Fugas - hotéis

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O Alentejo é sereno, sereno

Por Cláudia Lima Carvalho ,

Na serra de Grândola, no meio do nada, com vista para o infinito. Tranquilo e silencioso. Eis A Serenada, uma pequena unidade turística com apenas seis quartos onde o vinho é rei. E o hóspede também.

A história da Serenada é a história da família de Jacinta Sobral e do seu marido Manuel Rodrigues da Silva. Ela, uma apaixonada por vinhos; ele, um homem da hotelaria. Foi no cruzamento destes dois interesses que nasceu este enoturismo em 2013. E o nome não engana: os dias por cá são serenos, serenos, Tão longe de tudo e tão perto. Não é uma contradição, é mesmo o que se passa. À volta não há nada, apenas um silêncio que se propaga na vista sem fim para Setúbal. Depois, a dez minutos, temos a praia. E que não nos falte o vinho.

Quando aqui chegamos é a vista que nos prende o olhar: um verde sem fim, casas só aqui e ali e lá muito longe e muito lá ao fundo a Serra da Arrábida. É quanto basta para nos sentirmos distantes do mundo. Max, o cão da família, é quem nos dá as boas-vindas. Vem esperar-nos ao carro, fazer-se mostrar. E assim em pouco tempo é como se tivéssemos chegado a casa de uns amigos, num ambiente informal e descontraído. Telma Pereira, a assistente de direcção da Serenada, é quem nos recebe, alertada por Max. 

Começa por nos fazer uma visita pelo espaço e logo na recepção, que fica no edifício principal a que deram o nome de Casa do Monte, é na janela que nos fixamos. A ocupar toda uma parede, o que a vista alcança não fica atrás de uma qualquer pintura de um artista de renome. É um quadro em movimento, com as árvores que dançam ao vento e os pássaros a acompanhar. Apetece-nos imediatamente sentar-nos naqueles sofás perto da janela. Podíamos ficar ali horas, sem falar e de copo na mão. Quando aqui estivemos, o dia estava particularmente cinzento: muito vento e alguma chuva e até um pouco de frio. Pode parecer estranho mas foi a combinação perfeita para passar uma noite em pleno. A agitação que avistávamos pela janela era o contraste absoluto com o que se passava dentro de portas – tanto na Casa do Monte (que além da recepção, tem uma sala de jogos e uma pequena biblioteca no piso térreo) como nos quartos, com destaque para as duas suites igualmente com uma janela e varanda privada com vista para o infinito.

E ainda nem falámos da piscina. Não é muito grande mas tem uma vista que até no Inverno nos faz apetecer mergulhar só para estar ali a contemplar. Panorâmica, numa encosta verde. 

As suites são a novidade na Serenada. São um acrescento recente, depois de este turismo ter aberto portas em 2013 apenas com quatro quartos. “A procura era muita e por isso havia vontade de fazer duas unidades com maior qualidade, mais espaçosas”, diz Telma Pereira. Nestas suites, equipadas com salamandra para noites frias como a que tivemos, mas também com uma varanda para os dias mais quentes, destaca-se o uso da cortiça. Houve um cuidado não só na decoração como na disposição do espaço. As suites foram criadas para responder a uma necessidade que sentiam: responder a clientes que procuravam um nível superior. “Todos os quartos são bonitos, todos são confortáveis mas as suites com a área que têm, com o apoio de cozinha, a varanda privativa, vieram dar-nos esse lado”, conta, lembrando que quando em Junho de 2013 abriram portas pela primeira vez – “ainda nem site tínhamos” – tinham a intenção de “começar devagarinho” para perceber as necessidades dos clientes. “Mas de repente só respirámos no fim de Outubro.”

Desde então tem sido sempre assim, aponta Telma Pereira. “Entre Abril e o fim de Outubro a ocupação é muito alta, as reservas têm de ser feitas com alguma antecedência porque é bastante difícil. Por exemplo, se a pessoa quiser uma estadia mais prolongada pode ser mais complicado de se conseguir”, acrescenta, revelando que as duas suites são sempre os primeiros quartos a serem reservados. 

Telma Pereira passa os seus dias aqui. Recebe cada hóspede como se de um amigo se tratasse. Está disponível para conversar e para beber um copo de vinho, ou não estivéssemos nós numa quinta onde ele é feito. 

“A Serenada está há cerca de 300 anos na família de Jacinta Sobral. O primeiro documento que temos é de 1646 – um testamento que usámos para rótulo das nossas garrafas de Cepas Cinquentenárias”, diz. “Num passado mais recente, a propriedade era do pai de Jacinta.” Foi este que plantou a vinha, por gosto e sem qualquer ideia de negócio. “Apesar de vender sempre alguma da produção mas de uma forma informal que se fazia antigamente – as pessoas vinham com os seus garrafões buscar o seu vinho branco e o seu vinho tinto”, continua Telma Pereira, contando que esta é uma tradição que mantêm, apesar de terem já uma produção profissional, ainda que pequena. “Fazemos sempre uma pequena quantidade de vinho bag in box para não cortar os laços com essas pessoas que vinham buscar o vinho do dr. Sobral – como era conhecido na zona”, explica. 

Quando, em 2006, o pai morreu e Jacinta Sobral herdou a propriedade, foi preciso decidir o que fazer. Farmacêutica de profissão, Jacinta investiu num mestrado em enologia. Ela que já fazia vinho com pai, fez questão de apostar nisso. “E foi levando a coisa cada vez mais a sério, a sua grande paixão é realmente o vinho e o turismo veio depois”, destaca Telma Pereira, contando que o marido de Jacinta, Manuel Rodrigues da Silva, já tinha na família uma outra unidade hoteleira em Santiago do Cacém – o Hotel Dom Nuno. 

E assim nascia a ideia para este enoturismo. “Continuam-se a produzir os vinhos que o pai de Jacinta produzia e que hoje em dia são os Cepas Cinquentenárias branco e tinto, e depois plantou-se, a partir de 2008, a parte nova da vinha.” Chamaram-lhes Serras de Grândola. “Temos uma gama de branco, tinto, rosado”, explica Telma Pereira, alertando que apesar de hoje esta ser uma produção profissional, quando comparada com aquela do pai de Jacinta, “é uma coisa muito pequenina”. “Estamos sempre a falar de 1500 garrafas de um vinho, 900 de outro... Esgota sempre, o que é bom sinal. E temos recebido alguns prémios, o que nos indica que vamos fazendo o nosso caminho.”

O vinho é feito aqui, na adega da família que não fica muito distante da Casa do Monte. Todos os hóspedes são convidados a visitá-la e não faltam também as provas de vinhos. “As pessoas vêm cada vez mais por causa do vinho. Claro que no Verão a grande motivação é a praia, embora com tempo se junte o útil ao agradável. Mas fora de época é o vinho a grande razão da procura e claro que não é alheio a isso a questão da vista, do romantismo, da dimensão da unidade”, aponta a responsável, destacando, além das provas, as refeições vínicas. “Temos uma cozinha regional portuguesa com uma tónica maior nos produtos da região.”

As bochechas de porco estufadas em vinho tinto são uma especialidade. E não estranhe que o vinho esteja presente tanto na entrada e na sobremesa como no prato principal. “Tentamos incluir o vinho em tudo o que fazemos. No fundo é o vinho que está na origem de tudo. O vinho é o que faz da Serenada o que a Serenada é. Cada turismo rural tem a sua vocação e este é no que se distingue.”

Questionada sobre a possibilidade de o espaço vir a aumentar, tendo em conta o nível de procura, Telma Pereira é peremptória: “A ideia não é crescer desmesuradamente”. “O espírito é boutique no vinho e na casa”, diz. “Tínhamos espaço mas não o queremos fazer. Não quer dizer que surja mais um ou duas unidades mas será sempre uma coisa muito controlada senão perde-se isto. Não se pode beber um copo de vinho com as pessoas que nos visitam.”

A Fugas ficou alojada a convite de A Serenada

Informações
Preços: os preços variam entre os 70 euros e os 140 euros (quarto ou suite), com pequeno-almoço incluído

Nome
A Serenada
Local
Grândola, Melides, Outeiro André, Sobreiras Altas
Telefone
929067027
Website
https://www.facebook.com/A.Serenada.Enoturismo
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