Fugas - hotéis

  • Nelson Garrido
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O bom Vintage está de volta

Por Patrícia Carvalho ,

Está como novo, o edifício mais icónico da marginal do Pinhão, para quem observa a vila do outro lado do rio Douro. De regresso às mãos dos antigos donos, o Vintage House Hotel é o local perfeito para esquecer o stress e deixar- -se embalar pelas águas do rio e a magia das encostas cobertas de vinha. Não feche os olhos, porque não quer perder a paisagem. Mas relaxe.

Há um azul imenso que nos acolhe assim que chegamos à recepção do Vintage House Hotel e que é um dos primeiros sinais que este não é o mesmo hotel de há alguns anos. Ou melhor, é o mesmo, mas melhorado, um espaço antigo-novo pronto para o que vier e a prometer mais, porque os donos da The Fladgate Partnership, que em Outubro compraram a unidade hoteleira, já têm planos para a sua ampliação. Mas, para já, tal como está, já é muito bom. 

E é muito bom lá dentro e melhor ainda no exterior, ou vice-versa, não sabemos bem. O único inconveniente é que é um pouco labiríntico — sentimos sempre que não vamos conseguir encontrar o caminho para o restaurante ou o bar. Mas o caso tem uma solução fácil: em vez de procurar encontrar o corredor que vai dar às escadas que procura, vá pelo exterior. Os caminhos exteriores do hotel não têm que enganar — vão sempre dar ao jardim, com a piscina, a esplanada voltada para o rio e a porta do restaurante mesmo ali ao lado.

Queremos ficar lá fora. É um final de tarde de um belo dia de sol, daqueles dias de calor do Douro que tanto têm faltado noutras zonas do país (como o Porto, de onde saíramos de manhã, com a cidade envolta num frio nevoeiro). O rio está cheio mas tranquilo, de um verde que se mistura com o das folhas das vinhas que cobrem as encostas à nossa frente, à esquerda e à direita. Não há ruído que nos incomode. O último comboio a passar na estação do Pinhão, ali mesmo atrás do hotel, já foi há algum tempo, e o próximo sabe-se lá quando virá. É verdade que os carros cruzam a ponte ali ao pé, mas não se ouvem, como se um muro invisível se tivesse levantado para nos proteger de tudo o que não é tranquilidade, o calor a aconchegar-nos o corpo e um copo de vinho a refrescar-nos a alma.

Ficamos, por isso, por ali, a lamentarmo-nos por não termos um biquíni que nos deixe usufruir da piscina, mas ao mesmo tempo felizes por podermos ficar ao sol, enquanto ele não se esconde atrás da colina ali mais à direita. E, por falar nisso, já não falta muito para ele ficar oculto por aquela elevação coberta de vinha, pelo que olhamos para o outro lado, para a varanda do nosso quarto, no 3.º piso do hotel, e começamos a pensar que ali sempre teríamos sol por mais uns minutos.

Por isso, vamos para o quarto, abrimos a portada e instalamo-nos na cadeira de ferro, com o Douro e ainda o sol por companhia. Só mais um pouco. Só mais um bocadinho até voltarmos para dentro. A maldição da região duriense, para quem só está de visita, é que nunca queremos partir. Se nos deixassem ali ficar, só mais uns dias, uma semana, alguns meses…

É hora de entrar e reconfortarmo-nos com a suíte imensa que nos coube na sorte. Há uma sala com um sofá confortável, várias imagens do Douro na parede e no canto, ao lado de um dos reposteiros decorados com rubros cachos de uvas, há um candeeiro antigo, de cores fortes, com um menino negro a segurar várias lâmpadas. Adrian Bridge, o director-geral da Fladgate, que incluíra, horas antes, este quarto na visita que fizéramos ao hotel, tinha demorado alguns segundos a olhar para o candeeiro de pé, indeciso. “Ainda não sei se vai ficar aqui”, disse.

O hotel está cheio de pormenores novos. Quando voltou a casa — ele abrira pela mão da Taylor’s, em 1998, uma das marcas que faz parte do universo Fladgate, com a Croft, a Fonseca e a Krohn — o Vintage foi totalmente reformado. A fachada lateral que tem a principal porta de acesso perdeu a escada de saída de emergência, que agora parece nunca ter estado noutro sítio senão a parede das traseiras para onde foi transferida. A área de recepção foi pintada do tal azul forte que nos recebe, as portadas com vidraças para o rio foram alargadas e acrescentaram-se mais janelas. “Agora é como uma parede quase invisível para o Douro, temos muito mais luz”, descreve Adrian e percebemos o que quer dizer.

As mudanças mais complicadas, realizadas no tempo recorde de dez semanas (período em que o hotel esteve fechado, entre Janeiro e Março), implicaram a substituição de todo o sistema de água fria e a transformação das salas de reuniões por cima da recepção em quatro novas suítes. Uma das quais é o nosso quarto, com o candeeiro que causa dúvidas ao dono do hotel.

Por nós, pode ficar assim. Não ficamos tanto tempo assim naquela sala. Usamos o sofá, mas não nos sentamos à mesa. Já no quarto de banho, não resistimos a encher a banheira e a experimentar a que sabe um banho relaxado, com as portadas da varanda abertas, a deixarem entrar o verde das vinhas pelo quarto dentro (e sabe muito bem, acreditem).

Atiramos um olhar à cama, que nos tenta com as suas grandes almofadas e o ar confortável, mas ainda é cedo para dormir. Descemos para o jantar, mas a noite está tão agradável, com uma temperatura que leva os mais calorentos a dispensar casaco, que nos deixamos ficar a gozar um pouco mais a esplanada. Os barcos já não cruzam o Douro, o sol já não nos afaga o rosto, mas o silêncio continua ali, bem como um Porto tónico que convida a mais uns minutos de pura contemplação da paisagem que ainda se desenha no crepúsculo.

Quando, finalmente, nos encontramos com a cama que já nos andara a fazer olhinhos, sabemos que vamos ter uma noite tranquila. Dormimos confortavelmente, até o canto dos pássaros nos despertar pela manhã. É mais um dia de céu azul resplandecente no Douro e, na televisão, um directo a partir do Porto mostra-nos mais uma manhã escondida pelo nevoeiro. Afastamos os cortinados pesados, para deixar o sol entrar, e regressamos um pouco mais ao conforto da nossa cama larga. 

Sabemos que lá em baixo há uma sala voltada para o rio com o pequeno-almoço à nossa espera. Havemos de descer e vamos comer devagar, saboreando a fruta fresca, os pães e os ovos. Vamos beber café e um sumo natural, lentamente, roubando mais uns minutos à hora de partida. É só mais um bocadinho. Só mais um bocadinho, se faz favor…

A Fugas esteve alojada a convite do Vintage House Hotel

 

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Quartos e Preços

Há 36 quartos e 11 suítes com vista para o rio Douro à sua espera no Vintage House Hotel. Os quartos são luminosos e espaçosos, mas as suítes são verdadeiramente grandes e além do quarto de dormir incluem uma sala, o quarto de banho (maior que as salas de algumas casas de menores dimensões) e um corredor com armários para guardar a roupa. Além da varanda, claro, e se está a descansar no Douro, é bem provável que passe muito tempo na varanda. Os preços começam nos 150 euros (quarto duplo standard, com pequeno-almoço) e podem chegar aos 400 euros por noite, se optar pela master suite. Há preços intermédios de 180 (junior suite) e 250 euros (deluxe suite). Os planos de futuro da Fladgate passam pela ampliação do hotel, com mais quartos e novos serviços, que incluem uma piscina interior e um spa. Por enquanto, a piscina exterior e a esplanada são os locais onde poderá querer passar uma boa parte do dia.

Onde Comer

Jantamos no Rabelo, o restaurante do hotel, onde a cozinha mistura os sabores tradicionais com novas experiências. O resultado, podemos garantir, é bom. E o azeite da Quinta da Roêda, que acompanha a refeição, é de molhar o pão e chorar por mais.
E isso (comer e chorar por mais) já nós tínhamos feito ao almoço, com o belíssimo cabrito da Quinta do Panascal, que a dona Leninha tinha a assar em lume brando desde as 8h. E tivemos de repetir o leite-creme de sobremesa, sim. E antes já tínhamos dado cabo de mais bolinhos de bacalhau e de amêndoas torradas da região do que seria conveniente. Mas soube tudo tão bem!

O que fazer

O Douro tem quase tudo: belas paisagens, boa comida e um vinho maravilhoso. A Fladgate não produz vinhos de mesa, mas não é por isso que deixará de os beber. Aliás, o grupo faz questão de anunciar aos seus clientes que não faltam parceiros com quem realizar as experiências que a empresa não ofereça, seja um passeio de barco ou uma prova de queijos. Ainda assim, entre as quintas do Panascal e da Roêda — as duas que estão abertas ao público — já terá bastante com que se entreter. Ana Margarida, relações públicas do grupo, diz que a melhor forma de se chegar ao Panascal é de barco, num barco que passe por baixo da ponte onde o rio Távora encontra o Douro, mas nós vamos mesmo de carro.
O primeiro centro de visitas de uma quinta abriu aqui, em 1992, pelo que desde essa altura que os visitantes, munidos de dispositivos áudio, são convidados a fazer um pequeno percurso entre as vinhas que hão-de dar origem aos vinhos da marca Fonseca. O passeio leva-o pelo meio das vinhas e convida-o a andar devagar, apreciando a paisagem do vale do rio Távora, lá em baixo. Na Primavera, há espaços cobertos de papoilas e flores selvagens, amarelas e roxas, que salpicam a paisagem com tonalidades muito para lá do verde. No regresso, espreite o lagar, saboreie o vinho e, se puder (e isso terá de ser marcado com antecedência) fique para almoçar as delícias da dona Leninha.
Na Roêda, o centro de visitas é muito mais recente — abriu apenas em Setembro do ano passado — e por isso muito maior e convidativo. Também aqui pode passear entre as vinhas, sem a presença do Douro, que fica oculto, a menos que se suba ao topo da encosta (o que não deverá fazer). E é claro que há a zona dos lagares, com modernas casas de banho e úteis lava-pernas, para quem vai experimentar a pisa da uva.

Nome
Vintage House Hotel
Local
Alijó, Pinhão, Rua Manuel António Saraiva
Telefone
254 730 230
Website
www.vintagehousehotel.com/pt/
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