Fugas - hotéis

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Verde é um nome que lhe cai tão bem

Por Sandra Silva Costa ,

É o primeiro hotel vínico da Rota dos Vinhos Verdes - e está rodeado de verde por todos os lados, por fora e também por dentro. E no Monverde brinda-se igualmente bem tanto no Inverno como no Verão. Especialmente com um Quinta da Lixa.

Chegamos pelo meio da tarde, chuva miúda a cair, as vinhas despidas, terra molhada a toda a volta, um cenário quase desolador — e ao mesmo tempo tão atraente. Há algo de paradoxal na nossa visão das coisas, pensamos: se por um lado suspiramos pelos dias de sol e calor, a convidar ao mergulho na piscina com vista para as videiras, também não resistimos a um sábado de Inverno, triste, cinzento e frio — desde que possamos apreciá-lo através de uma enorme janela recortada para a paisagem, enroscados numa manta, com um livro na mão e um copo de espumante na outra.

Já lá iremos. Agora ainda estamos a olhar em redor, a tentar tirar as medidas a este Monverde Wine Experience, que se situa a poucos quilómetros da Lixa e a menos de 20 de Amarante. A olho nu, não chegamos lá, vamos precisar da ajuda do director da unidade, João Portugal, que nos introduz na história deste que é o primeiro hotel vínico da Rota dos Vinhos Verdes. “São 30 hectares, 22 deles de vinha.” 

Já que estamos neste ponto, desenrole-se o resto do novelo: o Monverde Wine Experience foi uma espécie de evolução natural do negócio da Quinta da Lixa, conhecida produtora de vinhos (4,5 milhões de garrafas por ano, 50% destinadas à exportação). Inicialmente, a construção do hotel foi pensada apenas para “dar resposta de alojamento aos mais de 2600 turistas” que visitavam as vinhas da Quinta da Lixa, mas o projecto rapidamente evoluiu para o que temos hoje à frente dos olhos. E, desde que abriu, em Maio do ano passado, já por aqui passaram “mais de 5000 enoturistas”. 

Boa média, pensamos, embora na equação tenha que entrar o facto de o Monverde se ter estreado mesmo a tempo do Verão. Mas visitamo-lo em Janeiro, num fim-de-semana de meteorologia feiosa, e a lotação está esgotada. “Gostava de lhe mostrar outros quartos, mas estão todos ocupados”, diz-nos João Portugal enquanto nos vai apresentando os espaços do hotel. Já passámos pelo edifício principal, onde estão a recepção, o restaurante, o bar e a sala de leitura — e por aqui merece destaque a escultura de Paulo Neves. São 366 folhas de videira que pendem do tecto e que representam simultaneamente algumas das castas plantadas nos hectares de vinha lá fora e cada um dos dias do ano, uma única dourada a dar símbolo aos anos bissextos. 

Para além deste edifício onde estão as áreas comuns, há duas casas de granito, a nascente e a poente, por onde se distribuem os 29 quartos, mais um bloco onde se encontra a piscina e o spa. Movimentarmo-nos entre cada um deles exige sempre uma passagem pelo exterior, que no Verão há-de ser agradável, mas no Inverno, mais ainda quando chove, nem por isso. Pensamos nisto alto e João Portugal explica: não foi uma opção, o gabinete de arquitectura, liderado por Fernando Coelho, foi confrontado com a possibilidade de intervir apenas nas áreas já construídas na Quinta de Sanguinhedo. Daí que o projecto tenha passado muito pela recuperação do que já existia e pela reutilização de materiais — “por exemplo, 85% da pedra usada na obra de requalificação já existia no terreno”, comenta João Portugal. 

À nossa volta, vemos de facto muita pedra, algum vidro, alvenaria — tudo muito bem conjugado e integrado na paisagem. Até na paleta de cores seleccionada, que vai do verde-azeitona aos tons de terra e ferrugem, estes escolhidos para assinalar as áreas de serviço, nota o director do hotel. No edifício nascente, o verde é quem mais ordena dentro de portas; no poente, mandam as cores mais ligadas à terra — e esta foi também uma forma, explica João Portugal, de homenagear os ciclos da vinha. “De um lado, temos as cores das videiras na Primavera; do outro, lembramo-nos mais dos tons que ganham as vinhas no Outono.” A decoração de interiores ficou a cargo de Paulo Lobo, que foi buscar aos antiquários e às tradições locais alguns dos objectos que decoram as paredes dos corredores de acesso aos quartos — é o caso, por exemplo, das pias de pedra ou das grandes arcas de madeira com que nos cruzamos a caminho do quarto que nos calhou em sorte.

É o 12, na casa nascente, e tem ares de Primavera. Do enorme janelão que se rasga de dentro para fora é um manto verde que se vê — as cepas estão agora despidas, mas ainda assim destaca-se o verde do chão de onde elas brotam. E mais verde será o cenário quando, na força do calor, todos estes hectares se transformarem num mar ondulante de vinhas — há aqui Loureiro, Avesso, Arinto, Vinhão e Touriga Nacional — para nos embalar o sono. Para já, esticamo-nos na cama, de onde temos vista, também, para pequenos canteiros onde crescem ervas aromáticas e uma dúzia de limoeiros. E então sim, enroscamo-nos numa manta (verde, naturalmente), pegamos num livro e brindamos com o Tal da Lixa Extra Dry Sparkling — o mesmo que é servido quando da recepção a cada hóspede que aqui chega.

Ficávamos por aqui de bom grado a ver a chuva a cair, mas a directora de vinhos do Monverde, Bebiana Monteiro, conduz uma prova daqui a nada e queremos juntar-nos. Encontramo-la no bar, já a explicar a alguns hóspedes as características dos vinhos da Quinta da Lixa que aqui se vão experimentar. No fim da prova, é ela quem nos explica que o Monverde também quer “ser reconhecido como um espaço de formação de vinhos e gastronomia” e para tal foi criada a Monverde Wine Academy, que organiza várias actividades relacionadas com a temática, destinadas a quem cá está alojado ou ao público em geral. Algumas destas acções podem acontecer na imponente Adega dos Tonéis, mesmo ao lado da loja onde hóspedes e não hóspedes podem comprar algumas das referências da Quinta da Lixa. 

Como ir
Do Porto, é seguir pela A4 (direcção Amarante/Vila Real) e abandonar esta via na saída 14, que indica Felgueiras, Guimarães e Marco de Canaveses. Em seguida, convergir para a A11 e tomar depois a saída 15, no sentido Lixa/Caíde de Rei. Entretanto, hão-de aparecer indicações para o hotel.

O que fazer
Para além dos óbvios passeios pelas vinhas, há também a possibilidade de visitar as instalações da Quinta da Lixa, que fica a uns três quilómetros do hotel, e assim acompanhar o processo de produção vinícola. E uma massagem no spa também é muito recomendada: a oferta vai dos tratamentos com produtos vínicos até à massagem com pedras quentes, que experimentámos e aprovámos. De resto, há uma convidativa piscina exterior e outra interior, igualmente imperdível em tempos mais frios.
Quem preferir sair do hotel, Amarante fica bem perto, a menos de 20 quilómetros. Obrigatório visitar a Igreja de São Gonçalo, o Museu Amadeo de Souza Cardoso e, claro, comprar uma caixinha de doces conventuais: há lérias, foguetes, papos d’anjo e brisas de Amarante, entre outras bombas calóricas.

Onde comer
O restaurante do hotel, comandado pelo chef Agostinho Martins, é uma aposta seguríssima. A atestá-lo, basta olhar para a freguesia ao almoço de domingo — que costuma incluir, para além dos hóspedes, muitos clientes de fora. Pela parte que nos toca, experimentámos um menu de degustação com cinco pratos (cogumelo recheado com emulsão de dióspiro, alheira salteada com grelos e puré de maçã, tranche de robalo em caldo com legumes a vapor, vitela a baixa temperatura com pera e tarte de abóbora manteiga com frutos secos; 45€), harmonizados com vinhos da Quinta da Lixa, e só não apreciámos por aí além o prato de peixe. De resto, tudo no ponto, com um equilíbrio notório entre os sabores tradicionais e as interpretações contemporâneas. 
Estando em Amarante, o Zé da Calçada é um daqueles clássicos que vale a pena conhecer. Fica na Rua 31 de Janeiro, 83. 

A Fugas esteve alojada a convite do Monverde Wine Experience

Nome
Monverde Wine Experience
Local
Amarante, Telões, Quinta de Sanguinhedo
Telefone
255143100
Website
http://www.monverde.pt/
Observações
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