Há quem acredite que a melhor forma de sentir a essência de uma cidade passa por assentar arraiais nos seus bairros mais típicos e tradicionais, tomando o pulso às vivências e costumes dos seus habitantes locais. E se esses bairros forem ao mesmo tempo tranquilos e acolhedores, está assim encontrada a combinação perfeita para uma estadia em cidade alheia.
Foi essa centralidade que a Fugas encontrou no Hotel das Salinas, unidade hoteleira de três estrelas (pertencente ao grupo Alboi) que acaba de ser remodelada e está plantada no bairro do Alboi, de frente para o canal central da ria de Aveiro. No seu interior, reina a tranquilidade e uma decoração simples e minimalista, com um pormenor muito especial: um pouco por toda a parte, há poemas de Fernando Pessoa para ler e (re)descobrir, bem como pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, Paula Rêgo, Almada Negreiros ou Vieira da Silva.
Um verdadeiro hino à cultura portuguesa, que não deixou de lado as tradições e a história da própria cidade aveirense — sim, a evocação da memória local não se limita apenas ao nome escolhido para o hotel (há não muitos anos, os montes brancos de sal eram uma constante na paisagem de Aveiro). Logo à entrada do edifício, com uma fachada típica aveirense, encontra-se instalado um painel cerâmico assinado por Jeremias Bandarra e executado na oficina de um reconhecido ceramista da terra, Zé Augusto — importa não esquecer que estamos numa terra com fortes tradições na cerâmica e azulejaria —, que não irá passar despercebido nem aos mais distraídos. Junto à sala de pequenos-almoços, há uma “minigaleria” fotográfica — por ora, estão expostas fotos alusivas aos trabalhos de recuperação do antigo lugre bacalhoeiro Santa Maria Manuela, mas, no futuro, serão exibidas as fotografias que os hóspedes foram enviando a propósito da sua passagem pela cidade.
Mas não é só de arte, e de cultura em geral, que é feito o ambiente do Hotel das Salinas. Para os momentos de convívio e lazer, há um bar ao dispor dos hóspedes (a funcionar até à meia-noite), bem como um pequeno pátio, situado ao lado da sala de pequenos-almoços, especialmente recomendado para os dias ou noites mais amenos. E mesmo que o tempo não convide a uma refeição no exterior, é gratificante poder tomar o pequeno-almoço com vista para o pátio. Mais um detalhe: os pequenos-almoços, que contam com um buffet muito variado, contam com um serviço de louça da Vista Alegre criado exclusivamente para esta unidade hoteleira aveirense.
Quartos para todos
O Hotel das Salinas dispõe de 18 quartos: nove duplos (entre os quais um, instalado no rés-do-chão, totalmente preparado para acolher pessoas com mobilidade reduzida) e nove estúdios twin com kitchenette equipada com fogão, frigorífico e louça.
A Fugas ficou alojada num estúdio com capacidade para quatro pessoas e instalado no terceiro e último piso do edifício. O elevador que serve a parte frontal do imóvel não dispõe de espaço para transportar mais do que duas pessoas ao mesmo tempo — o que serve os quartos instalados na parte traseira acaba por ser mais amplo — mas os lanços de escadas são bem curtos e fáceis. Além do mais, tudo valerá a pena quando chegar ao quarto e puder apreciar a vista para o canal central da ria — com o vaivém de barcos moliceiros, carregados de turistas, durante o dia; e o luar e os reflexos das luzes, durante a noite — e toda a sua envolvente. E sendo certo que a vista para o canal é uma das grandes mais-valias deste hotel, fica também uma certeza para quem ficar hospedado na parte traseira do edifício: a imagem da pacata, e recentemente requalificada, praça do bairro do Alboi não irá defraudar expectativas.
No interior dos quartos, mantém-se a aposta na decoração minimalista e na predominância dos tons claros (e relaxantes). O mobiliário é moderno e funcional, sem esquecer esse pequeno mas grande detalhe: a exaltação da cultura portuguesa, em especial os poemas de Fernando Pessoa. “Vive sem horas. Quanto mede pesa, E quanto pensas mede. Num fluído incerto nexo, como o rio. Cujas ondas são ele, Assim teus dias vê, e se te vires passar, como a outrem, cala”. É este poema de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa) que encontramos estampado no armário do nosso quarto, onde também nos prende a atenção a cabeceira da cama, ilustrada com a imagem de um manuscrito deste nome ímpar da literatura portuguesa — o designer responsável pelo projecto de requalificação do hotel, Pedro Andrade, fez questão de ir buscar imagens dos manuscritos do poeta à Biblioteca Nacional para os introduzir como elementos decorativos.
Além dos poemas de Pessoa, outro dos pontos comuns a todos os quartos é a dimensão generosa de cada um deles, incluindo as casas de banho. O conforto também não é esquecido, com camas espaçosas e acolhedoras e duas variedades de almofadas. Estão, assim, reunidos todos os ingredientes para que possa repousar dos longos passeios a pé pela cidade. É que como o Hotel das Salinas está situado em pleno centro da cidade e a uma curta distância dos principais seus atractivos, o mais normal é que esqueça o carro e opte pelas caminhadas — a cidade é bem plana.
Só a título de exemplo, aqui fica a informação: a cinco minutos a pé do hotel pode encontrar os mais representativos exemplares de Arte Nova da cidade, a Sé Catedral, os museus, os cais de embarque para os passeios de moliceiro, bem como a universidade. Até a vida nocturna, concentrada na Praça do Peixe, está ali bem perto, a uns escassos cinco minutos a pé. Se a opção passar por sair do centro, a curtas distâncias de carro, poderá encontrar as salinas de Aveiro, praias da Barra e Costa Nova, a Vista Alegre, o Museu Marítimo de Ílhavo ou a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto.
A caminhar ou de carro, há algo que pode esperar no seu regresso ao hotel: um merecido descanso e um atendimento personalizado quanto baste. Atendendo ao facto de a unidade hoteleira só dispor de 18 quartos — não sendo dada, por isso, a grandes enchentes de hóspedes — vai poder contar com um tratamento individualizado e constante.
O que fazer
Além dos edifícios Arte Nova, Aveiro é também detentora de vários exemplares de arquitectura contemporânea que merecem ser apreciados e que estão reunidos no Campus Universitário. Vale a pena passear ao longo dos vários departamentos, residência, cantina, biblioteca, entre outros, e descobrir os edifícios projectados por Álvaro Siza Vieira, Alcino Soutinho, Eduardo Souto de Moura, Gonçalo Byrne e Manuel Aires Mateus, entre outros.
Onde comer
Bacalhau&Afins
Especialidade: pratos de bacalhau
Rua João Afonso, 13 (junto ao Rossio)
Tel.: 234 044 045
A Fugas esteve alojada a convite do Hotel das Salinas
- Nome
- Hotel das Salinas
- Local
- Aveiro, Glória, Rua da Liberdade, 10
- Telefone
- 234 404 190
- Website
- hoteldassalinas.com