Estamos no sul do país, perto do mar, mas suficientemente longe. À nossa volta, nos 18 hectares deste hotel rural, há 11 mil laranjeiras e outras árvores autóctones do Algarve – alfarrobeiras, oliveiras, amendoeiras, sobreiros. Ouvimos o canto dos pássaros. É o Algarve “autêntico”, dizem-nos. Conhecemo-lo com chuviscos mas os raios de sol algarvios acabaram mesmo por aparecer.
A nove quilómetros de Tavira, em Santa Catarina da Fonte do Bispo, o edifício branco com pinceladas a amarelo nas arcadas destaca-se no meio do verde. Vagueamos por entre os caminhos em pedra, já dentro da propriedade, e descobrimos pequenos miradouros. A vista de mar vai de Monte Gordo até Olhão. “No pico do Verão, pode ir para a praia, para a confusão, mas depois regressa e está na tranquilidade”, sugere Hélder Martins, proprietário da Quinta do Marco.
A quinta já existe há nove anos e funcionou como turismo rural até 2014. Hélder Martins, ex-presidente da Região de Turismo do Algarve e ligado ao mundo hoteleiro há vários anos, soube que a unidade estava à venda, visitou-a, e quis “mudar de vida”. Devido a conflitos entre os anteriores proprietários e o banco, o negócio não foi fácil, mas concretizou-se em 2015 – já o espaço estava fechado há um ano e “parecia uma selva” mas não estava “destruído nem vandalizado” e, por isso, as estruturas principais foram mantidas.
As obras de remodelação prolongaram-se até Janeiro e passaram por várias fases. Quando abriu, em Fevereiro, no dia dos Namorados, ainda havia meia dúzia de quartos por acabar. No total são 24, entre duplos, triplos e familiares – “Tenho três filhas e sei que é difícil encontrar quartos grandes ou comunicantes. Sempre que viajávamos todos era uma complicação”, conta Hélder –, e cada um tem o nome de uma planta que inspira a decoração de todo o quarto.
No quarto em que ficamos hospedados, a orquídea é rainha. Numa larga pintura na parede, na colcha floral da cama, nas almofadas. Da larga varanda com duas cadeiras, uma vista que nos prende o olhar: o tal verde, em variadíssimos tons, das árvores que abanam ligeiramente com o vento e o eterno azul, escondido entre as nuvens cinzentas que nos receberam.
Em cada quarto há também uma estante com livros de vários géneros – numa rápida vista de olhos encontramos infantis, um e outro romance, policiais – escritos em diversas línguas. “A ideia é entrar e parecer que estamos em casa. Se quisermos pegar num livro e sentarmo-nos na varanda a ler, por exemplo, eles estão aqui”, explica o proprietário. Também nas áreas comuns há outros exemplares, todos provenientes da Direcção Regional de Cultura do Algarve, da Região do Turismo, das Câmaras Municipais. Outros vieram da biblioteca privada de Hélder. “O mais giro é que agora o cliente vem e deixa cá os seus próprios livros”, comenta numa conversa na sala-de-estar do hotel com música ligeira como banda sonora.
Há hóspedes a refugiarem-se da chuva inesperada nesta sala que funciona também como bar interior. Não é comum chover no Algarve, diz Hélder. Ainda assim, reconhece que o grande problema da região é o Inverno – a abertura foi em plena estação fria e o proprietário admite a necessidade de criar um conjunto de produtos e serviços para contornar isso. Já há acordos com empresas e profissionais locais para passeios pedestres, aulas de ioga, há três massagens disponíveis no gabinete, sauna, e bicicletas para pedalar livremente ou com um percurso definido. Quando aqui estivemos, os dias já estavam longos e o sol, quando apareceu, nem sempre trazia raios quentes. Mas não foi a meteorologia que nos impediu de dar umas braçadas na piscina. Ainda assim, nos planos de Hélder estão uma cobertura e uma bomba de calor.
Animação nocturna
São duas piscinas, uma para adultos e outra para crianças, e um jacuzzi, rodeados de espreguiçadeiras e chapéus de palha. O bar da piscina, que nos meses de Verão servirá bebidas frescas e refeições rápidas e leves, tem um pequeno terraço com cadeiras suspensas e uma vista para as árvores de fruto. À noite haverá, duas vezes por semana, jantares especiais e animação nocturna, seja com o rancho folclórico da região ou outro grupo musical.
Já ao cair da noite, no restaurante do hotel, a estrutura dá-nos a ilusão de estarmos suspensos no ar e a parede envidraçada permite-nos observar a piscina iluminada e os montes delineados no escuro.
O restaurante é uma das apostas fortes da Quinta do Marco. Como não poderia deixar de ser em Tavira, a ementa tem atum e polvo. Mas também javali, galo de campo. Durante a nossa estadia, recebemos dicas de refeição do senhor Zé, como gosta de ser tratado, um dos funcionários do restaurante. E se ao jantar a muxama de atum em cama de cebola roxa foi o favorito, no almoço do dia seguinte foi o ensopado de javali, a especialidade da casa, que surpreendeu.
A propriedade tem ainda uma pequena horta – onde o guardião é um espantalho com roupa havaiana – com tomates, alfaces, batatas, cebolas, salsa, coentros, que abastecem a cozinha do restaurante. “Estamos a tentar ser autónomos”, explica o dono do turismo rural. “Temos as laranjeiras para o sumo de laranja do pequeno-almoço e plantámos ainda um conjunto de outras espécies, como limoeiros, romãzeiras, nespereiras, figueiras. Todos estes frutos, à medida que estão bons, são disponibilizados ao cliente”, enumera. Há também ovelhas, galinhas, gansos e cabras, que passeiam pelos campos.
O hotel tem tido muita procura, especialmente de franceses – “enquanto o inglês gosta mais da praia, o francês gosta mais deste produto interior”, comenta o responsável. Hélder Martins já foi também abordado para realizar jantares de grandes grupos ou até casamentos e baptizados. Actualmente, o espaço não permite a realização destes eventos mas em Novembro haverá mudanças – a unidade hoteleira fechará três semanas para algumas intervenções e obras. “Estou a planear fazer uma estufa, no meio da horta. Uma estrutura em madeira com capacidade para 130/140 pessoas que permita servir um jantar de natal, de fim de ano, que sirva como sala de reuniões ou para outras cerimónias, como casamentos e baptizados”, adianta. Um “complemento” para os meses de época baixa. Mas aumentar a capacidade hoteleira não está nos planos: “É o conceito de hotel de charme. Tem de ser desta dimensão, não maior. É intimista, como se estivesse em casa.”
Informações
Preços: Desde 58 euros por noite em quarto duplo em época baixa. Quartos triplos (cama de casal e sofá-cama) por 102 euros e quarto familiar (cama de casal e duas camas individuais) por 145 euros. Na época alta, os preços variam entre os 149 e os 230 euros por noite. A estadia inclui sempre pequeno-almoço. No site, a Quinta do Marco divulga vários pacotes de duas e três noites a preços especiais.
Como ir: O rumo a sul deverá ser feito pela A2, seguindo esta auto-estrada até ao fim. Depois de convergir com a A22, na direcção de Vila Real de Santo António, deve seguir para a N125/Olhão (saída n.º 15). Na rotunda, entre na N398 pela 3.ª saída. Mais à frente, numa segunda rotunda, onde já deverá encontrar uma placa indicativa, siga pela primeira saída. O hotel é três quilómetros, à esquerda.
A Fugas esteve alojada a convite do Hotel Rural Quinta do Marco
- Nome
- Quinta do Marco
- Local
- Tavira, Santa Catarina da Fonte do Bispo, Sítio do Marco, Santa Catarina da Fonte do Bispo
- Telefone
- 281971500
- Website
- http://www.hotelquintadomarco.com/pt/