolate. Na realidade, o Palacete da Real Companhia do Cacau, turismo de habitação que abriu no final de Julho em Montemor-o-Novo, é uma casa senhorial mandada construir pelo visconde de Amoreira da Torre no final do século XIX. Moisés Gama e Sandra Rodrigues de Gouveia compraram-no em 2010 e, depois de alguns anos de obras de recuperação, abriram-no ao público este Verão. 

São três da tarde quando estacionamos o carro no pacato Largo Alexandre Herculano, em frente ao palacete, e hesitamos sobre em qual das duas portas bater. Arriscamos uma delas e Moisés aparece, sorridente, convidando-nos a entrar num mundo que não se adivinha do lado de fora. Atravessamos o palacete, aproveitando para conhecer os dois dos sete quartos que ficam dentro do edifício principal (a Royal e a Queen Suites, diferentes dos outros com as suas paredes brancas), até ao primeiro jardim, para o qual dão os restantes quartos, instalados nas antigas cavalariças. 

Madeiras (mantiveram-se, recuperadas, as imponentes portas de madeira de cada quarto), paredes pintadas cor de chocolate, alguma penumbra (há apenas pequenas janelas), almofadas e edredons onde nos afundamos, uma banheira enorme em cada um. Mas ainda falta conhecer muita coisa no palacete, por isso deixamos a mala e seguimos Moisés até ao segundo jardim, onde fica a piscina. À nossa direita ergue-se o castelo de Montemor-o-Novo que, promete o nosso anfitrião, à noite se ilumina.

Voltamos ao primeiro jardim para descobrir onde irá, em breve, começar a funcionar a fábrica de chocolate. Aproveitando também uma das partes do antigo picadeiro, Moisés e Sandra instalaram as máquinas e os frigoríficos que serão necessários para começar a produção, que terá tabletes mas será, sobretudo, centrada nos bombons com diferentes ganaches. Estas estão a ser desenvolvidas por um chef pasteleiro que, para além dos sabores clássicos, irá utilizar produtos do Alentejo. Quando tudo estiver a funcionar, os hóspedes do palacete poderão passar para a piscina ou para uma massagem e espreitar para ver o chocolate a ser trabalhado, temperado e despejado nas pequenas formas. 

Se tivéssemos vindo no Verão teríamos ficado a aproveitar a piscina, mas como já estamos no Outono temos outro programa à nossa espera: uma massagem com pedras quentes na sala de massagens que fica ao lado de um dos quartos e onde a massagista Salomé Comba já nos aguarda. Havia em alternativa várias outras massagens, incluindo a de chocolate com envolvimento, mas a das pedras quentes, que, com a pressão certa, trabalha em profundidade os músculos, é a mais indicada para quem quer sobretudo relaxar.

Uma hora depois, de volta às nossas roupas, estamos a tomar um delicioso e espesso chocolate quente e a comer scones com manteiga e doce junto à enorme lareira de pedra que Moisés entretanto acendeu na antiga sala do fumeiro. Lá fora já ficou escuro e é altura de ouvir como nasceu a ideia de criar uma fábrica de chocolate num palacete alentejano do século XIX.

Foi durante uma viagem à Nova Zelândia que o casal visitou uma pequena fábrica onde se conciliava uma grande produção com um espaço pequeno. “Os dois projectos, o do turismo de habitação e o da fábrica de chocolate, nasceram em conjunto”, conta Sandra. “Temos a paixão do chocolate e na casa da minha família sempre fizemos da mesa um salão de convívio imenso.” 

Enquanto decorriam as obras no palacete lançaram-se a estudar tudo o que podiam sobre a produção de chocolate, visitando fábricas, procurando os melhores fornecedores, percebendo os vários passos do processo. “As duas coisas estão muito ligadas”, sublinha Moisés. “As embalagens do chocolate vão ter sempre o desenho do palacete. Acreditamos que este é um conceito único no mundo. Tanto quanto sabemos, não existe nenhum hotel numa fábrica de chocolate em funcionamento.”

O objectivo é exportar. “O mercado português é pequeno no que diz respeito ao chocolate”, explica Moisés. “O consumo é, em média, de 1,5 quilos por ano, enquanto na Europa a média é de 3,4 ou 3,8 quilos e os franceses e belgas chegam aos quatro quilos. Estamos também muito interessados em explorar os mercados do Médio Oriente. E são países onde se enquadra bem esta ideia da identidade entre o palacete e o chocolate. Os visitantes do palacete podem ser embaixadores do nosso chocolate.” Todos sairão daqui com uma caixa – e os que passaram por cá desde a abertura partiram com a promessa de que receberão uma assim que a fábrica começar a funcionar.

Ficamos a conversar até ser já noite e virem chamar-nos para o jantar, na parte de cima da casa, que é também a zona de habitação de Moisés e Sandra. Subimos a escadaria para descobrir os três salões que se sucedem: o amarelo, o rosa e o azul, tectos com delicado trabalho em estuque, as enormes janelas a dar para o Largo Alexandre Herculano e, nas paredes, emoldurados, bordados da Madeira, terra natal de Sandra. 

Mas o espaço mais surpreendente é o das duas salas de refeições, a de jantar, com a grande mesa no centro, e a seguinte, onde são servidos os pequenos-almoços. Foram, contam os proprietários, dois salões que exigiram um trabalho particularmente profundo e rigoroso durante a fase das obras. Chão de madeira e paredes e tecto pintados dando a perfeita ilusão de se tratar também de madeira – durante a tarde, a luz que entra pelas janelas dá a estas salas um tom dourado. Agora, à noite, à luz dos lustres e com a mesa elegantemente posta para o jantar, parece que viajámos no tempo, de volta ao século XIX. 

Durante o jantar sucedem-se os produtos da Madeira e da infância de Sandra, como o soufflé de pimpinela, mas também do Alentejo, como o vinho ou as bolotas envolvidas em doce de abóbora, para terminar com uma sobremesa que é já um símbolo do palacete e que veio de uma receita da bisavó da proprietária: uma mousse de chocolate que, por ser mais do que isso, foi rebaptizada por um dos hóspedes como creme real de chocolate à antiga. 

É tempo de voltar para o nosso quarto cor de chocolate, lançar um olhar às ameias do castelo (que se vêem através da única janela) e fugir ao frio que começa a sentir-se lá fora no meio dos edredons de uma cama excepcionalmente confortável – elogiamo-la no dia seguinte aos nossos anfitriões, que confirmam que esse foi um dos aspectos em que mais investiram.

Antes de partirmos, há tempo para o pequeno-almoço, servido na sala de paredes de madeira – uma mesa com variedades de pão (entre os quais o pão de bolota da vizinha Herdade do Freixo do Meio), diferentes queijos e enchidos da região, doces e compotas caseiros, um bolo acabado de fazer, fruta fresca e sumo de laranja espremido na altura na pequena cozinha que tentaram manter o mais próxima possível da original. 

Despedimo-nos de Sandra e Moisés e do palacete do chocolate, com a promessa de que, tal como os outros hóspedes, iremos receber uma caixa com os primeiros bombons aqui produzidos a partir de 2016. A porta fecha-se atrás de nós e estamos de volta ao largo que continua mergulhado na calma alentejana, com o tímido sol de Outono a começar a aparecer. 

A Fugas esteve alojada a convite do Palacete da Real Companhia do Cacau

Informações 
Preços desde 149€ a 289€ com pequeno-almoço 

Programa especial de fim de ano (mínimo de quatro noites): inclui cocktail, jantar, animação com DJ a partir da meia-noite, ceia, bar aberto e brunch no dia de Ano Novo. Preços por pessoa em quarto duplo entre os 239€ e os 259€ na noite de fim de ano e nas restantes noites entre os 55€ e os 70€. As quatro noites podem ser reservadas em qualquer data entre 28 de Dezembro e 4 de Janeiro.

Como chegar
A partir de Lisboa são 103 Km, aproximadamente uma hora. Apanhar a A2 primeiro e depois a A6. Sair na terceira saída, apanhar a N114 e seguir para a N2. Na rotunda, sair na segunda saída para a Rua de Lisboa, que conduz à Rua do Passo. O Largo Alexandre Herculano fica à direita.
A partir do Porto são 375 Km, aproximadamente três horas. Apanhar a A1 primeiro e depois a A13. Sair para a N114 e seguir até à N2. Na rotunda, sair na segunda saída para a Rua de Lisboa, que conduz à Rua do Passo. O Largo Alexandre Herculano fica à direita

Nome
Palacete da Real Companhia do Cacau
Local
Montemor-o-Novo, Nossa Senhora do Bispo, Largo Alexandre Herculano, 1
Telefone
961797829
Website
http://palace.com.pt
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